Ex-secretária acusa Silas Câmara de aparelhar Sejusc para campanha

Por Rosiene Carvalho,  da Redação

 

A ex-secretária executiva da Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania (Sejusc) Ana Regina Paz de Almeida declarou que a pasta, nos dois primeiros meses da gestão Amazonino Mendes (PDT), foi aparelhada “para fins eleitorais” e que o alto escalão do governo e o próprio governador tiveram conhecimento dos fatos.

As informações constam na carta de demissão e em documentos apresentados ao Gabinete do Governador e à Casa Civil, entre 21 de novembro de 2017 e 4 de janeiro de 2018, e em declarações que Ana Regina Almeida fez ao BNC e outros veículos da mídia, após a exoneração.

“Eles usaram a estrutura  federal com o cadastro dos pescadores (no INSS). Depois foram para Sejusc e usavam para colar na imagem deles”, declarou Ana Regina.

A ex-secretária afirmou que, nos últimos meses, ilegalidades foram cometidas dentro da Sejusc com o objetivo de apoiar a pré-campanha do deputado federal Silas Câmara (PRB) e do aliado dele, indicando como secretário Clizares Doalcei Silva da Santana.

Ana Regina diz  ter sido perseguida de forma “luciferiana” pelos aliados da igreja Assembleia de Deus em razão de não se permitir cooptar pelo grupo.

Clizares Santana e Ana Regina tiveram as exonerações publicadas na semana passada no Diário Oficial do Estado (DOE).

Ana Regina informou que entregou documentos e o mesmo diagnóstico que fez ao Governo do Estado e ao Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM).

O último documento, em que aponta problemas na Sejusc ao Governo, foi a carta de exoneração, no dia 4 de janeiro. Nela, Ana Regina faz um resumo do diagnóstico dos problemas da Sejusc e cita todos os que já tinham conhecimento dos fatos, segundo ela com provas, e nada fizeram antes de sua exoneração: o governador Amazonino Mendes, o ex-chefe da Casa Civil Sidney Leite (Pros) e o controlador geral do Estado Arthur César Zaluth Lins, nomeado como uma espécie de interventor na Sejus após a saída de Clizares.

“Foi protocolado junto ao chefe da Casa Civil do Governo do Amazonas, Sidney Leite,  diagnóstico da situação ali encontrada, onde ficou evidenciado o aparelhamento da Sejusc para fins eleitorais (21/11/2017). A partir do dia 22/11/2017, via aplicativo de mensagens eletrônicas, o Controlador Geral do Estado passou a ser sistematicamente informado de todos os fatos aqui relatados. Em 05/12/2017, petição foi dirigida a V. Exa. comunicando a usurpação de competência do Chefe do Executivo, por ato do titular da Sejusc”, relata a ex-secretária em trecho de sua carta de demissão protocolizada no dia 4 de janeiro.

Em um dos documentos e em entrevista ao BNC, Ana Regina afirma que, em comunicado ao  governador sobre os problemas da Sejusc, foi orientada a “esperar” e “ficar calada”.

A ex-secretária diz que “periodicamente compareceu à Casa Civil para acompanhar a evolução dos fatos, o que lamentavelmente, só agravou”.

Na carta de demissão diz que não podia suportar sozinha a “prometeica situação” e, por isso, pedia exoneração do cargo.

Irregularidades administrativas

Segundo Ana Regina Almeida, a Sejusc, no período em que o pupilo de Silas Câmara esteve na Sejusc, vários desvios administrativos foram cometidos, entre os quais cita: nomeação de parentes, de membros da Igreja Assembleia de Deus e denuncia atuação de pessoas na secretaria que sequer estavam nomeadas como funcionárias do Estado.

Um deles, segundo a ex-secretária, Eduardo Lucas Silva, foi exonerado antes dela assumir como sucessora no cargo dele, mas continuou mandando na pasta com o aval de Clizares Santana.

A ex-secretária diz que eventos públicos foram usados para projetar pré-candidatos em 2018 sem políticas públicas adequadas e planejadas para a promoção da cidadania.

