Quem usa o WhatsApp para fazer ligações pode não precisar mais acessar o número de celular do destinatário para conseguir fazer a chamada. A empresa testa um sistema para criar logins de identificação únicos para cada usuário.
O aplicativo trabalha ainda para implantar um sistema de busca por nomes, que permitiria que os usuários achassem outras pessoas sem saber os celulares delas. No começo de junho, o WhatsApp lançou os Canais, que indica ser um primeiro passo nessa estratégia. Este novo espaço permite a um administrador enviar mensagens, fotos, vídeos e áudios a um número ilimitado de usuários, mas impede que ele ou os membros do grupo saibam os celulares uns dos outros.
O que está rolando
O sistema em desenvolvimento foi vazado pelo WABetainfo, site que costuma adiantar recursos do WhatsApp, como envio de imagens temporárias e áudios acelerados;
De acordo com a publicação, o WhatsApp testa uma mudança que permitirá usuários entrarem em contato com outras pessoas apenas por meio do login, uma espécie de “@” único;
A ideia da Meta, empresa dona do WhatsApp, é parecida com o que já acontece no Instagram e Messenger, plataformas nas quais basta saber o nome do perfil da pessoa para entrar em contato. O Telegram também já tem essa função, com pesquisa pela “@” do usuário;
Com isso, quando alguém quiser entrar em contato com outra pessoa, bastaria informar o seu nome de usuário, e não mais o número de telefone, garantindo assim que não seja incomodado por outros meios, como SMS ou ligação convencional.
A ferramenta não tem data para entrar em vigor, mas a expectativa, segundo o WABetainfo, é que não seja liberado para todos inicialmente. Em um primeiro momento, chegará apenas para usuários da versão beta do WhatsApp;
Também não há informações se, apesar da nova função, o WhatsApp ainda exigirá o número de telefone para cadastro na plataforma.
O WhatsApp ficaria menos dependente das operadoras?
Apesar da nova função, é temerário afirmar que o WhatsApp ficaria cada vez menos das operadoras de telefonia, mesmo tendo em vista o tamanho da plataforma na vida do brasileiro, entendem especialistas ouvidos por Tilt.
De fato, o Brasil é um mercado atraente para o WhatsApp. É o segundo maior fora da Ásia, com 147 milhões de usuários registrados no país, em 2022, o que corresponde a 54% da América do Sul, mostram os dados mais recentes da Statista, plataforma que oferece relatórios e estatísticas do mercado de tecnologia.
Os números ainda revelam que 99% das pessoas que têm um smartphone possuem o WhatsApp, sendo que 96% são usuários ativos. O segundo mais utilizado é o Telegram, com 60%.
Para Alexandre Faraco, professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e especialista em regulação de mercado de telecomunicações, o WhatsApp não enfrentaria qualquer impedimento legal para implantar a medida no Brasil.
“É igual a qualquer outro app que temos de celular com a mesma função. Não vejo limitação apenas por ser serviço de voz”, frisa.
O professor ainda avalia que a futura nova função do WhatsApp pode, por um lado, tornar irrelevante os serviços de voz das operadoras. Por outro, intensifica a necessidade de dados de internet.
“Eu posso não usar mais o chip para cadastrar no WhatsApp, mas, para acessar na rua, terei que possuir os pacotes de dados da operadora. Não me parece que isso irá revolucionar o mercado.Achoque já existe uma tendência das operadoras de buscarem atrair mais clientes pelo acesso aos dados de banda larga, e não pelas ligações.” Alexandre Faraco, UFPR.
Entendimento semelhante tem Fernando Moulin, professor e especialista em negócios, transformação digital e experiência do cliente. Ele trabalhou por seis anos como líder de Transformações Digitais da Vivo e não vê que a nova função possa impactar o mercado de telefonia.
“As operadoras não vendem mais pacotes com base em voz e SMS, com ligações entre estados e entre operadoras. Isso é coisa de 10 anos atrás. Hoje o mercado é baseado pela oferta de dados. O hábito já mudou, não vejo grande mudança nesse sentido.” Fernando Moulin, especialista em mercado de telefonia e professor da ESPM.
Moulin afirma, porém, que o passo sinaliza uma intenção do WhatsApp para gerenciar melhor os aspectos estratégia “Não acho que o WhatsApp deixará de depender das empresas de telefonia, mas vejo como uma medida para integrar esse login para ter mais gestão da identidade única do cliente”, comenta.
Tilt procurou a Conexis, que representa as empresas de telefonia no Brasil, mas a entidade informou que se manifestará apenas quando o WhatsApp confirmar a nova função na plataforma.
Fonte: Uol