Alunos do AM vão às ruas para manter ‘Futebol Americano nas Escolas’

Atualmente, para manter o projeto ativo, os organizadores explicam que, juntamente com os alunos, precisam pedir dinheiro em semáforos de Manaus

Manaus – O projeto “Futebol Americano nas Escolas’’, criado em 2016 pelo professor Girleno Barbosa, busca aproximar o esporte de alunos da rede pública de ensino em Manaus, desde o ensino fundamental até o médio. O profissional explica que o projeto surgiu com o intuito de oferecer algo de diferente aos estudantes das unidades de ensino público, com foco em áreas com altos índices de vulnerabilidade.

Para o idealizador, a iniciativa vai além do âmbito esportivo. ‘’O projeto, por meio da prática esportiva, vem abrindo outras portas com atividades educacionais. Reforço que não queremos apenas que nossos alunos sejam atletas de futebol americano. Queremos que os mesmos sejam pessoas capazes de mudarem suas realidades, vencendo dificuldades’’, destacou.

Os treinos ocorrem nos bairros Cidade Nova e Jorge Teixeira
Os treinos ocorrem nos bairros Cidade Nova e Jorge Teixeira | Foto: Divulgação

Para Barbosa, o projeto vem colhendo os frutos desde 2016. “Hoje, somos os atuais representantes do parlamento Juvenil Mercosul. Já ganhamos o Parlamento Jovem Brasileiro e vencemos o prêmio ‘Criativos da Escola’. Também fomos destaque no prêmio professores do Brasil’’, comentou.

A ideia também atraiu frutos fora do campo. “Recentemente tínhamos seis estudantes como parlamentares jovens estaduais. Ou seja, não é apenas o futebol americano. Essa prática serve como uma ferramenta de aproximação.

Seguimos na ideologia de que: o quê nos une, sempre será mais forte do que aquilo que nos separa

Girleno Barbosa, professor

Dificuldades

Os membros buscam gerar recursos para o projeto, por meio de inciativas alternativas
Os membros buscam gerar recursos para o projeto, por meio de inciativas alternativas | Foto: Divulgação

Apesar de todo o esforço dos organizadores, ainda assim existem pedras no caminho, que eles buscam driblar como um wide-receiver desvia de um defensor. ‘’Nossa maior dificuldade é o apoio financeiro. Infelizmente, é bem complicado mantermos o projeto sem recurso. Nossa maior demanda são equipamentos, precisamos ter material adequado, além disso, atualmente, temos que ir para o sinal para arrecadarmos dinheiro’’, disse Barbosa.

Mesmo com todas as dificuldades, a iniciativa segue em largo crescimento. ‘’O projeto vem crescendo e a cada ano tendo novos jovens. Muitos destes já estão na faculdade. Nosso sonho é mantermos o projeto sem precisar está indo para o sinal. Mas, é assim mesmo, se fosse fácil todo mundo faria. Seguimos em nossa missão’’, argumentou o idealizador.

Girleno faz uma reflexão acerca do trabalho realizado. “Observe bem essa conta: Nós não conseguimos R$ 1 mil para cuidar de 100 jovens. Contudo, se apenas um for parar atrás das grades custará R$ 4 mil por mês para se tornar uma pessoa pior. Tudo isso é complicado’’, analisa o professor.

O treinador

Equipes se reúnem para praticar a modalidade
Equipes se reúnem para praticar a modalidade | Foto: Divulgação

Para o treinador do elenco, Girleno Barbosa Filho, a experiência com projeto casou perfeitamente com a profissão escolhida, no caso a Educação Física. ‘’A importância do projeto na minha vida profissional é de suma importância, pois estou convivendo com os alunos, jogadores de diferentes faixas etárias e níveis sociais, e lidar com isso é algo que requer muita responsabilidade. No projeto, questões como nível social, educação e situação econômica dos alunos e jogadores, se tornam indiferentes dentro do campo, então é uma experiência bastante válida e grandiosa’’, refletiu o treinador.

Ele ressalta que a prática de esportes serve como auxílio para manter os alunos do projeto longe da criminalidade. ‘’Temos como finalidade ocupar o tempo dos meninos para que pratiquem esporte e estejam no convívio de boas pessoas, outros alunos, professores e pais, de modo que fiquem longe de coisas ruins – que estão pelos arredores, principalmente as drogas e o mundo da criminalidade’’, disse Junior.

Dentro de campo, todos somos iguais – sem diferenças e nem preferências

Girleno Barbosa Filho, treinador e professor de Educação Física

O projeto conecta o esporte a jovens em áreas de vulnerabilidade
O projeto conecta o esporte a jovens em áreas de vulnerabilidade | Foto: Divulgação

Para Barbosa, o esporte é uma parte do projeto, não sendo a única prioridade. ‘’A criação do projeto não é de somente praticar o esporte em si, mas de tentarmos melhorar e mudar a vida dos alunos e envolvidos, por meios de diversos outros projetos educacionais, ambientais e esportivos”, comentou.

