Apenas uma em cada 3 vacinas de HPV foram aplicadas no estado de SP
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo recebeu do Ministério da Saúde, em 2023, 1,06 milhão de doses de vacina contra o HPV. Desse total, foram aplicadas, até maio, 315.703 doses. O número corresponde a um terço do estoque de vacinas à disposição do estado. Entre a população prioritária, meninos e meninas de 9 a 14 anos, foram aplicadas 299.658 doses da vacina quadrivalente contra o HPV. Os números estão disponíveis no DataSUS. A secretaria de saúde confirmou que esses são os dados mais recentes. Segundo o Programa Nacional de Imunização (PNI), para alcançar a imunidade são necessárias duas doses da vacina. A meta é ter pelo menos 80% das crianças e adolescentes entre 9 e 14 anos, em todo o país, com o esquema vacinal completo. Segundo o governo de São Paulo, no acumulado dos últimos seis anos, 59,6% das meninas entre 9 e 14 anos; e 39,2% dos meninos tomaram as duas doses da vacina. Não existe um dado de cobertura vacinal contra o HPV ano a ano. Mas levando em conta apenas as crianças com 9 anos, quando se inicia o esquema de imunização, 17,84% das meninas e menos de 11% (10,66%) dos meninos tinham tomado a primeira dose da vacina, em 2023. Mesmo que o estado consiga repetir o mesmo desempenho do ano passado, pouco mais da metade das meninas terão começado o esquema vacinal. Em 2022, 55,43% das meninas e 12,87% dos meninos com 9 anos tomaram a primeira dose da vacina. Arte HPV no estado de SP – Arte – Agência Brasil A vacina quadrivalente previne a infecção por quatro tipos de HPV, incluindo os tipos 16 e 18, que respondem por 70% dos casos de câncer do colo de útero no mundo, 90% dos casos de câncer de ânus e 60% dos cânceres de vagina. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), só em 2023, São Paulo deve registrar 2,5 mil novos casos de câncer de colo de útero. Esse tipo de câncer é a terceira causa de morte prematuras de mulheres no país. Veto à campanha No dia 15 de setembro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, vetou um Projeto de Lei (PL) que previa levar a vacinação de crianças e adolescentes contra o vírus, uma vez ao ano, para dentro das escolas. O PL Nº 134/2022, de autoria das deputadas estaduais Marina Helou (Rede), Edna Macedo (Republicanos) e Delegada Graciela (PL), além da agora ex-deputada Patrícia Gama, incluía quatro eixos de atuação: conscientização, imunização, diagnóstico e tratamento. A Assembleia Legislativa aprovou o projeto no dia 8 de agosto. A proposta determinava a criação de um calendário estadual de vacinação do vírus HPV, que se iniciaria em março de cada ano, garantindo o direito à vacinação do HPV preferencialmente nas escolas do estado de São Paulo no mês de março. Na justificativa do veto, o governador alegou que a secretaria da Saúde considerou dispensável a aprovação do projeto por já existirem políticas públicas em execução na área. Entre outros pontos, ele argumentou que a vacina contra o HPV está inserida no Calendário Nacional de Vacinação e que a Coordenadoria de Controle de Doenças já promove campanhas de esclarecimento. Vacinação nas escolas Para Mônica Levi, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), São Paulo perdeu a oportunidade de colaborar com um dos pilares da vacinação para adolescentes. “Em todos os programas de Saúde Pública exitosos do mundo, a vacinação escolar [contra o HPV] foi fundamental por levar a vacina no braço do adolescente que é onde ele está: na escola. Adolescente não frequenta posto de saúde”. Ela cita países que adotaram com sucesso a política de vacinação contra o vírus e já conseguiram reduzir casos de câncer na população: Suécia, Reino Unido, Austrália e Dinamarca. “Inclusive, esses países estão passando agora a fazer vacinação em dose única só para manutenção da pouca circulação do vírus”. O veto do governo ainda pode ser derrubado pelos deputados, mas uma das autoras do PL, deputada Marina Helou, sabe que não é tarefa fácil. “Sabemos que derrubar um veto do governador na Assembleia não é um processo simples, mas existe a possibilidade. Neste momento, gostaríamos que o governo do Estado ampliasse a prevenção e o combate ao HPV”, afirmou. Em nota, o governo estadual reforçou que as propostas do PL já são executadas no estado, por meio do PNI. Segundo o texto, a imunização está disponível desde 2014 em mais de 5 mil postos de saúde no estado. No Brasil, são 17 mil casos de câncer de colo de útero diagnosticados por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e estima-se que cerca de 5 mil mulheres morram por ano vítimas desta doença. Trata-se da infecção viral mais comum do trato reprodutivo no mundo e estudos comprovam que 50% a 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas em algum momento de suas vidas. A professora-associada do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e médica-assistente do Hospital das Clínicas da FMUSP, Ana Marli Cristovan Sartori, enfatizou que o Programa Nacional de Imunização estimula ações de microplanejamento pelos municípios para aumentar as coberturas vacinais e várias estratégias podem ser adotadas. Para ela, é importante não descartar a vacinação nas escolas, principalmente após a pandemia de covid-19 que, com o isolamento social e fechamento das escolas, impactou nas coberturas vacinais em geral, mas particularmente as coberturas da vacina HPV. “A retomada de programas de vacinação de HPV nas escolas, dentro de um programa de saúde escolar fortalecido, é de grande importância para alcançar altas coberturas vacinais”. Segundo a professora, cerca de 36% dos municípios paulistas responderam a um questionário sobre a estratégia de vacinação de HPV nas escolas nos municípios do Estado de São Paulo, de 2015 a 2018. Desses, aproximadamente 85% haviam implementado alguma ação de vacinação de HPV nas escolas, muitos realizaram a vacinação propriamente dita nas escolas, enquanto outros implementaram ações de educação sobre o HPV e a vacina em conjunto
Envelhecimento da população vai demandar mais vacinas para idosos
O continente americano e o Brasil estão envelhecendo mais rápido do que a média mundial, e a ampliação do acesso dos idosos à vacinação é um dos instrumentos para a garantia de uma velhice saudável e autônoma, alertam especialistas que discutiram os calendários de rotina de vacinação da terceira idade na Jornada Nacional de Imunizações. Além de hábitos saudáveis, estar vacinado evita que infecções causem estresse no organismo e desencadeiem problemas que podem até mesmo se tornar crônicos. O Programa Nacional de Imunizações (PNI), que completou 50 anos neste mês, oferece um calendário específico para essa população. Além das vacinas contra hepatite B e difteria e tétano, que são recomendadas desde a infância e podem ser administradas também nas faixas etárias superiores, idosos acamados ou em abrigos também devem receber a vacina pneumocócica 23-valente. Pessoas acima de 60 anos também precisam ser avaliadas caso precisem receber vacinas como a tríplice viral e a febre amarela, que têm a tecnologia de vírus vivo atenuado. Além disso, as campanhas anuais contra a influenza e a vacinação contra a covid-19 são consideradas prioritárias para essa população. Do ponto de vista individual, o idoso pode ter recomendações adicionais de vacinação, no caso de condições específicas de saúde, o que inclui doenças crônicas frequentes como o diabetes. Nesse caso, deve-se procurar um médico que encaminhe o paciente para os Centros de Referência em Imunobiológicos Especiais (CRIE). Assessora de imunizações da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Lely Guzman, destaca que a vacinação dos idosos estava entre as preocupações da organização ao instituir a Década do Envelhecimento Saudável entre 2021 e 2030. No fim desse período, uma em cada seis pessoas no continente americano terá mais de 60 anos. “Há uma baixa prioridade do envelhecimento nas políticas públicas”, aponta Lely. “Os calendários de vacinação ainda são muito pequenos perto de todo o desafio e das vacinas que podem ser úteis para os idosos”. Infecções respiratórias A geriatra Maisa Kairalla, professora da Universidade Federal de São Paulo, destaca que as infecções respiratórias, como a influenza, o vírus sincicial respiratório e a covid-19 estão entre as maiores ameaças que podem ser prevenidas por vacinas. “É muito difícil um idoso ter uma doença que o leve a ficar 15 dias na UTI e sair do hospital como chegou. É preciso muito cuidado, e, com isso, há perda da qualidade de vida, da autonomia e maior chance de reinternação”. Mesmo sendo prevenível por vacina no Brasil desde a década de 1990, o vírus Influenza faz 70% de suas vítimas entre a população idosa. Além de internação e morte, essa doença também pode descompensar doenças crônicas como cardiopatias e diabetes e causar acidentes vasculares. O risco de morte por gripe chega a ser 20 vezes maior entre pessoas que acumulam cardiopatias e doenças pulmonares, condições frequentes entre idosos que foram ou são fumantes. Já o vírus sincicial respiratório, apesar de estar entre as maiores causas de internação por síndrome respiratórias em bebês, faz a maior parte das vítimas fatais entre os idosos. As primeiras vacinas e anticorpos monoclonais contra esse vírus só começaram recentemente a ser adotadas nos Estados Unidos, e, no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analisa o pedido de registro da farmacêutica Pfizer. Presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Sáfadi conta que já era conhecida a importância desse vírus para a saúde da criança, mas avança cada vez mais a constatação de que ele é perigoso para os idosos. “É algo novo. A gente já conhece muito bem a carga da doença em crianças, mas a gente não conhecia tão bem assim a importância desse agente para os adultos. E hoje os adultos mostram que ele é um agente que pode impactar na população de adultos e principalmente nos indivíduos de maior idade, principalmente acima dos 70 anos”. Herpes Zoster Outra doença que pode comprometer gravemente a qualidade de vida de idosos é o herpes zoster, uma manifestação do mesmo vírus da catapora, o varicela, que fica alojado no corpo ao longo da vida e volta a causar sintomas após a velhice, porém com um quadro diferente da catapora. A incidência dessa doença chega a ser de 50% entre os idosos que chegam aos 85 anos de idade, segundo