Xan Marçall, artista paraense , natural de Belém, é um dos destaques na exposição “Encantadas – Brazilian Transcendental Arts“, que iniciou no dia 12 de março, em Berlim, na Alemanha.
Ela apresenta o filme “Sob a Terra do Encoberto“, que é uma obra experimental, misturando documentário e ficção e traz histórias de pessoas trans marcadas pelo território geográfico da região Norte e Nordeste.
O longa faz parte de plataforma curatorial sobre processos de transmigrações e transancestralidades, a partir das duas regiões do Brasil.
A exposição levou diversas artistas nortistas e nordestinas a Berlim. Xan Marçall foi uma das artistas da Amazônia convidadas pela curadoria para escrever e dirigir o filme, em co-autoria com a pernambucana Libra.
“O filme é uma cartografia sobre as transcestralidades no Norte e Nordeste do Brasil, em que poesia, espiritualidade, política, educação, ativismo e cosmovisões afro-indigenas são fundamentos nos processos existenciais, identitários de pessoas trans/travestis nesses territórios”, explica Xan.
“Sob a Terra do Encoberto“ é o primeiro longa-metragem de Xan Marçall. Atriz e professora de formação, estreou no cinema através de “IAUARAETE“, um curta metragem lançado em 2020, que recebeu dois prêmios em festivais internacionais: prêmio Elke Maravilha de melhor atriz de curta-metragem no 14º Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual For Rainbow e 17º Festival Internacional Panorama Coisa de Cinema na categoria Melhor Direção de Arte.
Xan comemora a visibilidade às pessoas trans amazônidas e destaca a falta de oportunidade e incentivo à formação em cinema para artistas T.
“Existe um movimento independente e articulado de pessoas trans e travestis no cinema, que tem movimentado a cena audiovisual no Brasil. No entanto, a presença de trans e travestis amazônidas ainda é extremamente insignificante – não menos poderosa e inventiva. No Norte, temos problemas sérios de acesso à formação no cinema para pessoas T, pois fazer cinema no Brasil é caro. A grande realidade é que não temos dinheiro para pagar essas oportunidades. Então, em especial, nós, travestis e pessoas trans da Amazônia, temos feito um trabalho precursor no cinema“, conclui.
A previsão para lançamento de “Sob a Terra do Encoberto“ no Brasil é para o segundo semestre de 2022.
Sobre a artista
Xan Di Alexandria de Oliveira Moura, conhecida artisticamente como Xan Marçall, nasceu em Belém e reside há um ano em Salvaterra, na Ilha do Marajó.
No ramo da arte, iniciou no teatro ainda na adolescência na Casa da Linguagem e trabalhou com nomes da cena paraense, como Wlad Lima e Cláudio Barros. Com 20 anos de carreira no teatro, Xan destaca como referências artísticas, o coreógrafo Ronal Bergman, a atriz Nilza Maria, as mestras contadoras de histórias de Belém e o Grupo In Bust de Teatro.
A experiência no cinema tem sido uma nova forma de se comunicar e memorizar histórias para Xan. Diferente do teatro vivo, feito pontualmente, no cinema, ela destaca a oportunidade de se continuar após essa vida.
“Penso que se trata de uma memória sobre uma ‘arte transgênera’ produzida em Belém, no Pará, na Amazônia. Entendendo a memória como uma ação que, ao mesmo tempo, preserva e conserva a produção de uma artista travesti na Amazônia ao modo amazônico, que insiste por uma poética cabocla, ribeirinha, negra e indígena, em suas particularidades e complexidades“, diz.
Fonte: Portal Baré