Pouco mais de um mês após a inauguração, a “Ycamiabas – Casa de Acolhimento para Mulheres”, na zona Sul, já se consolida como um dos mais importantes equipamentos socioassistenciais da capital amazonense no atendimento 24 horas a mulheres vítimas de violência. Administrada pela Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc), a Ycamiabas é responsável por fornecer abrigo e atendimento psicossocial para mulheres e seus filhos que se encontram em situação de violência ou vulnerabilidade social.
Desde o início dos trabalhos, o equipamento, que possui seis dormitórios para receber até 30 pessoas em suas dependências, já acolheu e encaminhou a outros serviços da rede de apoio 12 mulheres e 27 crianças e adolescentes ao longo do último mês.
“O trabalho da Ycamiabas para o município de Manaus é de suma importância, pois atendemos dois tipos de perfis que muitas vezes são considerados um só, que são as mulheres vítimas de violência e as mulheres em estado de vulnerabilidade social. São situações diferentes e que requerem atendimentos diferentes, e é exatamente isso que buscamos ofertar aqui”, explicou a coordenadora do equipamento, Gessilvia Lima.
Iniciado o processo de acolhimento, tanto as mulheres atendidas quanto seus filhos são recebidos por uma equipe multidisciplinar composta por assistentes sociais, psicólogas e pedagogas para que o devido apoio seja prestado durante o período em que a família se encontrará no equipamento.
Processo de acolhimento
O abrigo temporário fornecido pela Ycamiabas tem duração de até 90 dias, variando de acordo com a gravidade de cada caso recebido. O atendimento é realizado somente por meio de encaminhamentos expedidos por outros equipamentos e instituições da Rede de Atendimento à Mulher, como delegacias, varas especializadas no combate à violência doméstica e familiar e Organizações da Sociedade Civil (OSCs).
O público-alvo é composto por mulheres, a partir dos 18 anos de idade, que se encontrem em situação de extrema vulnerabilidade e/ou em situação de violência baseada em gênero, mas que não estejam sob risco iminente de morte.
“Uma vez acolhida, essa mulher passa a ser atendida por nossa equipe técnica, que realiza um trabalho fundamental na identificação de quais encaminhamentos serão necessários para viabilizar a sua saída segura do abrigo. Buscamos ainda, no período em que elas se encontram aqui, empoderar essas mulheres para que elas possam entender o seu valor e entender que são cidadãs detentoras de direitos”, finalizou Gessilvia.
Trabalho que salva e muda vidas
Com uma filha de dois anos sob sua responsabilidade em um ambiente altamente violento e ainda em uma situação de extrema vulnerabilidade social, a senhora O. S. T., de 47 anos, chegou à Ycamiabas por meio de encaminhamento da Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher.
Há pouco mais de um mês vivendo no acolhimento, hoje, ela e sua filha vivem um momento de esperança. “É como um sonho, né? As meninas do equipamento se juntaram para pagar um tratamento para os meus dentes. Quando minha filha chegou aqui, doente, elas se juntaram para me ajudar a comprar os remédios. É uma equipe nota dez, como uma família mesmo. Eu não tenho palavras o suficiente para agradecer”.
Para a supervisora técnica da Ycamiabas, Simone Menezes, ainda que emocionalmente difícil para todos os envolvidos, o trabalho realizado pelo equipamento é um trabalho que faz valer a pena todo o esforço e carinho depositado nele.
“Como mulheres, nos colocamos no lugar delas, é impossível não se envolver com a história de vida de cada e nos imaginarmos nessas situações. É uma coisa que dói, que faz com que nos identifiquemos umas com as outras, mas que também nos motiva a dar as mãos e falar para elas que vamos lutar e fazer o possível e o impossível para mudar sua vida”, afirmou.
Sobre as Ycamiabas
As Ycamiabas eram uma tribo de mulheres guerreiras descrita em relatos e lendas durante o período colonial da América do Sul. Segundo essas narrativas, as Ycamiabas viveriam em uma região inexplorada e seriam conhecidas por sua força física, habilidades de combate e pela formação de uma sociedade matriarcal, em que as mulheres detinham o poder político e militar.
Essas histórias foram registradas por viajantes e exploradores europeus, como o alemão Georg Heinrich von Langsdorff e o francês Charles-Marie de La Condamine, no século 18. Esses relatos geralmente descreviam as Ycamiabas como uma tribo de mulheres belas e valentes, que viviam sem a presença de homens.
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Texto – Guilherme Pacheco / Semasc
Fotos – Marcely Gomes / Semasc