o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC). A vacinação contra a herpes zoster no Brasil só está disponível em clínicas privadas, em versões inativada e atenuada, e a Sociedade Brasileira de Imunizações recomenda a vacina para pessoas com mais de 50 anos ou imunocomprometidos com ao menos 18 anos. Além de dores severas, a doença pode causar cegueira, paralisia facial e dores crônicas, que podem se estender por anos. Quanto mais idoso for o paciente acometido, maior é a chance de esse quadro crônico permanecer. Vacinação especial A SBIm recomenda ainda que todos os idosos busquem a vacinação contra os pneumococos, por meio das vacinas pneumocócica valente 13 e 15, também disponíveis apenas nas clínicas particulares. Apesar do nome, essas bactérias não provocam apenas casos de pneumonia, e estão associadas a infecções inclusive nas meninges, além de quadros de sepse. A inclusão de vacinas que estão somente nas clínicas privadas no Programa Nacional de Imunizações depende de uma série de fatores, como o custo-benefício para a saúde pública e a garantia de que estarão disponíveis de forma contínua ao longo dos anos. Além de recursos para comprar, é preciso ter a certeza de que os fabricantes vão ter a oferta. O diretor do Programa Nacional de Imunizações, Eder Gatti, explica que o cenário ideal é, a partir de uma avaliação da epidemiologia de cada doença e da viabilidade dos preços oferecidos pelo mercado, construir uma agenda de incorporação dessas tecnologias para a produção nos laboratórios públicos. “Estamos em uma fase de vacinas que agregam muita tecnologia e acabam tendo um custo muito alto. Consequentemente, temos um impacto orçamentário muito alto para poucas doses. Então, o processo de incorporação tecnológica precisa ser muito bem pensado. Não dá para fazer
Brasil prepara inclusão de vacinas de covid-19 no calendário de rotina
Após mais de 540 milhões de doses aplicadas em quase três anos, o Brasil vive em 2023 um período de transição na vacinação contra a covid-19, das campanhas emergenciais para a imunização de rotina. A avaliação foi feita na quarta-feira (20) pelo diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Eder Gatti, na Jornada Nacional de Imunizações, realizada pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), em Florianópolis. O diretor disse que os municípios trabalham há praticamente três anos em uma campanha de vacinação contra a covid, mas a mudança no cenário epidemiológico da doença requer a incorporação dessa vacina no calendário do programa. Em 2023, o Ministério da Saúde estendeu a vacinação com doses de reforço bivalentes para toda a população acima de 12 anos de idade. A adesão, porém, foi baixa até mesmo para os grupos prioritários, considerados de maior risco de agravamento da doença. Enquanto 516 milhões de doses de vacinas monovalentes foram aplicadas no país, somente 28 milhões de bivalentes foram administradas, sendo apenas 217 mil em adolescentes. Para 2024, a proposta ainda em elaboração é a adoção de um calendário de vacinação contra a covid-19 na rotina de crianças menores de 5 anos, e doses de reforço periódicas ao menos uma vez por ano para grupos de risco, como idosos, imunocomprometidos (pacientes com sistema imunológico debilitado) e gestantes, seguindo orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Há ainda a possibilidade de inclusão de outros grupos como profissionais de saúde e comunidades tradicionais. “Vacinar toda a população, como a gente vem fazendo, precisa ser revisado nesse momento de transição em que nos encontramos. Fizemos reuniões técnicas e tiramos diretrizes básicas que o Ministério da Saúde vai seguir em discussões internas. Agora, o anúncio disso ainda depende de uma discussão com a gestão tripartite [governo federal, estados e municípios]”, conta Gatti. “Hoje, avançamos tanto na avaliação da recomendação internacional, da OMS, quanto na discussão com os especialistas, mas precisamos avançar nessa pactuação”, complementa. O diretor do PNI pretende iniciar uma estratégia de vacinação de rotina contra a covid-19 no início de 2024, para substituir o “caráter de excepcionalidade”, com constantes alterações, que ainda dita o ritmo da imunização contra a doença. “A covid-19 precisa deixar de ser uma estratégia de campanha e passe a ser uma recomendação permanente. Esperamos fazer anúncios oficiais com a estratégia mais completa antes do fim do ano”. Gatti ressalta que a vigilância das variantes deve ser constante, porque são elas que determinaram as ondas de infecção desde o início da pandemia. Esse comportamento difere de outras doenças de transmissão respiratória, cujas incidências são mais influenciadas pelas estações do ano. Ainda que seja importante ter vacinas atualizadas contra essas variantes, ele argumenta que mais importante é garantir que a vacinação aconteça. “O SAGE [grupo consultivo de vacinação da OMS] não fala tanto de qual é a vacina que deve ser feita. A OMS pauta como deve ser a composição da vacina, agora sobre qual vacina usar existe uma certa liberdade”, pondera o diretor do PNI, que adianta que o posicionamento do programa será disponibilizar as vacinas disponíveis preferencialmente na última versão licenciada e atualizada contra variantes. “As próximas aquisições do Ministério da Saúde vão seguir essa lógica. Provavelmente serão vacinas de RNA mensageiro com as composições colocadas conforme licenciamento”. >> Veja aqui o especial 50 anos de vacina para todos Para garantir vacinas nacionais da plataforma RNA mensageiro, mais versátil na luta contra o coronavírus, o Ministério da Saúde tem apoiado desenvolvimentos próprios do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) e do Instituto Butantan. Gatti considera que o ideal é que uma tecnologia nacional de RNA mensageiro possa estar à disposição do PNI, uma vez que as vacinas contra covid-19 oferecidas por esses laboratórios até o momento são de outras plataformas. “A gente espera começar os ensaios clínicos dessa plataforma de vacina brasileira de RNA logo. Essa é uma tecnologia que é importante a gente dominar, porque ela permite desenvolver vacinas de uma forma mais rápida e para outros agentes infecciosos também. A gente precisa buscar isso e está nesse caminho”. Corrida contra o vírus O secretário do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria e representante da SBIm em Pernambuco, Eduardo Jorge da Fonseca, descreve que a transição para uma vacinação de rotina contra a covid-19 está em discussão em todo o mundo. O Reino Unido, por exemplo, decidiu adotar a recomendação da vacina aos grupos prioritários sugeridos pela OMS. Já outra parte da Europa e os Estados Unidos estenderam a vacinação a toda a população. “No momento atual, temos evidências da importância de manter os reforços com as vacinas bivalentes disponíveis no Brasil. Não há consenso se devemos revacinar todas as pessoas. Provavelmente, também aqui, adotaremos vacinar os grupos de maior risco com a vacina atualizada. Mas precisamos garantir o aumento da cobertura das vacinas já disponíveis, principalmente da pediátrica”. A corrida constante para manter as vacinas atualizadas contra as cepas circulantes tem sido vencida pelo coronavírus SARS-CoV-2, que continua a sofrer novas mutações para adquirir escape imunológico. As vacinas continuam comprovadamente efetivas para redução da gravidade de suas infecções, mas não conseguem neutralizá-las nem bloquear o vírus, que está sempre um passo à frente em sua evolução acelerada. Um exemplo disso é a vacina monovalente contra a variante XBB, que chegou aos Estados Unidos em um momento em que a variante dominante era a EG.5, e já com a BA.2.86 em ascensão. “Com a covid, o tempo passou a correr muito mais rápido”, alerta Fonseca. “Precisamos, sim, de uma vacina com uma proteção mais prolongada, que seja à prova de variantes”. Apesar dessa necessidade, ele reforça que as vacinas atuais conseguem reduzir de forma importante as chances de internação ou morte por covid-19, mesmo quando não estão diretamente atualizadas com a “versão mais recente” do coronavírus. Por isso, é preciso ampliar a cobertura vacinal com as doses de reforço bivalente e proteger também as crianças que não tiveram acesso ao esquema inicial de duas doses. Salto evolutivo O desenvolvimento de uma vacina genérica que proteja não apenas contra
PNI prepara inclusão das vacinas de covid-19 no calendário de rotina
Após mais de 540 milhões de doses aplicadas em quase três anos, o Brasil vive em 2023 um período de transição na vacinação contra a covid-19, das campanhas emergenciais para a imunização de rotina. A avaliação foi feita na quarta-feira (20) pelo diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Eder Gatti, na Jornada Nacional de Imunizações, realizada pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), em Florianópolis. O diretor disse que os municípios trabalham há praticamente três anos em uma campanha de vacinação contra a covid, mas a mudança no cenário epidemiológico da doença requer a incorporação dessa vacina no calendário do programa. Em 2023, o Ministério da Saúde estendeu a vacinação com doses de reforço bivalentes para toda a população acima de 12 anos de idade. A adesão, porém, foi baixa até mesmo para os grupos prioritários, considerados de maior risco de agravamento da doença. Enquanto 516 milhões de doses de vacinas monovalentes foram aplicadas no país, somente 28 milhões de bivalentes foram administradas, sendo apenas 217 mil em adolescentes. Para 2024, a proposta ainda em elaboração é a adoção de um calendário de vacinação contra a covid-19 na rotina de crianças menores de 5 anos, e doses de reforço periódicas ao menos uma vez por ano para grupos de risco, como idosos, imunocomprometidos (pacientes com sistema imunológico debilitado) e gestantes, seguindo orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Há ainda a possibilidade de inclusão de outros grupos como profissionais de saúde e comunidades tradicionais. “Vacinar toda a população, como a gente vem fazendo, precisa ser revisado nesse momento de transição em que nos encontramos. Fizemos reuniões técnicas e tiramos diretrizes básicas que o Ministério da Saúde vai seguir em discussões internas. Agora, o anúncio disso ainda depende de uma discussão com a gestão tripartite [governo federal, estados e municípios]”, conta Gatti. “Hoje, avançamos tanto na avaliação