Brasil deve recuperar em breve certificado de eliminação do sarampo

O diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, disse neste sábado (9) que o Brasil deve recuperar, nos próximos meses, seu certificado de eliminação do sarampo. A afirmação foi feita durante seminário sobre vacinação na Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro. “O Brasil já se encontra há um ano sem nenhum caso novo diagnosticado, o que nos permite também ter uma esperança muito grande de que, nos próximos meses. a comissão de verificação possa certificar novamente o país”, disse Barbosa. O Brasil recebeu certificado de eliminação do sarampo em 2016 da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas acabou perdendo em 2019, devido a um surto da doença. As Américas foram o primeiro continente a receber um certificado regional de eliminação da doença, mas surtos tanto no Brasil quanto na Venezuela, que também perdeu o documento em 2019, fizeram com que a certificação regional fosse suspensa em 2018, segundo Barbosa. Uma comissão da Opas verificou recentemente que a Venezuela interrompeu a transmissão da doença, faltando apenas o Brasil para que o continente possa novamente ser considerada região livre do sarampo. Cobertura vacinal O sarampo pode ser evitado com a imunização da população. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, que também participou do seminário, afirmou que, desde 2016, o Brasil enfrenta o fenômeno da hesitação vacinal, com campanhas de desinformação que fazem com que a população deixe de buscar a imunização e a cobertura vacinal caia. Segundo ela, no entanto, dados preliminares do Ministério da Saúde, que devem ser divulgados nos próximos dias, mostram que a cobertura vacinal no país voltou a aumentar este ano. “Temos clareza de que muito trabalho há que ser feito”, disse Nísia. “Nós instituímos uma plataforma, Saúde com Ciência, como estratégia de governo, interministerial, para esclarecer à população e também identificar práticas criminosas de desinformação, de disseminação de notícias falsas”. Segundo Jarbas Barbosa, os governos dos diversos países precisam monitorar, todos os dias, e desmistificar boatos que surgem contra as vacinas nas redes sociais. “As desinformações estão praticamente todos os dias nas redes sociais, então uma campanha de esclarecimento anual não tem muito papel. O que temos procurado é estimular os países a ter um monitoramento diário de redes sociais, de não deixar nenhum boato, rumor ou desinformação sem resposta apropriada, porque isso é como uma bola de neve, que vai crescendo. E, sem dúvida nenhuma, que vai fazer com que as pessoas percam a confiança na vacina”, disse ele. Para Barbosa, além de combater as notícias falsas, é preciso adotar outras medidas para ampliar o alcance da vacinação, como sensibilizar os profissionais de saúde, monitorar as coberturas vacinais e ampliar a oferta em alguns lugares. O diretor cita, por exemplo, a dificuldade de vacinar crianças em áreas violentas das grandes cidades. Ele destaca que é preciso ampliar o horário de atendimento em postos de vacinação, de modo que fique mais fácil para os trabalhadores levar os filhos para serem imunizados. Assim é possível evitar áreas de pouca imunização. “Precisamos identificar [a cobertura vacinal] bairro por bairro e não trabalhar com a média de cobertura de uma cidade. A média de cobertura de uma cidade como o Rio de Janeiro não nos conta nada. A média pode ser adequada, mas temos em várias áreas uma cobertura muito baixa. Então, precisamos ter novos sistemas  analisar os dados, identificar as barreiras [para a vacinação] e adotar estratégias para superar essas barreiras”.  Fonte

Presidente da Guiana diz em rede social que não é contra conversas

O presidente da Guiana, Irfaan Ali, afirmou, neste sábado (9), que não se opõe a conversas ou reuniões sobre a tensão na disputa da região de Essequibo. O texto foi postado na plataforma X (antigo Twitter), mesma rede utilizada pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que admitiu possibilidade de diálogo com as autoridades do país vizinho.  “Estamos comprometidos com a paz na região. A #CIJ (Corte Internacional de Justiça) determinará, finalmente, a polêmica na fronteira Guiana/Venezuela. Somos intransigentes nesse aspecto e no respeito pelo direito internacional. Deixamos claro que não temos oposição a conversas e reuniões como pessoas responsáveis ​​e como país”, escreveu Ali. Confira o post. Mais cedo, Maduro  havia escrito que deseja “paz e compreensão” para a região. No entanto, mais de uma hora depois, elevou o tom. “Não contaram com a nossa astúcia, o povo saiu em defesa da Guiana Essequiba. Não poderão ignorar a vontade soberana da Venezuela”, disse Maduro. Fonte

