Opinião de Cielo é questionada, mas o nadador afirma que não fez críticas a Manaus

Cielo disse à revista Veja que colocar em Manaus uma piscina utilizada nas Olimpíadas seria como “usar uma Ferrari num campeonato de rali”

Jéssica SantosManaus (AM)

“Será que eles precisavam mesmo de um equipamento tão sofisticado? Com todo o respeito, é o mesmo que usar uma Ferrari num campeonato de rali”. Esta foi a polêmica declaração que o campeão olímpico, César Cielo, deu à revista Veja, desta semana, sobre a vinda de uma das piscinas utilizadas nas Olimpíadas 2016, para Manaus.

Sempre admirado por desportistas e apaixonados por esporte em Manaus e no Brasil, Cielo questionou a importância da piscina para o Amazonas, disse que queria levar uma das piscinas usadas nas Olimpíadas para o seu projeto social em Santa Bárbara d’Oeste e, por tudo isso, causou o descontentamento dos amazonenses.

Para o presidente da Federação Amazonense de Desportos Aquáticos, Vítor Façanha, as afirmações de Cielo não fazem sentido.

“Por que o Ministério do Esporte vai deixar de atender ao maior Estado do Brasil para atender a um projeto social particular do campeão olímpico, César Cielo? Acho que isso não tem nem graça, ele compara Manaus a uma pista de rali, como se não tivessem, aqui, atletas de ponta, técnicos com conhecimento suficiente para revelar atletas, e eu digo que tirando César Cielo, em Santa Bárbara do Oeste, nós revelamos, no nosso Estado, muito mais atletas de ponta, de Seleção brasileira e campeões brasileiros do que em Santa Bárbara do Oeste, com todo o respeito”, disse Vítor, ressaltando que o Amazonas também teve um atleta olímpico nas piscinas, Eduardo Piccinini, em Barcelona – 1992, além de ter tido, também, a atleta paralímpica, Valéria Santarém, em 2008.

Na mesma entrevista da Veja, Cielo também disse que a piscina está vindo preencher um buraco que estava esperando por uma estrutura desde 2008, quando, na verdade, a piscina da Vila Olímpica só fechou em 2015.

“Em 2008, ele veio a Manaus bancado pelo Estado do Amazonas para reinaugurar o parque aquático. Na verdade, a piscina fechou em agosto de 2015. Foi nesse buraco que ele está dizendo aí, que nós revelamos os nossos nadadores”, afirma Vítor Façanha.

Destaque da história natação amazonense, Jefferson Mascarenhas, não discorda de tudo que Cielo disse.

“Ele não precisava ser irônico, porém, ele não deixou de falar uma verdade. Manaus não tem nenhuma estrutura, nossos atletas estão muito longe dos da seleção brasileira. A piscina olímpica foi doada, muito legal, mas eu preferiria que fossem construídas 10 piscinas semi-olímpicas na cidade para que vários professores pudessem trabalhar, porque  os clubes brigam para ter espaço infelizmente”, disse Mascarenhas.

Fabrício Lima, ex-Secretário de Estado da Juventude, Desporto e Lazer (Sejel), foi quem fez a solicitação da piscina junto ao Ministério dos Esportes, e falou sobre a importância dela para o Amazonas.

“Achei uma colocação infeliz do Cielo porque o Brasil é uma coisa só. Sabemos que o que falta para nossos atletas, muitas vezes, é oportunidade para desenvolver, e eles terão isso com a piscina que está chegando. Torço que dê tudo certo porque com a piscina a natação poderá trazer competições nacionais, internacionais, fazer intercâmbios, trazer atletas. Aliás, essa piscina não é somente para Manaus, mas para a região norte inteira”, destacou ele.

Janaína Chagas, atual secretária de Estado da Juventude, Desporto e Lazer (Sejel), também se manifestou sobre a declaração de Cielo.

“A declaração foi totalmente infeliz. Ter a piscina dos Jogos do Rio, sofisticada e de nível internacional, na Vila Olímpica de Manaus, significa de fato o retorno da prática em alto rendimento dos esportes aquáticos no Amazonas. Essa piscina vai beneficiar mais de 1200 atletas. Nosso Estado terá uma estrutura incrível para treinar e aperfeiçoar e descobrir novos talentos. A Sejel aproveita para convidá-lo para mergulhar e nos honrar com sua presença na inauguração da piscina olímpica e do parque aquático que está sendo construído em Manaus”, disse.

Após o convite, Cielo enviou uma carta oficial, em que esclarece que não criticou o Estado, e também explica quais são suas reais críticas. Além disso, Cielo também, aceitou o convite da Sejel de vir a Manaus novamente: “Será um prazer poder participar da inauguração da piscina olímpica e do parque olímpico!”.

A resposta de Cielo

Após as críticas recebidas com a publicação da reportagem, César Cielo enviou uma carta para a Secretaria do Estado da Juventude, Esporte e Lazer, em que afirma, entre outras coisas, não ter criticado Manaus.

“Não fiz nenhuma crítica à cidade de Manaus, ao Estado do Amazonas e muito menos aos atletas e pessoas que vivem no norte do nosso país. Acredito em respeito e acredito que todos nós brasileiros somos merecedores das estruturas olímpicas, pois elas foram pagas com os nossos impostos, que pagamos com tanto esforço. Critiquei a forma de como o governo cuidou e cuida do legado olímpico”, afirmou ele.

Piscina Olímpica

No início de outubro, após o Amazonas quase perder definitivamente a piscina olímpica da Rio 2016, doada ao Estado, a Sejel, em uma ação conjunta com a Caixa Econômica, a Seinfra e o Ministério do Esporte, conseguiu a legalização do processo e a definição de um novo cronograma de obras.

De responsabilidade da construtora Vitória Régia, a obra deve ser finalizada na segunda quinzena de fevereiro de 2018. Após a conclusão, iniciará a montagem da piscina, que será feita pela empresa Myrtha Pools. A previsão é que o processo todo dure no máximo três meses. A piscina deve chegar a Manaus no final de fevereiro de 2018.

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