da recomendação internacional, da OMS, quanto na discussão com os especialistas, mas precisamos avançar nessa pactuação”, complementa. O diretor do PNI pretende iniciar uma estratégia de vacinação de rotina contra a covid-19 no início de 2024, para substituir o “caráter de excepcionalidade”, com constantes alterações, que ainda dita o ritmo da imunização contra a doença. “A covid-19 precisa deixar de ser uma estratégia de campanha e passe a ser uma recomendação permanente. Esperamos fazer anúncios oficiais com a estratégia mais completa antes do fim do ano”. Gatti ressalta que a vigilância das variantes deve ser constante, porque são elas que determinaram as ondas de infecção desde o início da pandemia. Esse comportamento difere de outras doenças de transmissão respiratória, cujas incidências são mais influenciadas pelas estações do ano. Ainda que seja importante ter vacinas atualizadas contra essas variantes, ele argumenta que mais importante é garantir que a vacinação aconteça. “O SAGE [grupo consultivo de vacinação da OMS] não fala tanto de qual é a vacina que deve ser feita. A OMS pauta como deve ser a composição da vacina, agora sobre qual vacina usar existe uma certa liberdade”, pondera o diretor do PNI, que adianta que o posicionamento do programa será disponibilizar as vacinas disponíveis preferencialmente na última versão licenciada e atualizada contra variantes. “As próximas aquisições do Ministério da Saúde vão seguir essa lógica. Provavelmente serão vacinas de RNA mensageiro com as composições colocadas conforme licenciamento”. >> Veja aqui o especial 50 anos de vacina para todos Para garantir vacinas nacionais da plataforma RNA mensageiro, mais versátil na luta contra o coronavírus, o Ministério da Saúde tem apoiado desenvolvimentos próprios do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) e do Instituto Butantan. Gatti considera que o ideal é que uma tecnologia nacional de RNA mensageiro possa estar à disposição do PNI, uma vez que as vacinas contra covid-19 oferecidas por esses laboratórios até o momento são de outras plataformas. “A gente espera começar os ensaios clínicos dessa plataforma de vacina brasileira de RNA logo. Essa é uma tecnologia que é importante a gente dominar, porque ela permite desenvolver vacinas de uma forma mais rápida e para outros agentes infecciosos também. A gente precisa buscar isso e está nesse caminho”. Corrida contra o vírus O secretário do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria e representante da SBIm em Pernambuco, Eduardo Jorge da Fonseca, descreve que a transição para uma vacinação de rotina contra a covid-19 está em discussão em todo o mundo. O Reino Unido, por exemplo, decidiu adotar a recomendação da vacina aos grupos prioritários sugeridos pela OMS. Já outra parte da Europa e os Estados Unidos estenderam a vacinação a toda a população. “No momento atual, temos evidências da importância de manter os reforços com as vacinas bivalentes disponíveis no Brasil. Não há consenso se devemos revacinar todas as pessoas. Provavelmente, também aqui, adotaremos vacinar os grupos de maior risco com a vacina atualizada. Mas precisamos garantir o aumento da cobertura das vacinas já disponíveis, principalmente da pediátrica”. A corrida constante para manter as vacinas atualizadas contra as cepas circulantes tem sido vencida pelo coronavírus SARS-CoV-2, que continua a sofrer novas mutações para adquirir escape imunológico. As vacinas continuam comprovadamente efetivas para redução da gravidade de suas infecções, mas não conseguem neutralizá-las nem bloquear o vírus, que está sempre um passo à frente em sua evolução acelerada. Um exemplo disso é a vacina monovalente contra a variante XBB, que chegou aos Estados Unidos em um momento em que a variante dominante era a EG.5, e já com a BA.2.86 em ascensão. “Com a covid, o tempo passou a correr muito mais rápido”, alerta Fonseca. “Precisamos, sim, de uma vacina com uma proteção mais prolongada, que seja à prova de variantes”. Apesar dessa necessidade, ele reforça que as vacinas atuais conseguem reduzir de forma importante as chances de internação ou morte por covid-19, mesmo quando não estão diretamente atualizadas com a “versão mais recente” do coronavírus. Por isso, é preciso ampliar a cobertura vacinal com as doses de reforço bivalente e proteger também as crianças que não tiveram acesso ao esquema inicial de duas doses. Salto evolutivo O desenvolvimento de uma vacina genérica que proteja não apenas contra
InfoGripe mantém alerta para aumento de casos de covid-19
Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), segue similar ao da semana passada, no qual se identificou um ligeiro aumento nos casos de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) associadas à covid-19, majoritariamente localizados em estados do Sudeste e do Centro-Oeste, com destaque para o Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás. As informações são referentes à Semana Epidemiológica 37 – de 10 a 16 de setembro – e a análise tem como base os dados inseridos no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) até o dia 18 de agosto. Coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes destaca que a população adulta é a mais afetada e faz um alerta para alguns estados do Sudeste e do Centro-Oeste. “O que continua chamando a atenção é essa retomada do crescimento da covid-19, especialmente no Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás. É um processo lento. O Rio de Janeiro chama um pouco mais a atenção, pois a situação está mais clara, mas São Paulo também já começa a ficar mais evidente”, afirmou Gomes, em nota. Vacinação em dia Em função da retomada que se observa, o pesquisador relembra a importância da vacinação em dia. “Temos a vacina bivalente, agora disponível para a maior parte das faixas etárias. E mesmo para aquelas faixas para as quais a bivalente ainda não está aprovada, estar em dia com a vacina disponível para a sua idade é fundamental, especialmente agora que observamos esse aumento”, destacou. Em relação aos casos gerais de SRAG no país, detectou-se sinal de queda na tendência de longo prazo (últimas seis semanas) e de estabilidade na de curto prazo (últimas três semanas). Já para os vírus da influenza A e para o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), o cenário é de estabilidade ou queda na maioria dos estados. Apesar de ainda ter um volume expressivo no número de ocorrências de rinovírus em alguns estados, principalmente em crianças e pré-adolescentes, há uma tendência de interrupção no crescimento ou início de queda. Fonte
Coberturas vacinais estão melhores que em 2021 e 2022, diz SBIm
Novidades como as vacinas para a dengue e para o vírus sincicial respiratório, além dos obstáculos já conhecidos do Programa Nacional de Imunizações (PNI) como o antivacinismo e a hesitação vacinal serão temas de discussão entre especialistas que vão se reunir de quarta-feira (20) a sábado (23) em Florianópolis, Santa Catarina, na Jornada Nacional de Imunizações. Em entrevista à Agência Brasil, a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), Mônica Levi, diz estar otimista em relação à retomada das coberturas vacinais, cuja queda já começou a ser revertida. “É um trabalho bem árduo, porque quando você consegue causar medo e desconfiança, é muito difícil retomar isso. Mas sou uma pessoa otimista, acho que estamos caminhando. As coberturas vacinais já estão melhores que em 2021 e 2022. Acho que vamos conseguir, mas recuperar todo o estrago demora um pouco para voltarmos a ser um exemplo”, avalia. Presidente da SBIm, Mônica Levi. Coberturas vacinais já estão melhores que 2021 e 2022, diz SBIm. Foto: SBIm/Divulgação A sociedade científica é a organizadora da jornada que será realizada no ano em que o PNI completa meio século de vida. Para além de celebrar, o evento vai contar com um fórum especial de saúde pública em que representantes do Ministério da Saúde, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e secretarias municipais e estaduais de saúde discutirão os próximos passos para a retomada das coberturas vacinais. Confira a entrevista completa: Agência Brasil: Nos últimos anos, a jornada foi realizada no contexto de queda das coberturas vacinais, pandemia de covid-19, aumento do antivacinismo e, agora, com a vacinação de volta às prioridades do Ministério da Saúde. Esses temas deixaram o evento mais “quente”, com discussões que despertaram maior interesse? Se, sim, como essa expectativa impactou a própria organização?Mônica Levi: Eu não tenho essa percepção. Inclusive estamos com um número de inscritos menor que o habitual, mas tem a questão da localização, de ser no Costão do Santinho [em Florianópolis], em um lugar de mais difícil acesso, principalmente para o Norte e Nordeste, e um lugar mais caro. Então, o número de participantes vai ser menor. Agora, para os profissionais da Saúde, esse tema é quente. Nós estamos sempre discutindo e, inclusive, organizando um fórum de saúde pública que é a última atividade do evento, um fórum interativo com PNI, Unicef, Opas, Conass, Conasems, para dar um fechamento na jornada sobre muitos temas. Um fechamento que não é teórico, mas sobre o que podemos nos unir para fazer e que não estamos fazendo até agora. Agora, acho que saturou esse tema na mídia geral. Quando vejo postagem sobre o risco de retorno das doenças controladas no passado pelas baixas coberturas, a minha impressão é de que não tem dado mais ibope na população em geral. Acho que quem se interessa já foi contemplado e já leu, mas a gente ainda não reverteu esse cenário, e o tema tem que continuar sendo falado, tem que continuar vendo os obstáculos. E para os profissionais de saúde interessados o tema é quente, como sempre. As dificuldades na vacinação da covid, a nova variante, o aumento do número de casos. Tudo isso continua sendo assunto atual. Agência Brasil: Nesse cenário de desgaste do tema que você menciona, a comunicação fica ainda mais complicada. É preciso discutir uma inovação na comunicação?Mônica Levi: Sem dúvida. É preciso inovar para sensibilizar de outra forma, ir a pessoas que não estão se importando e achando que a informação não é com elas. As estratégias todas têm que ser repensadas. Estamos em um momento em que a comunicação tem que ser diferente, não tem como fazer como era antes e dava certo. Agência Brasil: A jornada também vai ser um