Sem custos extras, emergências conseguem reduzir superlotação em 28%

Pacientes em macas improvisadas pelos corredores e outros esperando por atendimento médico. Essa é a realidade da maioria das emergências dos hospitais públicos brasileiros. Desde 2017, um projeto leva novas práticas para desafogar os prontos-socorros.   Chamado Lean nas Emergências, o projeto liderado pelo Ministério da Saúde em parceria com os hospitais Sírio-Libanês, em São Paulo, e Moinhos de Vento, em Porto Alegre, aponta para queda de 28% na superlotação e mais de 30% no tempo de permanência dos pacientes (internados e não internados) em 72 hospitais públicos e filantrópicos, de 26 estados.   O termo lean, do inglês, significa produzir com a máxima eficiência e qualidade, sem desperdício. A estratégia de gestão é bastante aplicada em diversos setores econômicos, grandes empresas, como na indústria automotiva, e até mesmo em startups. O projeto chega com o intuito de mudar a operação e o fluxo das unidades de saúde para melhor atender os pacientes em situação emergencial.   A gerente de Projetos de Compromisso Social do Hospital Sírio-Libanês, Carina Tischler Pires, explica que as crises nos prontos-socorros são resultado de três fatores: alto volume de pacientes, falta de leitos para internação por causa do tempo elevado de permanência dos pacientes, além de processos de trabalho pouco eficientes e integrados entre as áreas. O projeto visa atacar essas questões, utilizando recursos e profissionais já disponíveis no hospital.    “Acreditamos que as atividades desenvolvidas sejam capazes de promover a autonomia intelectual e assistencial dos profissionais envolvidos, resultando em melhora na passagem do paciente pelo serviço de urgência, até sua chegada ao local correto, com recurso correto e no tempo correto”, diz a gerente.   As medidas têm reflexo, ainda, no número de mortes: a redução projetada média é de 3% ao mês na taxa de mortalidade, ou seja, 10.142 vidas impactadas.   “Estima-se também que o projeto Lean nas Emergências é capaz de gerar um aumento de vagas de internações de 19.672 por mês. Este aumento de vagas é atingido com a redução do tempo médio de permanência hospitalar com a implantação das ferramentas pela equipe do hospital, sem aumento de custos, construção de novos leitos ou contratação de equipe extra”, ressalta Carina Pires.   Mais agilidade A Santa Casa de Jahu, referência para população de 12 cidades no interior paulista pelo SUS, aderiu ao Lean nas Emergências.   Uma das medidas adotadas foi a implantação do fluxista do Pronto-Socorro – profissional que encaminha o paciente ao consultório, para fazer exames e controla o tempo de permanência para que o atendimento seja o mais rápido possível e eficiente. A estratégia Huddle também entrou na rotina dos profissionais do hospital. Trata-se de uma rápida reunião diária da equipe, de até 15 minutos, quando é feito um checklist do que está acontecendo na emergência, quais pacientes continuam internados, previsão de altas hospitalares e tratamentos a serem seguidos, o que contribui para segurança dos pacientes. “Outra medida exitosa foi a criação da sala de alta, onde os pacientes elegíveis aguardam por seus familiares, sendo este um ambiente humanizado. Desta forma, temos o leito liberado com celeridade podendo ser ocupado por outro paciente de forma mais fluida e rápida”, conta a coordenadora de Enfermagem, da Santa Casa, Regiane Laborda. Desde o ingresso no projeto, a unidade reduziu em 20% o tempo de passagem dos pacientes. Até agosto de 2023, 216 hospitais públicos e filantrópicos participaram do Lean nas Emergências, sendo 37 em fase de implementação. Mais de 7,7 mil profissionais foram capacitados em visitas presenciais e cursos à distância. O projeto integra o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). Fonte

Maduro admite diálogo com Guiana, mas depois volta a elevar o tom

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, admitiu, neste sábado (9), em postagens no X (antigo Twitter), que pode haver diálogo com a Guiana, país com o qual disputa a região de Essequibo. Em meio à tensão, Maduro escreveu que quer “paz e compreensão”. No entanto, mais de uma hora depois, voltou a elevar o tom. Guyana y ExxonMobil se tendrán que sentar a dialogar con nosotros, el Gobierno de la República Bolivariana de Venezuela. Desde el corazón y del alma, queremos Paz y entendimiento. ¡Por las buenas, todo! ¡Qué lo escuche el mundo, con el Acuerdo de Ginebra, Todo! — Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) December 9, 2023 Ele chamou atenção que, mesmo com a intenção do diálogo, as “autoridades da Guiana revogaram o acordo de Genebra”. Ele apontou que o país vizinho ameaça construir uma base militar para o Comando Sul dos Estados Unidos. Hemos optado por el diálogo directo con Guyana, pero sus autoridades patearon el Acuerdo de Ginebra y empezaron a repartir nuestro mar, amenazando con poner una base militar del Comando Sur de EE. UU. ¡Ajá! No contaban con nuestra astucia, el Pueblo salió en defensa de la Guayana… pic.twitter.com/80DlFYRwOl — Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) December 9, 2023 “Não contaram com a nossa astúcia, o Povo saiu em defesa da Guiana Essequiba. Não poderão ignorar a vontade soberana da Venezuela”, escreveu o presidente Maduro. A vontade soberana citada pelo presidente venezuelano tem relação com a votação do referendo realizado no domingo (3), que, segundo o governo, 95,9% dos eleitores aprovaram a transformação do território de Essequibo em um estado da Venezuela. A região pertence oficialmente à Guiana desde 1899, mas é reivindicada pela nação vizinha. Segundo o governo, 10,5 milhões de eleitores participaram do referendo, que aprovou ainda a garantia de cidadania e documento de identidade aos mais de 120 mil guianenses que vivem no território. Após o referendo, Maduro encaminhou um projeto de lei que cria o Estado da Guiana Essequibo. O parlamento venezuelano já está analisando o texto e realiza debates nacionais nos próximos dias. Diante do momento de tensão entre Venezuela e Guiana pelo território de Essequibo, uma nota conjunta de países do Mercosul e mais quatro sul-americanos apontou uma “profunda preocupação com a elevação das tensões”. A Guiana sinalizou que está com as forças de defesa em alerta, para possíveis tentativas de Maduro em tomar a região, que corresponde a mais de 70% do seu território. Fonte

