Instituição afirmou que situação é reversível, desde que medidas de proteção e isolamento voltem a ser cumpridas.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirmou que o aumento nos números da Covid-19 em Manaus apresenta “níveis atuais acima do esperado”, em nota técnica divulgada nessa terça-feira (29). A instituição afirmou que a situação é reversível, desde que medidas de proteção e isolamento voltem a ser cumpridas.
A primeira onda da Covid-19 no Amazonas ocorreu entre os meses de abril e maio, quando os sistemas de saúde e funerário entraram em colapso na capital. Após quatro meses de flexibilização, o governo voltou a entrar em alerta por conta da doença e decidiu fechar bares, praias e balneários.
Uma pesquisa da Fiocruz indicou que Manaus vive uma segunda onda da doença e sugeriu lockdown (bloqueio total de circulação de pessoas) para conter avanço, medida já descartada pelo governo. Até essa terça, o Amazonas registrava mais de 137 mil casos, com mais de 4 mil mortes pela Covid-19.
Conforme a nota técnica da Fiocruz, a partir da segunda quinzena de abril, foi observada uma redução gradativa no número de novos casos semanais da Covid-19, que se manteve até o final de julho. Desde então, os registros passaram a oscilar em torno de casos por 100 mil habitante no estado e na capital, o que é considerado elevado, segundo a instituição.
A partir da semana epidemiológica 34 – entre os dias 16 e 22 de agosto – foi observada uma retomada de crescimento nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no estado. A tendência, conforme o documento, é influenciada por registros de Manaus, onde se mantém desde a semana 33 – entre 9 de agosto e 15 de agosto.
“Em ambos os casos, esse crescimento ainda é relativamente lento, porém persistente, o que sugere a necessidade de reavaliação de eventuais medidas de flexibilização do distanciamento físico já adotadas ou planejadas para as próximas semanas”, diz.
Houve aumento de 50% no número de casos notificados de Covid-19 em Manaus, nas últimas duas semanas. Segundo a Fiocruz, o aumento acontece por conta de interrupções no fluxo de dados e na exposição de grupos populacionais que se encontravam protegidos até então.
Outro indicador apontado pela instituição que confirma essa tendência de aumento é a taxa de ocupação de leitos direcionados ao atendimento de pacientes com Covid-19, que chegou a atingir 25% e que atualmente atinge mais de 60% dos leitos disponíveis para a doença.
“Cabe ainda ressaltar que o estado do Amazonas vem apresentando um atraso na notificação de casos de cerca de 19 dias em relação à data de início dos sintomas da doença e que possíveis variações na exposição e adoecimento no presente, somente poderão ser avaliadas nas próximas semanas”, ressalta a nota.
A Fiocruz apontou que a situação vivenciada no Amazonas, em particular na capital, é reversível e recomendou as seguintes medidas:
- implementação/implantação de medidas que visem a diminuição dos contatos entre as pessoas;
- o reforço das medidas de proteção individual e coletiva;
- aumento na capacidade da testagem de casos suspeitos e contatos;
- o aumento da sensibilidade da vigilância epidemiológica local com ampliação da captação de suspeitos através da demanda passiva e busca ativa de casos, identificar e testar contatos, constituindo as cadeias de transmissão;
Neste cenário, conforme a Fiocruz, flexibilizar as medidas de distanciamento social e de controle da pandemia nos municípios com situação mais crítica coloca em risco não só os mesmos, mas também o seu entorno, tanto pela facilitação da difusão do vírus em direção do interior, quanto pela produção de uma demanda extra de serviços de saúde, que recairão sobre a capital.
“Além disso, temos que considerar que muitas das medidas de distanciamento social não foram integralmente adotadas em todo estado e no nível intramunicipal, de modo que sua diminuição ou flexibilização pode alterar as tendências atuais, fazendo novamente a transmissão recrudescer num curto espaço de tempo”, afirma.
A nota técnica foi elaborada pelo Observatório Covid-19 Fiocruz e pela Fiocruz Amazônia. O Observatório divulga boletins quinzenais sobre a situação epidemiológica dos estados, com dados integrados de diversos sistemas de monitoramento.
Da flexibilização ao fechamento no AM
Quatro meses após flexibilizar a quarentena, o Governo voltou a adotar medidas de restrição para impedir a circulação da Covid-19. Dentre as mudanças, decretadas no dia 24, bares e balneários no estado voltaram a ser proibidos de atender ao público.
O Amazonas viveu a primeira onda de Covid-19 entre os meses de abril e maio, quando o sistema público de saúde da capital entrou em colapso. Na época, o número de mortes em Manaus ficou mais de 100% acima da média histórica.
No dia 1º de junho, o governo começou a flexibilizar a quarentena, considerando a queda no número de internações por Covid-19. O decreto permitiu o retorno do comércio não essencial, por meio de quatro ciclos.
O quatro ciclo, iniciado em 6 de julho, incluiu autorização para funcionamento de bares e flutuantes. A partir do dia 27 de julho, também foi permitida a abertura de atividades de lazer, esporte e cultura no estado.
As escolas de Manaus foram as primeiras do País a reabrirem as portas. As unidades da rede privada voltaram para cerca de 60 mil alunos no dia 6 de julho, e escolas da rede estadual de ensino voltaram com as aulas presenciais para cerca de 110 mil alunos do ensino médio, apenas na capital, em agosto. Nesta quarta (30), cerca de 111 mil estudantes do ensino fundamental da rede estadual de ensino também voltaram às escolas.
Com a flexibilização da quarentena, Manaus passou a ter dias e noites com registros de aglomerações em diversos pontos. No dia 11, em coletiva de imprensa, o governo informou que registrou “desaceleração” na redução dos casos em Manaus, e apontou que aglomerações eram responsáveis pelo aumento de casos. A rede privada de saúde registrou alta no número de internações.