momento de avaliar os obstáculos e os primeiros resultados dessas ações de microplanejamento e multivacinação lideradas pelo Ministério da Saúde?Mônica Levi: Tem bastante espaço dentro da jornada para a saúde pública. Nos 50 anos do PNI e nos 25 da SBIm estamos de mãos dadas. Então, essas temáticas vão ser muito discutidas. Esse microplanejamento já vem acontecendo, com ações pontuais em locais pontuais, diferenciados, e entendendo que o Brasil tem diversas realidades e que é necessário o microplanejamento para atender a todas as demandas e obstáculos, que são diferentes de uma região para outra. Agência Brasil: Sendo essa a primeira jornada desde a decretação do fim da pandemia de covid-19, já vai ser possível fazer uma avaliação mais conclusiva sobre a pandemia e o papel da vacinação no controle dela?Mônica Levi: Não é um tema que eu diria ser o principal. Tem muitas outras coisas, estratégias para a eliminação de meningococos, de HPV e câncer de colo de útero, novas vacinas e novos agentes infecciosos, como o vírus sincicial respiratório, que foi o vírus que causou mais casos de doenças graves e internações de crianças no pós-pandemia. Tem nova vacina de pneumonia, o herpes zoster, que tem vacina no privado, a dengue, com o lançamento de uma nova vacina. Temos novas vacinas incorporadas no calendário da SBIm e no PNI, mudanças de recomendações nos CRIE [Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais]. O programa da jornada está muito completo, com tudo isso incorporado. Não é só covid. Ano passado já tivemos uma jornada presencial, e acho que não mudou muita coisa. O que mudou foi que a OMS decretou o fim da emergência em saúde pública, mas não mudou muita coisa. Mas é claro que vai ter. A primeira mesa já é sobre a covid e o que esperar. A covid não é o foco. Agência Brasil: E qual tema você destacaria como um dos focos?Mônica Levi: Um assunto muito importante que vai ser tratado é a hesitação. Esse obstáculo que não é novo, mas foi superlativado na pandemia, principalmente quando chegaram as vacinas de covid-19. A gente começou a ter recusa de vacinação e hesitação com essas plataformas novas e tudo o que veio como questão política que interferiu muito e deixou o Brasil super dividido. É um trabalho bem árduo,
Em audiência na Câmara, políticos debatem uso medicinal da maconha
A proibição do uso medicinal da Cannabis sativa, planta popularmente conhecida como maconha, foi comparada, nesta terça-feira (19) durante audiência na Câmara dos Deputados, a situações como a proibição do uso de morfina e do cultivo de cana-de-açúcar e da mandioca – plantas que, dependendo do tratamento que recebem, podem resultar em bebidas alucinógenas. A questão foi associada também ao fundamentalismo religioso e ao racismo, uma vez que, no passado, a maconha tinha seu uso associado a negros escravizados. A regulamentação do uso da Cannabis para fins medicinais foi o tema da Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados a pedido da deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ). O evento contou com a participação de políticos e autoridades favoráveis ao uso medicinal da maconha. No Senado, está tramitando o Projeto de Lei (PL) 89/23, que institui a política de fornecimento gratuito de medicamentos com canabidiol pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na Câmara, tramita o PL 399/15, que viabiliza a comercialização de medicamentos que contenham Cannabis sativa em sua formulação. Planta terapêutica “A Cannabis é usada como planta terapêutica há milênios. Seus efeitos são reconhecidos por diversas culturas ancestrais e contemporâneas. Infelizmente sua proibição reflete o quadro de um Brasil marcado não só pelo racismo, porque em parte está associada aos quatro séculos de escravidão no Brasil, mas também pelo avanço de conservadorismo e fundamentalismo religioso, que infelizmente atravanca o que é uma vida mais digna para muitas famílias e muitas pessoas com deficiência”, argumentou Talíria, ao abrir a audiência. A deputada enumerou uma série de benefícios da Cannabis para doenças como fibromialgia, epilepsia e câncer, “entre uma série de outras patologias e modos de viver”. Por isso, acrescentou, é fundamental que o Estado assuma o papel de garantir acesso. “Isso passa por viabilizar produção, e, quando falamos de produção, falamos de preço e do quanto é inviável, por conta da importação, para muitas famílias que não têm acesso aos produtos e medicamentos com valor altíssimo. Falamos também de prescrição e, acima de tudo, de acesso universal garantido pelo SUS, para que essas famílias tenham algum conforto”, complementou. Morfina Vereadora do PSOL-RJ, Luciana Boiteux comparou a proibição do uso medicinal da planta à proibição do uso de morfina, um opioide usado como analgésico em uma série de tratamentos. “Fico imaginando se, no passado, tivessem de batalhar tanto para o acesso à morfina, que é um opioide com muitas finalidades. Não dá para pensar em lidar com a dor de muitos pacientes sem o acesso à morfina”, afirmou. O deputado estadual paulista Eduardo Suplicy, que faz uso da Cannabis medicinal, e a deputada federal Talíria Petrone, em audiência pública que debateu a regulamentação da produção da planta para fins medicinais e terapêuticos – Lula Marques/Agência Brasil Um dos convidados para debater o tema foi o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP), que aproveitou o evento para informar que, no fim do ano passado, foi diagnosticado com doença de Parkinson leve e que faz uso da Cannabis medicinal. “Eu tinha um pouco de tremor nas mãos, uma dor muscular na perna esquerda. Além da medicação convencional que tomei, estou me tratando agora com a Cannabis medicinal desde fevereiro deste ano e posso dizer: estou me sentindo muito bem e ativo. A Cannabis traz uma melhor qualidade de vida para todos”, disse Suplicy. Segundo o deputado, a Cannabis está provocando na medicina “uma revolução comparável à descoberta da penicilina, em 1928”. Ele acrescentou que a planta pode ser considerada o remédio do século 21. “O impacto da Cannabis na saúde humana só é comparável ao impacto da penicilina, pela capacidade de combater bactérias e a eficácia na luta contra várias doenças”, afirmou. “É importante combatermos o estigma contra a Cannabis porque ela promove a qualidade de vida para as pessoas com Alzheimer, ansiedade, artrite, glaucoma, dor crônica, esclerose múltipla, insônia, depressão, esquizofrenia, endometriose, epilepsia, síndrome de Dravet, doença de Parkinson, além das doenças do espectro autista, entre outras tantas. É fundamental garantir, a todos, acesso à Cannabis, proporcionando, assim, acesso à saúde”, acrescentou Suplicy, ao lamentar que o uso da planta ainda não beneficia a todos, uma vez que um frasco de canabidiol pode chegar a custar R$ 1.200. Agenda da Saúde Representando o Ministério da Saúde, Rodrigo Cariri, da Coordenação Geral de Atenção Especializada, informou que a pasta está trabalhando nesta agenda. Entre as atribuições da pasta destacam-se a política de neurologia e a coordenação da saúde da pessoa com deficiência, que acompanha tanto pessoas portadoras do transtorno do espectro autista quanto políticas voltadas a pacientes com dores crônicas. “A gente enxerga os produtos feitos a partir da maconha e de seus derivados como potenciais recursos terapêuticos para um conjunto expressivo de condições clínicas. Consideramos as evidências científicas e tomamos essa posição a partir das análises de evidências disponíveis na literatura. Por isso, temos compromisso inegociável com a ciência e com a vida acima de tudo. É desse lugar que a gente enxerga que os produtos de maconha são potenciais recursos terapêuticos”, disse. Mandioca e cana Segundo Cariri, a proibição da produção da maconha do Brasil poderia ser comparada à proibição da produção de mandioca no país, uma vez que, da mandioca, é possível produzir uma bebida alucinógena. “É como se a gente proibisse a produção de mandioca no país e autorizasse a importação de tapioca”, disse ele, ao lembrar que a autorização para a produção de maconha medicinal poderá resultar na geração de empregos no país. O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, foi além e comparou a proibição da produção de maconha com a produção de cana-de-açúcar. “A cana é utilizada para inúmeras finalidades. Inclusive para a produção de aguardente, que pode, no abuso, resultar em problemas de saúde.” Teixeira lembrou que medicamentos à base de maconha ajudam crianças com epilepsias refratárias, que normalmente têm de 20 a 30 convulsões por dia. “Nenhum outro medicamento dá conta dessas situações”, disse o ministro ao defender que o Brasil se empenhe não apenas na produção, mas em pesquisas voltadas ao
Em audiência na Câmara, políticos aprovam uso medicinal da maconha
A proibição do uso medicinal da Cannabis sativa, planta popularmente conhecida como maconha, foi comparada, nesta terça-feira (19) durante audiência na Câmara dos Deputados, a situações como a proibição do uso de morfina e do cultivo de cana-de-açúcar e da mandioca – plantas que, dependendo do tratamento que recebem, podem resultar em bebidas alucinógenas. A questão foi associada também ao fundamentalismo religioso e ao racismo, uma vez que, no passado, a maconha tinha seu uso associado escravizados. A regulamentação do uso da Cannabis para fins medicinais foi o tema da Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados a pedido da deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ). O evento contou com a participação de políticos e autoridades favoráveis ao uso medicinal da maconha. No Senado, está tramitando o Projeto de Lei (PL) 89/23, que institui a política de fornecimento gratuito de medicamentos com canabidiol pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na Câmara, tramita o PL 399/15, que viabiliza a comercialização de medicamentos que contenham Cannabis sativa em sua formulação. Planta terapêutica “A Cannabis é usada como planta terapêutica há milênios. Seus efeitos são reconhecidos por diversas culturas ancestrais e contemporâneas. Infelizmente sua proibição reflete o quadro de um Brasil marcado não só pelo racismo, porque em parte está associada aos quatro séculos de escravidão no Brasil, mas também pelo avanço de conservadorismo e fundamentalismo religioso, que infelizmente atravanca o que é uma vida mais digna para muitas famílias e muitas