Datafolha: satisfação de morar no Brasil sobe de cinquenta e nove por cento para setenta e quatro por cento em um ano

Os dois resultados se aproximam do teto registrado pela série histórica, iniciada no ano 2000, pelo instituto. O levantamento foi realizado na terça-feira (5) com 2.004 eleitores, em 135 cidades pelo país. A margem de erro é de dois percentuais para mais ou para menos. Segundo o Datafolha, 8% dos eleitores consideram o Brasil um local ruim para viver, o que representa uma estabilidade em relação à pesquisa de dezembro de 2022, que havia apontado 9%. Já o percentual de brasileiros que consideram “regular” o fato de morar no país caiu de 33% para 18%. Segundo o jornal “Folha de S.Paulo”, a correlação com o desempenho do governo não é automática: a satisfação deriva de outros fatores também, como o estado da economia, e o menor desemprego (7,6% no trimestre fechado em setembro) desde 2014. A aprovação do governo Lula, por sua vez, se manteve estável o ano todo, chegando a este levantamento em 38%. “Na política, após a aguda turbulência dos atos golpistas do 8 de Janeiro, houve uma acomodação visível das tensões, embora isso seja mais intangível para a população”. O orgulho de ser brasileiro também aumentou, passando de 77% para 83% em um ano, aproximando-se dos 89% registrados em novembro de 2010. Já o sentimento de vergonha em ser brasileiro caiu de 21% para 16% no período. O momento em que a correlação quase se inverteu nesses 23 anos foi junho de 2017, durante o governo Michel Temer (MDB). Na ocasião, houve um inédito empate, com 50% dizendo ter mais orgulho do que vergonha de ser brasileiro e 47%, o contrário. Na média das 32 pesquisas em que a questão foi colocada, 76% se dizem mais orgulhosos e 22%, mais envergonhados de sua condição de brasileiro Por: G1 Fonte

Grupo de 47 brasileiros e familiares consegue deixar a Faixa de Gaza

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou na tarde deste sábado que 47 brasileiros e familiares próximos conseguiram cruzar a fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito. Segundo o Itamaraty, o grupo se deslocará para a capital egípcia, acompanhado por equipe da Embaixada do Brasil no Cairo. “Após pernoite, o grupo deverá deixar, amanhã, o Egito, a bordo de aeronave da Força Aérea Brasileira. Este será o 11º voo da Operação Voltando em Paz. O retorno está previsto para o domingo, com destino à Base Aérea de Brasília. No total, desde 10 de outubro, 1524 brasileiros e familiares próximos terão sido retirados da região de conflito”, afirma o ministério em comunicado oficial. Os 47 fazem parte de uma lista de 102 brasileiros e familiares próximos apresentada aos governos envolvidos para autorização da saída da Faixa de Gaza. Entretanto, 24 tiveram sua saída denegada, incluindo sete brasileiro-palestinos. O Itamaraty detalha que, dos 78 previstos na lista autorizada, cruzaram a fronteira de Rafah em direção ao Egito 11 binacionais brasileiro-palestinos e 36 palestinos; Entre eles há 27 menores, 16 mulheres (duas idosas) e quatro homens adultos. Fonte

Avião com 11 toneladas de ajuda para vítimas da guerra decola no RJ

A aeronave KC-390 Millennium (Embraer), da Força Aérea Brasileira (FAB), decolou do Rio de Janeiro (RJ) às 15h04 (horário local) deste sábado (09/12), com destino ao Egito, para o transporte de 11 toneladas de alimentos para ajuda humanitária à Faixa de Gaza. A previsão de pouso, em Al-Arish, é para a manhã da próxima terça-feira (12/12).  Esta é a segunda aeronave brasileira que viaja para o Egito neste sábado. Às 5h08, outro avião decolou do Rio de Janeiro com o objetivo de buscar brasileiros e familiares que estavam na Faixa de Gaza e manifestaram interesse de voltar ao Brasil.  O envio de ajuda humanitária é coordenado pela Agência Brasileira de Cooperação, do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Segundo a FAB, após decolar do Rio de Janeiro, a aeronave fará paradas técnicas na Base Aérea do Recife (BARF); em Cabo Verde; em Lisboa, Portugal; em Atenas, Grécia; e no Cairo, no Egito até chegar ao destino final que é Al-Arish, também no Egito, onde a carga será descarregada. A aeronave KC-390 Millennium transporta para Gaza, 11 toneladas de alimentos para atender populações em situação de emergência pública. Foto: Fab/Gov Conflito No dia 7 de outubro, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou um ataque surpresa de mísseis contra Israel e a incursão de combatentes armados por terra, matando civis e militares e fazendo centenas de reféns israelenses e estrangeiros. Em resposta, Israel bombardeou várias infraestruturas do Hamas, em Gaza, e impôs cerco total ao território, com o corte do abastecimento de água, combustível e energia elétrica.  Os ataques já deixaram milhares de mortos, feridos e desabrigados nos dois territórios. A guerra entre Israel e Hamas tem origem na disputa por territórios que já foram ocupados por diversos povos, como hebreus e filisteus, dos quais descendem israelenses e palestinos.  Fonte

