Taxa de desemprego cai ao menor nível desde início de 2015, mostra IBGE

Número absoluto de desocupados teve queda de 5,9% contra o trimestre anterior, chegando a 8,4 milhões de pessoas A taxa de desemprego no Brasil caiu para 7,8% no trimestre terminado em agosto. É o menor nível desde o trimestre encerrado em fevereiro de 2015, quando foi de 7,5%. Ao considerar o período de junho, julho e agosto, foi a taxa mais baixa desde 2014 (7%). O número absoluto de desocupados teve queda de 5,9% contra o trimestre anterior (até junho), chegando a 8,4 milhões de pessoas. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulga mensalmente os dados de mercado de trabalho pelo levantamento Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). A queda de 5,9% na população desocupada corresponde a 528 mil pessoas a menos no trimestre. Em 1 ano, são 1,3 milhão de brasileiros que deixaram de procurar vaga no mercado de trabalho. A taxa de desocupação no trimestre encerrado em agosto (junho, julho e agosto) caiu 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior (de março a maio), quando era de 8,3%. Também recuou 1,1 ponto percentual ante o mesmo trimestre do ano passado, de 8,9%. Destaques da Pnad Contínua: desemprego – a taxa de 7,8% está bem abaixo do nível pré-pandemia, de 11,7%; ocupação – crescimento de 0,6% em 1 ano; força de trabalho – número de pessoas fora da força de trabalho aumentou 3,5% em 1 ano, ou 2,21 milhões de pessoas; população em idade ativa – aumentou 5,6 milhões (+3,3%) desde o início da pandemia, mas a força de trabalho aumentou amenas 1,7 milhão (+1,6%) no período; renda – o rendimento médio dos trabalhores empregados subiu 4,6% na comparação anual. SUBUTILIZAÇÃO A taxa de subutilização caiu para 17,7% no trimestre encerrado em agosto, ante 18,2% do trimestre anterior e 20,5% do ano anterior. O percentual registrado é o menor desde o trimestre encerrado em dezembro de 2015, de 17,4%. É considerado subutilizado quem está desempregado, trabalha menos do que poderia ou não procurou emprego mesmo estando disponível para trabalhar. O número de pessoas subutilizadas foi de 20,2 milhões de pessoas no trimestre. Diminuiu 2,2% em relação ao trimestre anterior e 15,5% em 1 ano. Dentro do grupo de subutilizados há os desalentados, que são aqueles que não procuraram empregos porque não acreditam que vão conseguir. Essa população totalizou 3,5 milhões de brasileiros no trimestre encerrado em agosto. Ficou estável em comparação com o trimestre encerrado em maio. Contra o mesmo período do ano passado, recuou 16,2%, ou 692 mil pessoas a menos. MERCADO DE TRABALHO A população ocupada (99,65 milhões) no trimestre encerrado em agosto atingiu o maior patamar desde o trimestre encerrado em 2022, quando 99,69 milhões brasileiros trabalhavam. Também foi a 3ª maior da série histórica, iniciada em 2012, atrás também do trimestre encerrado em outubro de 2022 (99,66 milhões). A população ocupada cresceu 1,3% no trimestre e 0,6% em 1 ano, o que equivale a um incremento de 1,3 milhão e 641 mil pessoas, respectivamente. O nível da ocupação –que é o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalha– foi estimado em 57%. Aumentou 0,6 ponto percentual ante o trimestre encerrado em maio. Recuou 0,1 ponto percentual em relação ao mesmo período de 2022. O número de empregados com carteira de trabalho no setor privado (excluindo trabalhadores domésticos) foi de 37,25 milhões no trimestre de junho a agosto. Aumentou 1,1% em relação ao trimestre anterior e 3,5% em 1 ano. Também foi o maior contingente de brasileiros desde fevereiro de 2015 (37,29 milhões). Já o número de empregados sem carteira aumentou 2,1% no trimestre e ficou estável no ano. A taxa de informalidade no mercado de trabalho foi de 39,1% da população ocupada, ou 38,9 milhões de informais. Era de 38,9% no trimestre anterior e 39,7% há 1 ano. RENDA O rendimento real habitual foi de R$ 2.947 no trimestre de agosto. Ficou estável ante o trimestre anterior e cresceu 4,6% no ano. A massa de rendimento real habitual (R$ 288,9 bilhões) foi recorde da série histórica, crescendo 2,4% frente ao trimestre anterior e 5,5% na comparação anual. Fonte: Poder360 Fonte