pessoas com deficiência”, argumentou Talíria, ao abrir a audiência. A deputada enumerou uma série de benefícios da Cannabis para doenças como fibromialgia, epilepsia e câncer, “entre uma série de outras patologias e modos de viver”. Por isso, acrescentou, é fundamental que o Estado assuma o papel de garantir acesso. “Isso passa por viabilizar produção, e, quando falamos de produção, falamos de preço e do quanto é inviável, por conta da importação, para muitas famílias que não têm acesso aos produtos e medicamentos com valor altíssimo. Falamos também de prescrição e, acima de tudo, de acesso universal garantido pelo SUS, para que essas famílias tenham algum conforto”, complementou. Morfina Vereadora do PSOL-RJ, Luciana Boiteux comparou a proibição do uso medicinal da planta à proibição do uso de morfina, um opioide usado como analgésico em uma série de tratamentos. “Fico imaginando se, no passado, tivessem de batalhar tanto para o acesso à morfina, que é um opioide com muitas finalidades. Não dá para pensar em lidar com a dor de muitos pacientes sem o acesso à morfina”, afirmou. O deputado estadual paulista Eduardo Suplicy, que faz uso da Cannabis medicinal, e a deputada federal Talíria Petrone, em audiência pública que debateu a regulamentação da produção da planta para fins medicinais e terapêuticos – Lula Marques/Agência Brasil Um dos convidados para debater o tema foi o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP), que aproveitou o evento para informar que, no fim do ano passado, foi diagnosticado com doença de Parkinson leve e que faz uso da Cannabis medicinal. “Eu tinha um pouco de tremor nas mãos, uma dor muscular na perna esquerda. Além da medicação convencional que tomei, estou me tratando agora com a Cannabis medicinal desde fevereiro deste ano e posso dizer: estou me sentindo muito bem e ativo. A Cannabis traz uma melhor qualidade de vida para todos”, disse Suplicy. Segundo o deputado, a Cannabis está provocando na medicina “uma revolução comparável à descoberta da penicilina, em 1928”. Ele acrescentou que a planta pode ser considerada o remédio do século 21. “O impacto da Cannabis na saúde humana só é comparável ao impacto da penicilina, pela capacidade de combater bactérias e a eficácia na luta contra várias doenças”, afirmou. “É importante combatermos o estigma contra a Cannabis porque ela promove a qualidade de vida para as pessoas com Alzheimer, ansiedade, artrite, glaucoma, dor crônica, esclerose múltipla, insônia, depressão, esquizofrenia, endometriose, epilepsia, síndrome de Dravet, doença de Parkinson, além das doenças do espectro autista, entre outras tantas. É fundamental garantir, a todos, acesso à Cannabis, proporcionando, assim, acesso à saúde”, acrescentou Suplicy, ao lamentar que o uso da planta ainda não beneficia a todos, uma vez que um frasco de canabidiol pode chegar a custar R$ 1.200. Agenda da Saúde Representando o Ministério da Saúde, Rodrigo Cariri, da Coordenação Geral de Atenção Especializada, informou que a pasta está trabalhando nesta agenda. Entre as atribuições da pasta destacam-se a política de neurologia e a coordenação da saúde da pessoa com deficiência, que acompanha tanto pessoas portadoras do transtorno do espectro autista quanto políticas voltadas a pacientes com dores crônicas. “A gente enxerga os produtos feitos a partir da maconha e de seus derivados como potenciais recursos terapêuticos para um conjunto expressivo de condições clínicas. Consideramos as evidências científicas e tomamos essa posição a partir das análises de evidências disponíveis na literatura. Por isso, temos compromisso inegociável com a ciência e com a vida acima de tudo. É desse lugar que a gente enxerga que os produtos de maconha são potenciais recursos terapêuticos”, disse. Mandioca e cana Segundo Cariri, a proibição da produção da maconha do Brasil poderia ser comparada à proibição da produção de mandioca no país, uma vez que, da mandioca, é possível produzir uma bebida alucinógena. “É como se a gente proibisse a produção de mandioca no país e autorizasse a importação de tapioca”, disse ele, ao lembrar que a autorização para a produção de maconha medicinal poderá resultar na geração de empregos no país. O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, foi além e comparou a proibição da produção de maconha com a produção de cana-de-açúcar. “A cana é utilizada para inúmeras finalidades. Inclusive para a produção de aguardente, que pode, no abuso, resultar em problemas de saúde.” Teixeira lembrou que medicamentos à base de maconha ajudam crianças com epilepsias refratárias, que normalmente têm de 20 a 30 convulsões por dia. “Nenhum outro medicamento dá conta dessas situações”, disse o ministro ao defender que o Brasil se empenhe não apenas na produção, mas em pesquisas voltadas ao tema. Ele
Amputações de pés e pernas em decorrência do diabetes batem recorde
Mais de 282 mil cirurgias de amputação de membros inferiores (pernas ou pés) foram realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) de janeiro de 2012 a maio de 2023. Apenas no ano passado, os registros alcançaram a marca de 31.190 procedimentos realizados, o que significa que, a cada dia, pelo menos 85 brasileiros tiveram pés ou pernas amputados na rede pública. Os dados fazem parte de um levantamento produzido pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), que alerta para o aumento desse tipo de procedimento em todo o país. De acordo com a entidade, há estados onde o volume de amputações aumentou mais do que 200% de 2012 para 2013. “Os dados sugerem uma alta progressiva no número de amputações e desarticulações de membros inferiores no Brasil. O levantamento revela que os dados acumulados em 2023 projetam este ano como o pior da série histórica iniciada em 2012”, destacou a entidade. “A probabilidade desses números serem superados em 2023 já é desenhada a partir dos dados dos 5 primeiros meses do ano. O levantamento aponta que pelo menos 12.753 cirurgias foram realizadas entre janeiro e maio deste ano, número superior aos 12.350 registros para o mesmo período de 2022”, alerta a entidade. Diabetes O estudo também acende um alerta para os cuidados voltados às doenças vasculares, como a síndrome do pé diabético. Dados da SBACV mostram que mais da metade dos casos de amputações envolvem pessoas com diabetes. No entanto, esse tipo de cirurgia em membros inferiores pode também estar relacionado a outros fatores de risco, como tabagismo, hipertensão arterial, dislipidemia, idade avançada, insuficiência renal crônica, estados de hipercoagubilidade e histórico familiar. Outro dado preocupante apontado pela entidade envolve o desconhecimento por parte de pacientes sobre seu estado de saúde. No mundo, a estimativa é que uma em cada cinco pessoas não sabe que tem a doença. Com isso, muitos pacientes chegam ao consultório ou aos serviços de urgência já com complicações do quadro. “Pacientes com diabetes e úlceras nos pés apresentam taxa de mortalidade duas vezes maior em comparação com pacientes diabéticos sem úlceras nos pés. Os submetidos à amputação maior de um membro inferior apresentam baixas taxas de sobrevida”, explica a entidade. Dados da SBACV mostram que cerca de 10% dos pacientes que amputam um membro inferior morrem no período perioperatório, que inclui a fase pré-operatória, a fase operatória e o pós-operatório. Além disso, 30% morrem no primeiro ano após a amputação; 50% no terceiro ano; e 70%, no quinto. “Esse percentual pode ser maior em países em desenvolvimento, já que a procura por assistência médica costuma ocorrer quando a infecção da úlcera está avançada”. Cenário nacional O acúmulo de procedimentos realizados de janeiro de 2012 a maio de 2023, em números absolutos, tem maior expressão nas regiões Sudeste e Nordeste. A primeira é responsável por mais de 42% de todas as cirurgias realizadas no Brasil, com um montante de 118.962 procedimentos. Já no Nordeste, 92.265 amputações ou desmobilizações de membros inferiores foram realizados nesse período. Na sequência, vêm o Sul, com 39.952 registros; o Norte, com 15.848; e o Centro-Oeste, com 15.546 registros. Estados De acordo com o levantamento, o Alagoas foi a unidade federativa que mais sofreu alta no número de amputações, com crescimento de 214% na comparação entre o início e o fim da série histórica – um salto de 182 para 571 procedimentos. Outros estados que registraram alterações expressivas no mesmo intervalo foram Ceará, com variação de 175%; Amazonas, com alta de 120%; e Bahia e Rondônia, com crescimento de 83% na comparação entre 2012 e 2022. Em contrapartida, Roraima e Pernambuco foram os estados onde se observa a menor alta no mesmo método de análise, com crescimento de 12% e 18%, respectivamente. Em números absolutos, os estados que mais executaram procedimentos de amputações de membros inferiores no SUS em 2022 foram São Paulo (59.114), Minas Gerais (29.851), Rio de Janeiro (24.465), Bahia (24.395), Pernambuco (18.523) e Rio Grande do Sul (16.269). Já os estados com o menor número de registros são Amapá (376), Roraima (398), Acre (688), Tocantins (1.356) e Rondônia (1.606). Despesas O estudo destaca que, além de representar um grave problema de saúde pública, o aumento no número de amputações traz fortes impactos aos cofres públicos, consumindo parte das verbas em saúde destinadas aos estados. Em 2022, foram gastos R$ 78,7 milhões em procedimentos desse tipo e, em toda a série histórica, foram gastos R$ 799 milhões, uma média nacional de R$ 2.962,28 por procedimento. Prevenção “No caso do diabetes, cujos pacientes são as maiores vítimas das amputações, descuido que para algumas pessoas são pequenos podem levar a grandes problemas. Um pequeno ferimento pode resultar em infecção, que evolui para um caso grave de gangrena, levantando ao risco de amputação”, alerta a entidade. De acordo com a SBACV, o diabetes impacta a circulação sanguínea e gera o estreitamento das artérias, causando redução dos índices de a oxigenação e nutrição dos tecidos. Além disso, deformações nos pés e alterações de sensibilidade aumentam a chance do surgimento de pequenos ferimentos e potencializam sua evolução para casos mais graves. Estudos apontam que 85% das amputações que têm relação com o diabetes têm início com uma lesão nos pés, que poderia ser prevenida ou tratada corretamente, evitando complicações. Diagnóstico A entidade considera que o atraso no diagnóstico da síndrome do pé diabético faz com que o paciente seja encaminhado ao especialista apenas quando o problema já está em estágio avançado. Pessoas com diabetes devem estar atentas aos cuidados relacionados ao controle do nível glicêmico no sangue e aos sintomas que podem ser observados em autoexames realizados diariamente. “Grande parte dessas amputações poderiam ter sido evitadas a partir de práticas de auto-observação. O paciente bem informado, que se examina com frequência, pode reconhecer a necessidade de uma intervenção precoce já nos primeiros sintomas. Identificar sinais de alerta precoces é imprescindível para reduzir a incidência de complicações”, recomenda. Cuidados Algumas medidas, segundo a SBACV, podem diminuir os riscos de complicações nos pés de