Tensão com Guiana: Maduro fala em “paz e entendimento” em manhã de conversa com Lula

Presidente venezuelano conversou com Lula por telefone, a fim de tratar sobre o interesse em incorporar o território de Essequibo O presidente venezuelano Nicolás Maduro afirmou querer paz e entendimento ao comentar o interesse do país em incorporar o território de Essequibo, pertencente à Guiana. “Guiana e ExxonMobil terão que sentar para conversar conosco, o governo da República Bolivariana da Venezuela. De alma e coração, queremos paz e entendimento. Que o mundo escute, com o Acordo de Genebra, tudo!”, escreveu Maduro em sua conta no X (antigo Twitter), neste sábado (9). Manhã de conversa com Lula Também na manhã deste sábado (9), Maduro conversou com Lula por telefone, como informou o governo brasileiro. A ligação tratou da tensão entre Venezuela e Guiana pela região de Essequibo. Na conversa, Lula transmitiu a preocupação do Brasil e outros países sul-americanos sobre o tema, e citou a declaração aprovada na Cúpula do Mercosul, assinada por por Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Colômbia, Peru, Equador e Chile. “[Lula] recordou a longa tradição de diálogo na América Latina e que somos uma região de paz”, escreveu o governo federal. Ainda de acordo com a nota, Lula pontuou sua posição contrária a “medidas unilaterais que levem a uma escalada da situação”. Por: G1 Fonte

Meninas são mais afetadas por mudanças climáticas

Crescimento dos casamentos infantis, abandono da escola e aumento do trabalho doméstico estão entre alguns dos efeitos da crise climática que atingem mais meninas, ampliando a desigualdade entre os gêneros. Um estudo da Organização Não Governamental (ONG) Plan International em oito países, entre os quais o Brasil, revelou os efeitos das transformações do clima na vida de garotas menores de 18 anos de idade.   A pesquisa focou no acesso à educação a partir de entrevistas com 78 meninas do Brasil, Benim, Camboja, El Salvador, Filipinas, República Dominicana, Togo e Vietnã. Segundo o levantamento, devido às desigualdades e discriminações de gênero que já existem nesses países, elas acabam sendo mais afetadas pelas mudanças climáticas.   Júlia Ferraz é especialista em mudanças climáticas e emergências Foto: Arquivo pessoal “As meninas têm uma redução significativa da frequência escolar no contexto das mudanças climáticas porque, muitas vezes, elas são sobrecarregadas dentro de casa. As meninas são muito mais convocadas pelas suas famílias para cumprir essa responsabilidade do que os meninos”, destacou Júlia Ferraz, especialista em mudanças climáticas e emergências da Plan International.  No Vietnã, por exemplo, a adolescente Uyen afirma que os pais preferem tirar as meninas da escola e manter os meninos, porque entendem que elas são responsáveis por ajudar nas tarefas domésticas. Dados do Fundo Malala apontam que as mudanças climáticas podem retirar das escolas, a cada ano, pelo menos 12,5 milhões de garotas em 30 países vulneráveis ao clima.    Casamentos infantis Outra consequência da crise climática é o aumento dos casamentos infantis ligado à elevação da pobreza. A pesquisa identificou esse crescimento nas regiões afetadas pela crise climática, principalmente onde há inundações.   “O casamento infantil acaba sendo uma estratégia negativa de sobrevivência dessas famílias que, ao fazer esse casamento, ela transfere a responsabilidade sobre a garota para os cuidados de outro núcleo familiar que vai prover e dar comida”, explicou.  A Plan International recomendou a reformulação das políticas para mudanças climáticas, com o objetivo de prever a dimensão da desigualdade entre os gêneros, trabalhando também com o combate a esse tipo de discriminação.   “É fundamental se trabalhar com as comunidades, principalmente por meio da educação, enfatizando que esses padrões precisam ser desconstruídos para melhorar a situação das meninas, para que elas não enfrentem os impactos da crise climática de forma tão desproporcional”, afirmou Júlia Ferraz.   Financiamento climático infantil  Em outra pesquisa realizada pela mesma ONG, verificou-se que de 591 projetos financiados por fundos ligados ao clima, e executados ao longo de 17 anos, apenas 5% deles foram destinados prioritariamente a atividades voltadas às crianças. Isso representou apenas 2,4% dos recursos mobilizados para a crise climática. Além disso, apenas um dos projetos foi direcionado à educação de crianças.   “De todos os financiamentos climáticos feitos pelos principais fundos climáticos, apenas um é endereçado à questão da educação. Isso é muito grave. Se a gente não trabalhar no eixo da educação com a mudança de paradigma de padrões, fica super difícil construir qualquer coisa”, concluiu Ferraz.   Crise amplia desigualdades  Além de ampliar a desigualdade de gênero, a crise climática aumenta todas as demais desigualdades, segundo o coordenador do Grupo de Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Eduardo Young.   O professor destacou que os países mais ricos sofrerão menos porque tem mais recursos para investir na adaptação para as mudanças climáticas. “Isso é fácil de você perceber quando você tem um furacão passando no Caribe, em que morrem milhares de pessoas nos países caribenhos ou centro-americanos. Esse furacão chega na costa americana e o número de óbitos cai menos de uma dezena”, exemplificou.   Além disso, Young acrescentou que o aquecimento da Terra vai ser mais intenso nos locais mais quentes. “Você vai ter, por exemplo, a possibilidade de expansão de áreas agrícolas onde hoje não pode ter agricultura, como no norte dos Estados Unidos, no Canadá e na Sibéria. Em compensação, na África subsaariana, você vai ter um colapso da agricultura, vai ficar desertificado. A tendência, então, é aumentar a desigualdade entre os países”, afirmou.  As desigualdades também devem aumentar dentro do mesmo país. O professor da UFRJ lembrou que, no Brasil, os pobres costumam viver nos locais de maior risco, como morros e beira dos rios, mais afetados por fortes chuvas e inundações.   “A probabilidade de um evento extremo se transformar num desastre, numa área pobre, sem infraestrutura, com baixa capacidade de renda, sem cobertura florestal, é muito maior do que numa área rica, que tem capacidade de investimento, que tem uma estrutura adequada para lidar com essa questão”, destacou Young.   Os eventos climáticos extremos também devem impactar de forma severa a agricultura familiar de subsistência do que a agricultura irrigada e capitalizada. “Têm estudos mostrando que a agricultura no Brasil que mais sofre com eventos climáticos extremos é a agricultura de feijão e de milho do semiárido brasileiro”, finalizou o professor da UFRJ.   Crise Climática     Os gases do efeito estufa lançados na atmosfera vêm aumentando a temperatura do planeta desde a Revolução Industrial (séculos 18 e 19), principalmente por meio da queima de combustíveis fósseis, o que impulsiona a atual crise climática, marcada por eventos extremos, como o calor excessivo, as secas prolongadas e as chuvas intensas.     No Acordo de Paris, em 2015, 195 países se comprometeram a combater o aquecimento global “em bem menos de 2º C acima dos níveis pré-industriais”, buscando limitá-lo a 1,5ºC acima dos níveis antes da Revolução Industrial.  Source link