O treinador enfatiza que a iniciativa vem crescendo constantemente, com planos próximos de evolução. ‘’Os próximos passos do nosso projeto estão vinculados à criação de um Instituto. Por meio dele, teremos outras ferramentas de inclusão com os alunos e a comunidade, além de divulgar em mais escolas, bairros e comunidades e até outros estados brasileiros’’, argumentou Barbosa, enfatizando sobre a expansão do projeto.

‘’Frequentemente recebemos mensagens em nossas redes sociais de representantes comunitários e escolas de outros estados, que gostariam de fazer parcerias com o nosso projeto. O intuito deles é que a parceria seja desenvolvida também nessas cidades, além de apresentarmos as formas de como iniciar e implementar em escolas e comunidades dessas regiões, o que é gratificante’’, finalizou Júnior.

Os alunos

A iniciativa visita escolas em áreas de risco, realizando o contato do esporte com as mesmas
A iniciativa visita escolas em áreas de risco, realizando o contato do esporte com as mesmas | Foto: Divulgação

Para Jeanne Thayná dos Santos Pereira, de 20 anos, é gratificante poder fazer parte do projeto. ‘’A iniciativa já trabalhou com crianças, mas hoje envolve somente adolescentes. Ao longo dele, muitos rapazes já chegaram e agradeceram por estarem praticando conosco, dizendo que representamos mudanças na vida deles, tirando-os do caminho da criminalidade e lhes dando um futuro. Então, é gratificante fazer parte de um projeto social, que muda a vida de muitos alunos e pais e incentiva a união de todos’’, comentou ela. 

Pereira comenta que, durante o tempo no projeto, apenas coisas boas chegaram até ela. ‘’Estou no projeto há quase quatro anos, e foi incrível conhecer esse esporte ainda no ensino médio, podendo praticar algum esporte. Hoje em dia, é maravilhoso demais para mim. Sugiro a todos que realizem qualquer atividade física, sempre que possível’’, destacou a aluna.

Para Matheus Santos, a oportunidade que o projeto oferece é ótima aos jovens. ‘’O projeto é muito importante para nós, adolescentes, podermos ter novas experiências. Um ponto bem legal do projeto é que muitos dos participantes já sonhavam em um dia jogar futebol americano, mas não tinham essa oportunidade, e isso o projeto forneceu’’, comentou ele.

Para o aluno, além do lado do atleta, o esporte também trouxe ótimas experiências. ‘’O projeto melhorou a minha vida. Com ele tive como aprender a me controlar e ser mais social, pois antes eu era muito agressivo. Mesmo com o esporte sendo agressivo, aprendi a me controlar, pelo fato das regras do jogo’’, refletiu.

Além do esporte, a inciativa também tenta ensinar sobre a vida aos jovens
Além do esporte, a inciativa também tenta ensinar sobre a vida aos jovens | Foto: Divulgação

O jovem termina refletindo sobre as portas que o projeto abriu. ‘’Eu sempre quis jogar, mas nunca tive a oportunidade. O professor Girleno trouxe essa oportunidade para minha vida, e é uma iniciativa muito maravilhosa, sem sombra de dúvidas’’, finalizou. 

Para Gabriele Oliveira Araujo, além do conhecimento sobre o esporte, existem outras missões dentro do projeto. ‘’O intuito do projeto nunca foi só ensinar futebol americano para os jovens e adolescentes, mas sim formar bons cidadãos, aprender a modalidade é apenas uma consequência de tal ato’’, frisou ela.

Araujo comentou sobre os ganhos que o projeto trouxe para a vida pessoal, além do lado esportivo. “Antes de conhecer o projeto, eu era sedentária e tinha problema na coluna, algo que melhorou muito depois que comecei a praticar o esporte. Além disso, somos instruídos a sermos pessoas melhores, responsáveis, e isso faz uma grande diferença na vida de todos nós’’, comentou Oliveira

Gabriele comenta também sobre o processo terapêutico que o projeto teve sobre ela. “A iniciativa é maravilhosa. Tenho certeza que mudou a vida de muitos, assim como a minha. O meio social é muito importante para pessoas com problemas psicológicos e que também não gostam muito de se socializar, e eu encontrei tudo isso lá – o que me ajudou muito’’, finalizou ela.

Treinamento

Campo de treinamento da equipe, que realiza treinos às quartas e aos domingos
Campo de treinamento da equipe, que realiza treinos às quartas e aos domingos | Foto: Divulgação

Os treinos ocorrem todas às quartas-feiras, às 18h, no campo do André Araújo, localizado próximo ao Terminal 3, no bairro Cidade Nova, Zona Norte de Manaus, e aos domingos no campo do Sest Senat, às 9h, próximo à Feira do Produtor, situada na avenida Autaz Mirim, bairro Jorge Teixeira, Zona Leste de Manaus.

Edição: Isac Sharlon

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