Prevenível por vacina, HPV é a infecção mais associada ao câncer
A vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV) já está disponível gratuitamente no Brasil desde 2014. No entanto, levar a proteção contra esse vírus a crianças e adolescentes tem sido um esforço com resultados muito aquém do necessário. Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) mostram que em 2021 apenas 37% dos adolescentes do sexo masculino receberam essa vacina no país, enquanto o Programa Nacional de Imunizações (PNI) tem como meta imunizar 80% desse público alvo. A importância da imunização contra esse vírus na adolescência se deve ao fato de que parte de seus sorotipos é considerada altamente cancerígena, e a proteção da vacina é maior se realizada antes do início da vida sexual, já que esse vírus é causador de infecções sexualmente transmissíveis (IST). A vacina também é considerada a forma mais eficaz de prevenção, já que o HPV pode ser transmitido em relações sexuais mesmo com o uso de preservativo. A associação do HPV ao câncer supera a de outros agentes infecciosos conhecidos, como os vírus da Hepatite B e C, que podem causar câncer de fígado e leucemia; a bactéria Helicobacter pylori, associada a câncer de estômago, esôfago, fígado e pâncreas; e o vírus Epstein-Barr (EBV), cuja infecção pode evoluir para linfomas e carcinoma nasofaríngeo. A prevenção contra o HPV se torna ainda mais importante pela sua grande circulação. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, estudos indicam que 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas, e essa porcentagem pode ser ainda maior em homens. Estima-se que entre 25% e 50% da população feminina e 50% da população masculina mundial esteja infectada pelo HPV. A maioria dessas infecções, porém, é combatida espontaneamente pelo sistema imune, regredindo entre seis meses a dois anos após a exposição, principalmente entre as mulheres mais jovens. Infecção mais cancerígena A pesquisadora da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede (Didepre) do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Flávia de Miranda Corrêa, conta que o HPV é o agente infeccioso que tem mais associações ao câncer descritas pela medicina. Na mulher, esse vírus é o principal causador do câncer de colo de útero e também está relacionado a câncer na vulva e vagina. No homem, cerca de metade das neoplasias no pênis partem de uma infecção pelo HPV. Além disso, em ambos, o câncer de ânus e de garganta (orofaringe), também entram na lista. “O HPV é um vírus sexualmente transmissível. Então, a transmissão se dá no contato da pele com a pele, mucosa com mucosa, pele com mucosa”, explica a pesquisadora, que por isso afirma que a vacinação é a principal forma de proteção contra o vírus. “A camisinha protege só o pênis. Ela não vai cobrir a bolsa escrotal, não vai cobrir o ânus, não vai impedir o contato da pele com a pele. E também não é comum que se use camisinha desde o início da relação sexual, em massagens, por exemplo. É claro que ela deve ser utilizada porque diminui a possibilidade de contágio, não só pelo HPV, mas por outras infecções. Mas ela não é garantia de que não vai haver infecção pelo HPV”. A vacina contra o HPV deve ser aplicada em meninos e meninas de 9 a 14 anos, em um esquema de duas doses. A segunda dose deve ser aplicada seis meses após a primeira. Essa vacina protege contra os vírus dos sorogrupos 6, 11, 16 e 18, sendo os dois últimos os principais causadores de câncer. “A vacinação antes da exposição ao vírus é a melhor maneira de evitar a infecção. A vacina é altamente eficaz e contém os vírus mais prevalentes”, afirma ela, que reforça a necessidade da vacinação na idade recomendada pelo PNI: “A vacina vai ser eficaz se a pessoa ainda não tiver tido contato com aqueles vírus presentes na vacina. Ela previne, ela não trata. Além disso, a resposta imunológica é melhor nos jovens, quanto mais cedo a vacinação for aplicada, eles desenvolvem uma resposta melhor”. Países que iniciaram a vacinação contra o HPV há mais tempo que o Brasil, como a Austrália, já têm evidências de que a imunização reduziu a incidência dos casos de verrugas, lesões precursoras e do próprio câncer. “Para a gente falta um pouco, até porque nossa cobertura não está excelente”, diz Flávia. Oito em dez casos de câncer O câncer cervical, associado ao HPV em mais de 80% dos casos, é uma das principais causas de mortes de mulheres, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde. Sete em cada 10 casos desse tipo de câncer são resultado de infecções persistentes pelos vírus HPV-16 e HPV-18, e 15% são causados pelos tipos HPV-31, 33, 45, 52 e 58. Nas Américas, a cada ano, cerca de 83 mil mulheres são diagnosticadas com câncer cérvico uterino e mais de 35 mil mulheres morrem pela doença – mais da metade, antes dos 60 anos. A pesquisadora do INCA explica que a evolução desses casos depende muito do quão rápido eles são diagnosticados. Quanto mais precoce for a detecção, maior a chance de cura e menor o sofrimento do paciente. Além de salvar a vida, a rapidez no diagnóstico também reduz a possibilidade de sequelas, como cirurgias mutiladoras nos órgãos afetados. “No câncer do colo de útero e de ânus, que têm lesões precursoras, lesões malignas, a gente pode tratar essas lesões precocemente e o câncer nem se desenvolver. Para o câncer de colo do útero tem o rastreamento, que permite detectar essas lesões ou o câncer em estágio inicial”, explica. “Se for identificado em estágio avançado, vão ser necessárias cirurgias mutiladoras, pode ocorrer uma sobrevida com pouca qualidade de vida, e um maior risco de mortalidade. Por isso, a gente tem que pensar que a vacinação tem esse benefício enorme, não só para as mulheres”. Tratamento Uma pessoa infectada pelo vírus HPV deve tratar os sintomas para evitar que eles possam evoluir para um quadro de câncer. A presença do vírus pode demorar anos para
Rio permanece com tendência de alta de casos de covid-19
O Boletim de Monitoramento de Dados Precoces da Covid-19 da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES), divulgado nesta segunda-feira (18), aponta tendência de alta nos casos positivos da doença, identificados por exames de antígeno e RT-PCR. Segundo a secretaria, apesar do aumento de notificações, a rede assistencial não está sobrecarregada de atendimentos, e sem pressão na capacidade instalada. A taxa de positividade em ambos os exames (RT-PCR e antígeno) manteve tendência de alta passando de 18% e 36% para 20% e 39%, respectivamente. Na rede privada, houve redução no número de exames realizados para os testes laboratoriais (RT-PCR) e teste rápido (antígeno). Já na rede pública, houve aumento da procura pelo teste rápido (antígeno) nas unidades básicas de saúde, mas não houve aumento do exame RT-PCR. “Essa atualização nos indica que, neste momento, não há uma mudança significativa no cenário epidemiológico. A recomendação da SES-RJ segue a mesma, para que todos atualizem o esquema vacinal com a bivalente, especialmente os idosos e os grupos prioritários”, afirmou, em nota, Claudia Mello, secretária estadual de Saúde. Segundo a pasta, as UPAs estaduais registraram estabilidade nos atendimentos de adultos, enquanto que houve queda no atendimento de crianças na última semana. A análise leva em consideração as semanas epidemiológicas 36 (de 3 a 9 de setembro) e 37 (de 10 a 16 de setembro). Subvariante Éris Até o momento, foram confirmados seis casos da nova subvariante Éris na cidade do Rio de Janeiro. Diante do atual cenário epidemiológico, novos casos sequenciados serão divulgados no Painel de Monitoramento da Covid-19, assim que confirmados por laboratório. Os casos são investigados pela secretaria de Saúde da capital fluminense. A SES reforça a recomendação para que todos que ainda não tomaram a dose da vacina bivalente procurem os postos de saúde. Fonte
No Rio, doação de medula óssea salva vida da menina Isabela
Em junho de 2020, durante a pandemia de covid-19, a pequena Isabela, então com 3 anos de idade, apresentou febre e lesões pelo corpo. No começo de julho, veio o diagnóstico: tratava-se de linfohistiocitose hemofagocitica, que é uma síndrome de hiperativação imunológica. Segundo a mãe da menina, a médica Carolina Monteguti Feckinghaus, Isabela fez tratamento, mas a doença voltou e ela teve indicação de que precisava de um transplante de medula óssea. No sábado (16), comemorou-se o Dia Mundial do Doador de Medula Óssea. Em setembro de 2020, Isabela começou a fazer quimioterapia. Os pais já estavam procurando um doador compatível no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). Em fevereiro de 2021, Isabela fez o primeiro transplante, com material do próprio pai, que tinha 50% de compatibilidade. Inicialmente, o transplante deu certo, disse Carolina à Agência Brasil. A menina ficou sete meses bem, mas teve uma recidiva, lembrou a médica. Em outubro de 2021, Isabela voltou a fazer quimioterapia e entrou novamente no Redome, à procura de novo doador. Quando descobriu a doença de Isabela, Carolina estava no fim da gestação da segunda filha. Foram feitos testes, mas a irmã não era compatível. “Muita gente nos ajudou fazendo campanha, porque era preciso que as pessoas se inscrevessem, pois, até então, não tinha ninguém.” Doadora alemã A irmã de Carolina, que mora nos Estados Unidos, fez campanha lá, sem sucesso. Os sogros da médica, que são da Alemanha, incentivaram também os cidadãos daquele país e conseguiram uma doadora compatível. A mulher doou a medula na Alemanha no dia 3 de janeiro de 2022. O material veio para o Brasil de avião e, no dia 5 de janeiro, Isa