Racismo afasta negros e indígenas da vacinação

  Os motivos que levam uma pessoa a se vacinar ou não são afetados por múltiplos fatores, que cientistas resumiram em cinco letras “C”: a confiança nas vacinas, a conveniência de ir a um posto de vacinação, a complacência com os riscos de não estar protegido, a comunicação de informações claras sobre as vacinas e o contexto sociodemográfico das populações que devem se vacinar. A ativista dos direitos das mulheres negras e fundadora da organização não governamental Criola, Lúcia Xavier, é assertiva em apontar que o racismo pode atrapalhar cada um desses pilares. “População negra é a que vai ser a primeira a ser afetada pela queda das coberturas vacinais”, diz Lúcia Xavier, fundadora da ONG Criola – Tomaz Silva/Agência Brasil “A população negra passa por muitas dificuldades de acesso, aceitação, cuidado e resolutividade no campo da saúde, e a vacinação é central para isso”, afirma. “E a população negra é a que vai ser a primeira a ser afetada pela queda das coberturas vacinais. Não só porque já vive em más condições de saúde, de vida, mas também porque vai estar mais vulnerável a agravos que podem ser controlados ou impedidos a partir da vacinação.” A comunicação, a conveniência do acesso às unidades de saúde e a própria confiança nos profissionais e no sistema são duramente prejudicados quando um usuário sofre racismo ao buscar um serviço de saúde. Uma mulher negra grávida que teve seu pré-natal negligenciado e sofreu violência obstétrica, por exemplo, será a mesma que precisará confiar na saúde pública para cumprir o calendário vacinal de seus filhos. “Um fator importante é o acolhimento, que na verdade se traduz no acesso à informação de qualidade, na aceitação da pessoa como ela é e nas condições que ela apresenta na hora que ela entra na unidade. São as informações nítidas, objetivas e a resolutividade naquilo que vai dar seguimento à sua prevenção, ao seu cuidado ou mesmo a sua cura.” A ativista explica que, muitas vezes, o racismo que afasta a população negra das unidades básicas de saúde, onde as vacinas são aplicadas, não se manifesta de formas tão diretas como agressões físicas e xingamentos, mas, mesmo assim, produz violências que afastam a população de serviços que poderiam salvá-la. “O racismo pode não estar presente em ‘não entra aqui porque você é negro’, mas ele vai estar presente no modo que se recebe a população, na maneira de questionar o seu agravo, na maneira de oferecer ajuda e na maneira de oferecer informação. Então, receberemos menos informação, teremos menos cuidado em relação a nós, e as possibilidades de solução do nosso problema serão postergadas e deixadas para lá”, diz. “Esses maus-tratos vão minando a relação de confiança entre o serviço e o usuário. A pessoa posterga, vai desacreditando que aquele serviço vai dar bom efeito, e nada é bem esclarecido o suficiente para ela compreender”, completa Lúcia Xavier. Ao mesmo tempo, essa mesma população está sujeita, de forma geral, a uma maior taxa de desemprego, a uma maior presença no mercado informal e a jornadas diárias extensas que incluem longos deslocamentos entre a casa e o trabalho. Com postos abertos em horários limitados e profissionais de saúde muitas vezes receosos em abrir frascos de vacinas para imunizar uma única criança perto do fechamento do horário das salas de vacinação, oportunidades são perdidas. Sensibilização Durante 13 anos, a enfermeira Evelyn Plácido foi vacinadora no Parque Indígena do Xingu, na parte mato-grossense da Amazônia. Em contato com os povos indígenas, os relatos de discriminação ao tentar acessar os serviços de saúde eram muitos, lembra ela. “Escutei muitos relatos de indígenas que falavam que procuraram a sala de vacina, mas não foram vacinados porque os profissionais falavam que eles só poderiam tomar vacina na aldeia”, conta ela. “Isso é perder a oportunidade, é negar algo a que eles têm direito. O direito deles é serem vacinados dentro de qualquer unidade de saúde, e, inclusive, nos esquemas específicos previstos para eles.” A população indígena tem um esquema vacinal próprio, com reforço contra doenças que apresentam mais risco de agravamento por contextos sociodemográficos. Para Evelyn, esse é apenas um exemplo da falta de preparo dos profissionais da ponta para acolher diferenças sociais e culturais, o que afasta ainda mais grupos vulnerabilizados da saúde. “Nós temos que trabalhar a competência cultural desses profissionais. Isso é urgente dentro das universidades, porque, trabalhando a competência cultural, eu vou preparar esse profissional para atuar para além das suas questões culturais. Cada indivíduo tem as suas, só que, quando eu me disponho a ser um profissional de saúde, eu vou atender a um público e tenho que estar preparado para atender a todas as pessoas com seus contextos culturais de sociedade”, explica. “Se eu não estiver preparada para isso, eu não consigo acessar e não consigo criar vínculo. E vínculo é confiança. Quando a gente fala de vacina, eu preciso criar esse vínculo. Eu preciso criar essa confiança em todos os públicos.” População indígena tem um esquema vacinal próprio – Rovena Rosa/Arquivo/Agência Brasil Hoje como educadora, a enfermeira trabalha capacitando profissionais de saúde para atuar em regiões de difícil acesso, como terras indígenas. A falta dessa preparação, conta ela, gerou problemas inclusive na pandemia de covid-19, quando a falta de sensibilidade e bagagem cultural impedia que profissionais contabilizassem corretamente a vacinação de populações como a ribeirinha e a quilombola. “A gente teve um desafio muito grande para entender, por exemplo, a cobertura vacinal para covid-19 da população ribeirinha e de quilombos, porque o profissional simplesmente não identificava esse grupo e registrava eles na população geral”, narra ela, que explica que esse problema acontecia mesmo no caso de quilombos oficialmente reconhecidos. “E aí, existiu um esforço muito grande das próprias comunidades, das lideranças dessas populações, para que eles pudessem fazer o seu próprio censo vacinal.” Assim como nesse contexto, ela exalta que a mobilização dessas populações foi o que permitiu construir um Programa Nacional de Imunizações (PNI) e um Sistema Único de Saúde (SUS) de tamanha capilaridade e totalmente gratuito. “Essa mobilização é importantíssima e