Além disso, a ex-secretária afirma que o tradicional evento “casamento coletivo” foi suspenso porque ela, como secretária executiva, defendeu que a programação incluísse casamento de pessoas do mesmo gênero como garante o Supremo Tribunal Federal (STF).

“A secretaria é de cidadania e o estado é laico. Temos que seguir a Constituição e não a Bíblia”, disse.

Ana Regina disse que, como retaliação às negativas dela em agir conforme o grupo político que se instalou na Sejusc, o organograma da pasta foi alterado para retirar de suas mãos todos os poderes e funcionários.

Ana Regina diz que só não foi exonerada sumariamente por Clizares porque a nomeação dela foi feita pela Casa Civil justamente como forma de diagnosticar os problemas na Sejusc.

Perseguições “luciferianas”

A ex-secretária também afirma ter sido vítima de perseguição pelos aliados de Silas por não ter  sido cooptada pelo grupo e diz ter sofrido constrangimentos e ameaças à sua integridade física por membros da igreja Assembleia de Deus nos corredores da Sejusc.

“Disseram que quem mandava lá era o Silas, que eu era corajosa. Chegaram a dar passes evangélicos e mim, o que eu achei um desrespeito dentro de uma repartição pública”,  relatou.

Barco Pai

De acordo com a ex-secretária, um dos exemplos das irregularidades da Sejusc é o desvio dos objetivos de dois contratos que custam R$ 13,350 milhões aos cofres do Estado, relacionados ao programa lançado no Governo José Melo (Pros) chamado “Barco Pai”.

A empresa deveria prestar serviços de “gestão náutica, com armação  e  tripulação, alimentação, sistema de comunicação de banda larga via satélite e manutenção preventiva de três embarcações”. Esses veículos deveriam levar ao interior do Estado serviços semelhantes aos que deveriam ser prestados pelos Pronto Atendimento ao Cidadão (PACs) em Manaus.

De acordo com Ana Regina, o serviço está suspenso e o material do barco é usado com frequência em campanhas de rua em Manaus sem planejamento e sem efeitos a longo prazo que tinham como verdadeiro objetivo, segundo a ex-secretária, promover a imagem do “pré-candidato” Clizares em Manaus, onde não é conhecido.

A empresa Juruá Estaleiro e Navegação LTDA foi contratada ainda no Governo Melo por um período de 12 meses. Um dos contratos foi assinado em março e o outro em abril do ano passado.

“Pegam todo mundo para panfletar, para encher o PAC de gente para o secretário tirar foto. Pegam material dos barcos. Não podem ficar passeando com isso assim. Tinha que ser planejado. Como vou dar uma festa na minha casa sem antes arrumar a casa?”, questionou a ex-secretária.

Histórico

Ana Regina, que  foi exonerada no mesmo dia que o ex-titular da pasta e aliado de Silas Câmara, Clizares Doalcei Silva da  Santana, era funcionária pública comissionada na Casa Civil desde a gestão do ex-governador Omar Aziz.

Trabalhou na gestão do ex-chefe da Casa Civil, Raul Zaidan, afastado do serviço público desde a gestão do  governador José Melo (Pros), ambos investigados pelas operações da Polícia Federal Custo Político e Estado de Emergência.

A  ex-secretária é mulher do procurador de  Contas Carlos Alberto Almeida e mãe do defensor público Carlos Alberto Almeida Filho.

Ela disse que, após sua exoneração, pessoas ligadas a Clizares e Silas Câmara fizeram circular de forma apócrifa acusações de que ela teria sido funcionária fantasma na secretaria tentando atingir a imagem do marido e do filho dela.

“Tive que usar  os documentos para me defender”, justificou.

 

Foto: Deputado federal Silas Câmara e ex-secretário da Sejus Clizares Santana e presidente nacional do PRB Marcos Pereira/Reprodução Facebook/Clizares Santana

Compartilhe nas Redes

últimas noticias