fez o segundo transplante. “Foi uma bênção”. O sonho de Carolina e da família agora é conseguir ir à Alemanha, conhecer a doadora e agradecer. Mas, para isso, é preciso esperar um ano e meio após a cirurgia para pedir ao Redome a quebra de sigilo. Os papéis com essa finalidade já foram preenchidos e encaminhados. “Essa pessoa [doadora] também tem que querer. A gente está aguardando a resposta”. A única coisa que Carolina sabe é que a doadora tem a sua idade: 39 anos. Segundo a mãe. Isabela, que completa 7 anos em dezembro, “está super bem”. A menina está refazendo todas as vacinações que havia feito antes dos transplantes. “Demorou para que as células de defesa dela ficassem fortes o suficiente para produzir anticorpos. Mesmo a medula nova funcionando, as células eram muito imaturas. Ela começou a fazer as vacinas de novo um ano depois do transplante e ainda está fazendo. Não terminou o esquema vacinal porque algumas vacinas só podem ser tomadas dois anos depois do transplante”. Contudo, Isabela já pode ir à escola, sair, normalmente. A reação da pequena surpreendeu toda a família. A mãe destaca que as crianças têm uma visão diferente das coisas. Isabela, por exemplo, embora tenha sido internada várias vezes, brincava sempre. A família diz que teve apoio de toda a equipe do hospital, envolvendo fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos. “Muita gente com jeito com criança nos ajudou. Teve épocas em que Isabela não conseguia andar.” A pediatra geral fez o diagnóstico e acompanhou a criança em todas as internações e tratamentos, que duraram 197 dias. No meio do processo, foi necessária uma cirurgia abdominal, e a menina ficou muitos dias em uma unidade de terapia intensiva (UTI). “Foi um tempo difícil, mas agora passou.” Carolina contou que Isabela valoriza coisas que outras crianças de 6 anos não valorizariam, como dormir na própria cama, comer a comida feita em casa. “É outra vida.” Doação O primeiro transplante de medula óssea foi feito na década de 1950. Hoje, milhões de pessoas já receberam células-tronco do sangue para diversos tratamentos de câncer, além de outras doenças sanguíneas e da medula. O Dia Mundial do Doador de Medula Óssea foi criado pela associação global de registros de células-tronco do sangue (WMDA, do nome em inglês World Marrow Donor Association) e é comemorado no terceiro sábado de setembro. A data visa conscientizar as pessoas sobre a importância da doação de medula óssea. Dados do Redome de julho deste ano revelam que o Brasil tem 5.656.183 doadores cadastrados, para uma média de 650 pacientes em busca de doadores não aparentados. As mulheres são maioria entre os doadores, com 3.236.459. Os homens somam 2.419.453. A Região Sudeste concentra o maior volume de doadores (2.489.829), seguida pelo Sul (1.163.106) e pelo Nordeste (1.037.830). O maior número de doadores está na faixa de 35 a 39 anos (1.031.778). O Redome é coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Ministério da Saúde. Chances A hematologista Juliane Musacchio – Idomed/Divulgação A hematologista Juliane Musacchio, professora do Instituto de Educação Médica (Idomed), disse à Agência Brasil, que a doação de medula óssea pode ajudar pacientes das mais variadas doenças, entre as quais leucemia aguda, aplasia de medula óssea, alguns tipos de linfoma, doenças metabólicas e hereditárias, anemia falciforme e mieloma múltiplo. Juliane destacou que o Brasil tem o terceiro maior banco de medula óssea do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha, mas com a vantagem de ser público, diferentemente desses dois países, onde os sistemas são privados. “Viva o Sistema Único de Saúde (SUS)!”, exclamou. Segundo a hematologista, o grande problema é que muitas pessoas, após entrarem no Redome, esquecem de atualizar os dados referentes a endereço, e-mail e telefone. Daí, quando são identificadas como doadores compatíveis, acabam não sendo encontradas. “Estima-se que 30% dos doadores (do Redome) não atualizam o cadastro”, informou. De acordo com a médica, é preciso ampliar o número de doadores no Brasil, para aumentar as chances de encontrar medulas compatíveis. Para se cadastrar como doador de medula óssea, o voluntário tem que ter entre 18 e 35 anos, estar bem de saúde, não pode ter doenças infecciosas ou incapacitantes, como HIV e hepatite B e C, nem câncer, doenças hematológicas e do sistema imunológico, como lúpus, por exemplo. O doador permanece no Redome
Veja a linha do tempo do Programa Nacional de Imunizações
A criação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) partiu de estratégias bem-sucedidas que eliminaram a varíola do Brasil dois anos antes, em 1971. Seu fortalecimento com campanhas de grande porte, na década de 1980, também venceu a poliomielite, em 1989. Mas a robustez e a capilaridade conquistadas pelo programa, que hoje tem quase 40 mil salas de vacina, vieram principalmente com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), a redemocratização do Brasil e a Constituição de 1988. O coordenador do PNI, Éder Gatti, conta que foi o direito universal à saúde estabelecido pelo SUS que levou a vacinação de rotina a todos os brasileiros, permitindo um controle ainda mais amplo de doenças infecciosas. “O programa ganhou muita força com as campanhas contra a pólio, mas se consolidou mesmo na rotina ao longo dos anos 1990, quando teve um índice de altas coberturas vacinais. Isso fez com que várias doenças deixassem de existir no território nacional. Não temos casos de pólio desde 1989, não temos rubéola congênita. A meningite, a coqueluche e o sarampo estão controlados. Tudo isso graças ao PNI.” Calendário atual garante 18 vacinas de rotina para crianças e adolescentes – Valter Campanato/Agência Brasil Gatti relembra que a criação do SUS resultou no aumento do acesso da população à saúde, com a abertura de novas unidades básicas em todo o país. Consequentemente, essas unidades vieram com novas salas de vacinas. Essa estrutura fortaleceu a vacinação de rotina ao longo da década de 1990, impulsionou o complexo econômico e industrial da saúde no país para atender à demanda do PNI e permitiu o acréscimo de novos imunizantes a partir dos anos 2000. “Tivemos, a partir de 2006, um grande incremento de novas vacinas e hoje temos um calendário que garante, na rotina, 18 vacinas para crianças e adolescentes, sem contar os calendários da gestante, adulto e idoso, vacinação de covid-19, que fez grande diferença na pandemia de covid-19, e a vacinação anual contra o Influenza.” O historiador Carlos Fidelis Ponte, presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), conta que o SUS incorpora à saúde pública os trabalhadores informais, os trabalhadores do campo, as donas de casa e as empregadas domésticas. Essa população era descoberta pelos convênios do Instituto Nacional da Previdência Social (INPS) e do Instituto de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) por não ter carteira assinada, e dependia de poucas unidades públicas ou das filantrópicas. Tudo isso exigiu uma ampliação da rede de unidades de saúde, principalmente para locais distantes dos grandes centros e capitais. Nessa expansão, ele conta que o PNI ajudou na organização do SUS. “É uma via de mão dupla. O PNI ajudou a organizar a estrutura do SUS. O Programa Nacional de Imunizações, por exemplo, começa a organizar as cadeias de frios, porque, para a vacina de rotina chegar a uma cidade no interior, é preciso garantir o transporte e o armazenamento. E o PNI já tinha a vigilância epidemiológica como um de seus objetivos. A ideia de aperfeiçoar a vigilância já estava colocada no PNI, assim como o controle de qualidade dos insumos.” A dimensão do Programa Nacional de Imunizações também foi um instrumento usado para fortalecer o complexo econômico e industrial da saúde, o que ganhou ainda mais expressão a partir do SUS. Com uma população enorme, o Brasil conseguiu, desde a epidemia de meningite, na década de 1970, negociar contratos de importação de vacinas que também incluíam a transferência da tecnologia para laboratórios públicos nacionais. Produção de vacinas em Bio-Manguinhos – Bio-Manguinhos/Fiocruz “Isso inaugurou uma estratégia política que alimentou Bio-Manguinhos durante anos e alimenta até hoje”, define Fidelis Ponte, que cita também a transferência de tecnologia da vacina AstraZeneca contra covid-19 para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “Não existe de forma organizada no mundo um mercado como o SUS, que tenha esse poder de compra.” Especialista em imunizações e ex-coordenadora do PNI, Carla Domingues destaca que o programa se fortaleceu porque foi considerado uma política de Estado, tendo se estruturado desde a ditadura militar e passado por diferentes governos democráticos. Ela concorda que, apesar disso, ele só se torna o maior programa público do mundo a partir da criação do SUS. “O PNI foi um exemplo de sucesso porque todos os princípios do SUS foram efetivamente consolidados. Começando pela universalidade, que define que todas as vacinas cheguem a toda a população brasileira, seja ela dos grandes centros, cidades médias, população ribeirinha ou indígena”, afirma Carla Domingues, que esteve à frente do programa brasileiro por 13 anos. Fonte
PNI faz 50 anos; agentes comunitários e técnicos garantem capilaridade