Direitos humanos e polícia não são antagônicos, diz delegado do DF

“A polícia deve ser a primeira linha da defesa de direitos humanos”. A frase é de um homem que abraçou a carreira policial por concurso há 5 anos e que ouviu alertas sobre possíveis preconceitos no novo trabalho. Mesmo assim, resolveu seguir o sonho. Advogado e mestre em direitos humanos, o delegado paulistano Anderson Cavichioli, de 49 anos de idade, que atua na Delegacia Especializada de Assistência à Mulher (Deam), em Ceilândia, a maior região administrativa do Distrito Federal, é o primeiro assumidamente homossexual na capital federal nessa atividade. “Eu respeito todas as pessoas. Então, eu também exijo respeito”, disse o delegado à Agência Brasil. O fato é que Anderson Cavichioli resolveu não apenas trabalhar por uma instituição mais saudável e menos violenta, mas também estimular que outros policiais pudessem ter ciência de que era preciso união. Depois que passou no concurso da Polícia Civil do DF, resolveu tocar em frente uma iniciativa institucionalizada na corporação, a Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBT, um grupo que começou com cinco pessoas e hoje congrega pelo menos 150 agentes de segurança pública, incluindo policiais de entidades estaduais e federais. Ele já presenciou comentários maldosos e rodinhas de risos. Para ele, porém, a homofobia nem sempre se apresenta escancarada, mas também de forma camuflada por outros caminhos, como menos chances de crescer na atividade e menos oportunidades. O policial participa, até este domingo (10), do 1º Encontro Nacional dos Conselhos LGBTQIA+, para o qual foi convidado de forma especial. “Devem pensar: o que um policial está fazendo aqui? Eu estou aqui porque nosso trabalho já é reconhecido”, garante. Durante o evento, ele concedeu entrevista à Agência Brasil. Delegado Anderson Cavichioli, primeiro policial assumidamente da comunidade LGBTQIA+ do DF – Foto:Wilson Dias/Agência Brasil Agência Brasil – Desde quando o senhor revelou sua orientação sexual? Anderson – Desde que eu entrei para a polícia, eu disse abertamente que era um homem gay. Algumas pessoas se espantaram. É ainda um ambiente que tem muitas práticas homotransfóbicas, mas vem mudando e para melhor Agência Brasil – O senhor criou a Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBT? Anderson – A rede já existia desde 2010, mas não estava institucionalizada. Em 2018, houve um ataque a um policial militar que teve a sua imagem clandestinamente capturada. Ele teve a imagem beijando outro rapaz e foi ameaçado de morte por outros policiais. Aquilo é um evidente absurdo. Por isso, a gente entendeu que era necessário que nós tivéssemos uma organização efetiva. Começamos com cinco pessoas. Hoje nós temos 150. Agência Brasil – A que o senhor atribui essa ampliação? Anderson – Quando um policial descobre a rede, muitos falam: “eu achei que só eu era LGBTQIA+ na polícia”. A pessoa LGBT pode ter um comportamento até de isolamento porque não fala muito sobre si. Isso é muito ruim. O lugar em que trabalhamos é onde passamos muitas horas do dia. Agência Brasil – E isso rende resultados práticos? Anderson – Hoje nós temos um protocolo de atendimento à população LGBTQIA+ pelas forças policiais. Eu sou também conteudista da Secretaria Nacional de Segurança Pública. Eu fiz o primeiro curso no Brasil para atendimento policial de pessoas LGBT. Nós temos manuais e capacitação dos policiais. Eu percebo que ainda há falta de informação. Eu trabalho bastante também nessa área de formação. Agora vou fazer um trabalho no sistema prisional aqui do DF em caráter de educação para os profissionais. A ideia é educar as forças de segurança pública para que sejam capacitadas a lidar com a população LGBT. Agência Brasil – As polícias são ligadas à violência institucionalizada historicamente. Como vencer as resistências? Anderson – Isso ocorreu historicamente no Brasil para perseguir pessoas de grupos vulnerabilizados. Ocorreu durante a ditadura (1964 – 1985). Pessoas que não podiam nem sair de casa. Transexuais e travestis que eram perseguidas. A comunidade não aguentava mais sofrer aquele tipo de repressão. Agência Brasil – Qual o perfil de policiais na rede? Anderson – Nós temos o maior número de homens gays. Mas temos também pessoas trans, mulheres e homens. Grande parte das pessoas que integram a rede são da Região Nordeste. Agência Brasil – Sobre a sua história, o senhor cursou o mestrado em Direitos Humanos na Universidade de Brasília (UnB). O que o senhor pesquisou? Anderson – Eu estudei a violência contra pessoas transexuais e travestis. Agência Brasil – Depois de 1 ano de polícia, o senhor foi ser o titular da Delegacia das Mulheres, na Ceilândia. O que representou isso para o senhor? Anderson – Modéstia à parte, sou uma pessoa bastante competente na minha profissão. Lido com situações extremamente delicadas, com a violência contra a mulher, que é um problema gravíssimo que nós temos no DF e no Brasil. Existe uma complexidade nas questões da Lei Maria da Penha. Uma coisa é você atender uma vítima de roubo em que as pessoas não se conhecem. É diferente atender uma situação de violência doméstica, em que há vínculos afetivos entre as pessoas, filhos em comum. A gente precisa ter cuidado com as falas e com a abordagem Agência Brasil – De que forma a sua formação em direitos humanos mudou o seu trabalho e como busca multiplicar o seu conhecimento com os seus colegas? Anderson – Acho que quando você vai atuando no seu dia a dia, as pessoas vão vendo a maneira como você trabalha e a sua maneira de ver o mundo. Os colegas, às vezes, ficam espantados. É preciso garantir a dignidade de todos. A gente tem uma maneira técnica de atuar e sempre preservando os direitos, inclusive da pessoa presa. Delegado Anderson Cavichioli, primeiro policial assumidamente da comunidade LGBTQIA+ do DF – Foto:Wilson Dias/Agência Brasil Agência Brasil – O senhor sofreu resistência dentro do ambiente de trabalho por ser gay ou pela sua forma olhar o mundo? Anderson – A gente sabe de comentários, de pessoas que não veem o trabalho dessa forma. Eu já tive situações em que eu ouvi outros policiais dizendo que

Lula diz a Maduro que América Latina é região de paz

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu na manhã deste sábado (9) um telefonema do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. A informação foi divulgada pela assessoria do Palácio do Planalto. A conversa tratou sobre a situação em Essequibo, território em disputa por Venezuela e Guiana, que faz também fronteira com o norte do Brasil, no estado de Roraima. “O presidente Lula transmitiu a crescente preocupação dos países da América do Sul sobre a questão do Essequibo. Expôs os termos da declaração sobre o assunto aprovada na Cúpula do Mercosul e assinada por Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Colômbia, Peru, Equador e Chile. Recordou a longa tradição de diálogo na América Latina e que somos uma região de paz”, informou o Planalto, em nota. No domingo (3), a Venezuela aprovou em referendo a anexação do território de Essequibo. O presidente venezuelano já determinou a criação de um estado na área disputada, que está no território da Guiana. O assunto entrou na pauta do Conselho de Segurança das Nações Unidas na sexta-feira (8) e o governo dos Estados Unidos anunciou a realização de exercícios militares aéreos conjuntos com militares da Guiana, adicionando um ingrediente extra de tensão. Ainda durante a conversa com Maduro, o presidente Lula fez um chamado ao diálogo e sugeriu que o presidente de turno da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Ralph Gonsalves, primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, faça uma mediação sobre o assunto entre as duas partes envolvidas. Lula também reiterou que o Brasil está à disposição para apoiar e acompanhar essas iniciativas e pediu que não haja ações unilaterais que piorem a situação. Fonte

Casa para LGBTQIA+ de São Bernardo do Campo corre risco de fechar

A Casa Neon Cunha abriu as portas em 2019 para oferecer à comunidade LGBTQIA+ o que muitas vezes o poder público não consegue, e desde setembro as contas atingiram um estágio crítico. O imóvel, na rua da Defensoria Pública de São Bernardo do Campo, é o lar, atualmente, de 25 pessoas, e atende, em média, outras 15 por dia, entre atendimentos psicossociais, em assessoria jurídica e oficinas. Por mês, a organização precisa de R$ 50 mil para cobrir os gastos dos serviços que presta, quando somados aluguel, folha de pagamento de funcionários e contas básicas, como alimentação, luz e água. O orçamento ficou mais apertado desde 2021, quando passou a estruturar o imóvel para transformá-lo na residência permanente de pessoas da comunidade. Por enquanto, o espaço vai sobrevivendo com parcerias pontuais de marcas e por indicação da prefeitura da cidade como um local de referência, mesmo sem que a gestão municipal tenha tido interesse em firmar contrato para assegurar recursos. Segundo o presidente da organização, Paulo Araújo, a maioria dos residentes é negra e do Nordeste. Entre eles, há, inclusive, pessoas que foram expulsas de casa por familiares, e que sofreram violências por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero. Saber qual o perfil dos integrantes da comunidade no município onde funciona, aliás, é uma das demonstrações de comprometimento com a causa que a Neon Cunha deu, já que tem buscado levantar dados por meio de um censo. Se a casa quebrar de vez, muitos dos moradores poderão ficar sem um teto. Isso porque o mercado de trabalho não se mostra receptivo a pessoas LGBTQIA+ e os moradores da Neon Cunha, que não são, portanto, exceção, têm dificuldade para conseguir manter uma renda satisfatória, que permita seu sustento fora dela. Há também quem tenha abandonado a vida em situação de rua com a ajuda da organização. No perfil mantido no Instagram, a entidade faz diversos apelos e tenta emplacar rifas, há meses. “Estamos sem saída. Precisaremos fechar as portas. É quase impossível gerar transformação social sem receber nenhuma ajuda fixa do governo, das empresas ou de outras organizações”, diz uma das postagens. Na rede social, a organização divulga um balanço do primeiro semestre deste ano, que ajuda a dimensionar o alcance de sua atuação. Ao todo, foram servidas 18 mil refeições, realizadas 58 retificações de nome e gênero e formadas 30 pessoas no projeto Trans-formação, em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU). “As pessoas discutem o processo sem que a gente participe”, disse Araújo, em entrevista à Agência Brasil, quando perguntado sobre o que falta melhorar, em relação às políticas públicas voltadas aos LGBTQIA+. Nesta quinta-feira (7), o governo federal anunciou a criação do Programa Nacional de Fortalecimento das Casas de Acolhimento LGBTQIA+, que funcionará no âmbito da Estratégia Nacional de Enfrentamento à Violência contra Pessoas LGBTQIA+. O programa Acolher+ terá como público-alvo pessoas com idade entre 18 e 65 anos em situação de abandono familiar e deve priorizar quem tiver outros marcadores sociais, além de pertencer a essa comunidade, como os de raça e etnia, classe, gênero, religiosidade e deficiência. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania comprometeu-se a publicar critérios de adesão ao programa, válidos para instituições públicas e privadas, em até 120 dias. A pasta deverá instaurar um comitê para acompanhar as ações desenvolvidas dentro do programa, no mesmo prazo. Source link

Chuvas matam 2 e deixam mais de 300 desabrigados em Angra dos Reis

Vítimas são idosos que estavam em asilo particular no bairro Bracuí. Em alguns pontos da cidade, água chegou a 3 metros de altura. A chuva forte e o aumento da maré provocaram uma inundação no bairro Bracuí, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. O Corpo de Bombeiros confirmou a morte de um casal de idosos que estava em um asilo privado. Segundo a prefeitura, a água subiu rapidamente no asilo e o casal de idosos não conseguiu ir para o segundo andar do imóvel. A causa provável das mortes foi afogamento. Outros 25 idosos do asilo foram levados em segurança para um abrigo. Uma vizinha do asilo contou que saiu de casa quando a água inundou o imóvel e que, no caminho, conseguiu ajudar alguns idosos. “Fiquei colada no muro ajudando, havia muitos idosos sem roupa e a gente embaixo da chuva, porque já tínhamos água no peito por várias horas. A gente tentou pular o muro com eles, aí chegaram vizinhos e bombeiros com um bote e conseguiram tirar (os idosos)”, relatou a moradora Ana Peralta. A moradora conseguiu abrigo em uma casa vizinha quando a água baixou. Mais de 300 desabrigados Até agora, 312 pessoas ficaram desabrigadas e foram levadas para duas escolas municipais. As fortes chuvas começaram na noite de sexta-feira (8). O município registrou 250 milímetros de chuva em apenas 24 horas. Segundo a Defesa Civil, este era o volume esperado para todo o mês de dezembro. O alto volume de chuvas e a maré cheia provocaram as inundações. A água atingiu a marca de três metros de altura em alguns pontos. Desde então, a Defesa Civil começou a receber chamados dos moradores. Foi necessária a utilização de barcos e cordas para o resgate de idosos, crianças, animais de estimação e pessoas em situação de vulnerabilidade. Fonte: G1 Fonte

Pesquisa mostra como judeus usaram música para resistir ao Holocausto

A historiadora Silvia Lerner estava com tudo programado para o lançamento de um novo livro no Brasil, quando a guerra entre Israel e Hamas começou. Ela vive em Tel Aviv e, durante cinco dias, ficou abrigada no bunker que tem em casa, sem saber se conseguiria um voo. Havia ainda o desafio de publicar uma pesquisa sobre o Holocausto em um contexto que mobiliza posições exaltadas contra judeus, árabes e outros povos envolvidos nos conflitos do Oriente Médio. O primeiro ponto foi superado e ela lançou o livro “A música e os músicos em tempos de intolerância: o Holocausto” no mês de outubro em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. Sobre o segundo ponto, a autora defende que, apesar de tratar de um tema do passado, a pesquisa pode ajudar na reflexão sobre a intolerância entre os povos nos dias atuais. As dificuldades de diálogo e de aceitação do outro, segundo Silvia Lerner, favorecem a violência e tornam acordos de paz cada vez mais distantes. A pesquisa da historiadora fala da perseguição dos nazistas, que provocou a morte de cerca de 6 milhões de judeus nas décadas de 1930 e 1940 na Europa, evento conhecido como Holocausto. Em meio aos guetos, campos de concentração e de extermínio, muitas vítimas encontraram refúgio na música. O que, segundo Silvia, era uma forma de resistência psicológica contra a violência extrema. Todas as músicas apresentadas no livro foram escritas originalmente em ídiche ou alemão, mas foram traduzidas para o português pela autora. Elas podem ser ouvidas no idioma original por meio de QR Codes. Em entrevista à Agência Brasil, a historiadora dá detalhes da pesquisa e da experiência em Tel Aviv, em meio aos conflitos entre Israel e Hamas.    Detalhe de foto da apresentação de orquestra no Gueto de Kovno. A historiadora e escritora, Silvia Lerner, fala sobre o lançamento do seu livro “A música e os músicos em Tempos de Intolerância: o Holocausto” (Editora Rio Books), na livraria Travessa, no Shopping Leblon, zona sul da cidade – Tânia Rêgo/Agência Brasil   Agência Brasil: Por que você escolheu esse tema de estudo? Interesse apenas acadêmico ou tem alguma relação pessoal com o assunto?  Silvia Lerner: Meus pais eram sobreviventes do Holocausto. Eram judeus alemães e viviam em Berlim.  Eles se tornaram refugiados no Brasil. Eles vieram sozinhos, então eu nunca tive avó, tio, tia, porque todos morreram na Alemanha ou foram levados para campos de concentração. Fiz faculdade de História e consegui uma bolsa na Escola Internacional de Estudos sobre Holocausto, em Jerusalém. Ali, comecei a me especializar nesse tema e em História Judaica. Buscava encontrar respostas para tanta maldade. Você começa a estudar e ver como os homens são cruéis. E a troco de quê? Se me perguntarem hoje se eu tenho as respostas, vou te dizer: já estudei muito, mas eu ainda não encontrei o que justificasse tanta maldade e crueldade. Eu vejo que nos homens não aprenderam. Porque desde que a guerra terminou, a gente já assistiu a vários genocídios, vários eventos e momentos de falta de paz.  Agência Brasil: Você estuda letras de músicas produzidas pelos judeus nesses tempos de Holocausto. Como teve acesso e como foi o processo de seleção, tradução e análise de fontes?  Silvia Lerner: Dentro desse tema mais geral, eu me identificava com o campo cultural. E resolvi focar na arte e na música. Minha filha morou um tempo em Nova York, eu ia muito lá, e consegui juntar um material que encontrei pesquisando lá, principalmente livros e áudios que encontrei no Institute for Jewish Research (YIVO). Tinha um com músicas escritas em ídiche e, como eu sei a língua, comecei a traduzir e a procurar áudios correspondentes produzidos nos Estados Unidos, em Israel, na França. Algumas também estavam em alemão e, como também sei o idioma, consegui traduzir.  Agência Brasil: A pesquisa encontrou cerca de 300 músicas produzidas nesse contexto pelos judeus. Qual critério você utilizou para analisar e publicar 31 delas no livro? Silvia Lerner: Eu comecei a escolher músicas que fossem produzidas em espaços diferentes. Por exemplo, algo que era do gueto de Varsóvia, do de Vilna, do de Białystok. Para mostrar o quanto se produziu, em tantos lugares diferentes. Tem músicas feitas em campos de extermínio, como Treblinka e Auschwitz. Mas é interessante que, mesmo em lugares tão diferentes, existam pontos em comum. Por exemplo, muitas traziam em comum uma estrofe que diz “dorme, meu filho, dorme”. Era um sentimento do pai e da mãe que não queriam que o filho percebesse toda a tragédia em volta. Elas também costumam trazer temas como a saudade e a chamada para uma luta. Agência Brasil: Quais músicas você destacaria como emblemáticas desse período?  Silvia Lerner: Tem uma que eu gosto muito que se chama Friling, (Primavera), composta no gueto de Vilna, em ritmo de tango. O autor escreveu essa música logo após o assassinato de sua esposa, com quem tinha casado recentemente. E realmente é uma música bonita, emocionante. E perguntaram a ele, como tinha conseguido compor algo naquele momento. E ele respondeu que era a música que o segurava, que sustentava os músculos dele. E por que o ritmo de tango? Por que os alemães permitiam esse tipo de ritmo. Ao contrário, por exemplo, do jazz, que eles não admitiam. Para eles era um estilo de origem dos negros, grupo que eles perseguiam. E o tango era visto como dança de submissão da mulher ao homem.  Agência Brasil: Você centra a análise das músicas a partir do conceito de resistência, que há muito tempo é explorado na historiografia em diferentes situações. Pode explicar como você o entende e o aplica no estudo?  Silvia Lerner: Havia tanto a resistência armada, quanto a resistência psicológica. Os judeus pegaram em armas tardiamente. Não estavam habituados, não tinham treinamento militar. Somente quando sentiram que os guetos estavam sendo evacuados é que resolveram pegar em armas. A resistência psicológica consistia em produzir elementos, como a música, para esquecer a fome. Em trabalhar uma composição para esquecer a saudade. Era tentar viver com dignidade em