Há sete anos, uma simples ida ao mercado já não é a mesma para Maria Lúcia de Araújo, de 54 anos. Seja na área de laticínios ou na de produtos de limpeza, ela não consegue evitar falar sobre vacinas, consultas médicas ou exames que precisam ser agendados. A moradora de Irajá, na zona norte do Rio de Janeiro, é agente comunitária de saúde e mora na região que percorre diariamente para levar a capilaridade do Sistema Único de Saúde (SUS) à casa dos pacientes. Referência na rua, na padaria, ou no supermercado, Maria Lúcia está sempre tirando dúvidas. “Eu gosto muito, porque é um modo de estar junto da população e das pessoas que realmente estão precisando de um suporte e de uma ajuda. Você adquire muito conhecimento e consegue entender certas coisas que, quando você está fora da área da saúde, você não entende”, conta ela, que é responsável por visitar e acompanhar o andamento de tratamentos de quase 800 pessoas. Secretaria de Saúde faz busca ativa de pacientes no Rio, por Tomaz Silva/Agência Brasil Uma parte importante do seu trabalho é, mensalmente, conferir por que uma criança que deveria ter sido vacinada não foi levada à Clínica da Família Pedro Fernandes Filho para receber a imunização. Quando o sistema indica que falta alguma dose, Maria Lúcia vai a campo em busca de explicações e, principalmente, de proteger a criança contra as doenças imunopreveníveis. “A gente acompanha desde a barriga, no pré-natal, e depois e vamos acompanhando até os 7 anos. E a gente tem que ter o cuidado de saber se a mãe está dando vacina, se está indo às consultas. E, quando ela falta, a gente vai atrás para saber o que está acontecendo. Como já tem esse vínculo, elas não ficam melindradas e contam para gente por que não vieram. É um vínculo que a gente cria com as mães desde a gravidez.” O trabalho de busca ativa de vacinação, que significa resgatar quem não se vacinou, é considerado uma das estratégias mais importantes na recuperação das coberturas vacinais do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que completa 50 anos em 2023. E quem arregaça as mangas e gasta as solas em busca dessas crianças, adultos e idosos são os 295 mil agentes comunitários de saúde do país e os 193 mil enfermeiros e técnicos de enfermagem envolvidos com a imunização nas unidades de saúde, que também aplicam os imunizantes na casa das pessoas que não consegue chegar até a sala de vacina mais próxima. A enfermeira Mayra Moura, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, trabalha com ações de capacitação para profissionais da ponta, e destaca que o papel de agentes comunitários como Maria Lúcia é essencial para que as vacinas cheguem a todos, inclusive em regiões em que famílias podem ter dificuldades de se deslocar até uma unidade de saúde ou sala de vacina. Rio de Janeiro (RJ) – Mayra Moura para a matéria sobre rotatividade de profissionais na vacinação impacta coberturas Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação – Arquivo pessoal/Divulgação “O agente comunitário de saúde é imprescindível. É ele que consegue dar capilaridade ao programa. É ele que tem o acesso a cada casa, de cada pessoa. Ele é uma pessoa muito vista pela comunidade, então, ele é uma referência. Esse trabalho do agente que está na ponta, que conhece as famílias, é muito importante para a adesão dessas famílias”, sublinha. “O sucesso do programa, primeiro, é porque a gente consegue essa capilaridade que vem com os agentes, as estratégias de saúde da família, e também porque a equipe dentro da sala de vacina vai a campo também fazer as vacinações. Eles são os profissionais de referência da população.” Quando Maria Lúcia entra em contato com uma família que não vacinou a criança no momento recomendado e fica constatado que aqueles responsáveis não vão conseguir levá-la à sala de vacina, o técnico de enfermagem João Victor Pinho, de 23 anos, carrega sua caixa térmica com as doses necessárias e a acompanha para colocar em dia mais uma caderneta de vacinação. O técnico conta que é preciso informar devidamente cada responsável antes de aplicar as vacinas, principalmente em tempos de fake news. “Os pais são informados de quais são as vacinas, contra o que elas protegem e quais são as reações que podem acontecer. Isso é importante principalmente depois dos períodos que passamos, em que foi tão falado que vacinas fariam mal. As pessoas estão com mais desconfiança”, conta ele. “Ver as crianças desde a primeira vacina e fazer esse acompanhamento é muito gratificante. Esse sistema de busca ativa que nós realizamos, com essa importância de irmos atrás, é porque reconhecemos que há uma necessidade, mas muitas vezes não há uma disponibilidade dos pais e responsáveis. É uma experiência única acompanhar a trajetória das crianças que vem aqui se vacinar”, completa. Uma das visitas de Maria Lúcia e João Victor foi à casa dos trabalhadores autônomos Danielly Martins, de 23 anos, e Patrick Rodrigues Viana, de 26. O casal tem dois filhos, e o mais novo, Murillo Luiz Martins, de 7 meses, acabou perdendo a terceira dose da vacina pentavalente, que previne contra tétano, difteria, coqueluche, hepatite B e contra o vírus Haemophilus influenzae B, causador de meningites e pneumonias. Para quem está na informalidade, perder um dia de trabalho muitas vezes não é uma opção, conta Danielly, que também aproveitou a visita para discutir métodos contraceptivos com Maria Lúcia. Rio de Janeiro (RJ), 16/09/2023 – A família do bebê Murillo Luiz Martins, sua irmã Maria Helena Martins, os pais Patrick Rodrigues Viana e Danielly Martins durante atendimento para vacinação em residência, em Irajá, na zona norte da capital fluminense. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil – Tomaz Silva/Agência Brasil “Só de eu não ter que ir na clínica, com o tanto de coisa para fazer no meu trabalho e em casa, já me ajudou bastante”, conta Danielly, que estava incomodada com o atraso da vacinação, mas não conseguia reservar um horário entre a rotina de trabalhar e levar a
Tempo excessivo e pouca distância de telas contribuem para miopia
Em 2020, cerca de 30% da população mundial era diagnosticada com miopia, sendo que apenas 4% eram classificados como altos míopes – pacientes que superam 5 graus. As projeções, entretanto, indicam que, em 2050, em torno de 50% da população global será considerada míope, e 10%, altos míopes. A preocupação dos oftalmologistas vai além da simples dificuldade dos pacientes em enxergar de longe, já que a miopia está fortemente associada a doenças oculares graves, como o glaucoma e o descolamento de retina, que podem levar à cegueira. Em entrevista à Agência Brasil, o diretor da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Ian Curi, detalhou especificamente o aumento no diagnóstico de miopia em crianças e sua relação direta com o tempo de tela – sejam smartphones, tablets ou televisores. Curi alerta para os casos da chamada miopia precoce, quando os sinais do distúrbio aparecem até mesmo em menores de 5 anos, mas deveriam ser observados somente no início da adolescência. Para o especialista, a máxima insistentemente repetida no passado permanece na atualidade: o tempo de tela deve, sim, ser monitorado na infância – quanto mais longe do dispositivo eletrônico, melhor. Curi aponta ainda para outro fator fortemente associado à miopia infantil: o confinamento. Segundo o médico, crianças que não são frequentemente expostas a ambientes externos naturalmente iluminados têm maior risco de desenvolver o distúrbio. Como a miopia tende a crescer até se estabilizar, por volta dos 20 anos, quanto mais precoce é o diagnóstico, maior a chance da criança se tornar um adulto que terá de lidar com as doenças associadas e a possibilidade de cegueira. Mesmo a cirurgia refrativa para correção de grau não ajuda por completo, já que a visão melhora, mas os riscos de quadros correlacionados se mantêm. Eis os principais trechos da entrevista: Agência Brasil: Existe um aumento no número de crianças diagnosticadas com miopia nos consultórios de oftalmologia – inclusive entre as crianças que não têm o traço genético? O diretor da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Ian Curi, defende a redução da exposição às telas de dispositivos para prevenir a miopia em crianças. Foto: Arquivo pessoal Ian Curi: Existe um aumento dessa prevalência, sim. É um fenômeno global. Existem, além da genética, fatores comportamentais e ambientais que podem levar a esse aumento. O número de horas e a utilização da visão de perto, principalmente por meio de celulares e tablets e demais aparelhos eletrônicos portáteis, realmente estão associados ao desenvolvimento de miopia mais precoce e também à progressão do grau daqueles pacientes que já têm o diagnóstico. Agência Brasil: O que seria considerado desenvolvimento precoce da miopia? Ian Curi: Aqueles graus de miopia baixos, em geral, surgem no início da adolescência, com 11 ou 12 anos. Eles começam com um grau baixo e vão, ao longo da adolescência, desenvolver uma progressão leve e terminar com graus relativamente baixos a moderados, ou seja, são pacientes que não vão desenvolver alta miopia. Mas a gente tem crianças desenvolvendo miopia hoje com 4, 5, 6 anos de idade. E, quanto mais precoce o início da miopia, mais chance dessa miopia ser muito alta. Além de fatores genéticos, que infelizmente não são modificáveis, isso está associado a fatores ambientais como o uso de telas em excesso. Outro fator que contribui para isso é o confinamento. Crianças que não se expõem a ambientes externos, amplos, iluminados pela luz do dia também desenvolvem mais miopia. Então, uma receita pra fazer com que as crianças não desenvolvam miopia ou não progridam tanto em grau seria o menor uso de eletrônicos portáteis e maior tempo de exposição a atividades ao ar livre na claridade natural do dia, que funciona como um elemento protetor. Agência Brasil: No caso da miopia, quanto mais cedo ela aparece, maior a chance de atingir altos graus na vida adulta? Quando o quadro se estabiliza? Ian Curi: Quanto mais precoce o início da miopia, maior será, provavelmente, o grau final. O grau de miopia progride até entre os 19 e os 20 ou 21 anos de idade. De maneira geral, se você começa muito precocemente, você tem muitos anos pela frente para subir aquele grau. A sua chance de atingir alta miopia, graus acima de 5, e acabar tendo outras doenças associadas à alta miopia aumenta muito. Agência Brasil: Alguns especialistas recomendam que, se os pais tiverem de escolher um tipo de tela a ser utilizada pela criança, que seja a maior possível. Funciona? Ian Curi: Na verdade, isso tem a ver com a distância. No caso de telas maiores, você tende a colocá-la a distâncias maiores. Quanto mais próximo aos olhos, maior a influência para o desenvolvimento da miopia. A gente tem que priorizar telas que fiquem distantes dos olhos. A televisão, nesse sentido, não é tão maléfica quanto o celular, que fica muito mais próximo. Temos até escolas na parte oriental do globo, na Ásia, que desenvolveram mecanismos pra fazer com que as crianças não trabalhem tão perto, nem do papel, nem das telas. Eles colocam verdadeiros anteparos para fazer com que a criança mantenha distância da tela. Essas escolas também estão fazendo aumento das janelas, redução do número de cortinas, para que entre a claridade natural do dia dentro das salas de aula. Agência Brasil: Aquelas broncas que a gente costumava escutar da mãe e da avó, pedindo que ficássemos longe da televisão, continuam valendo, então? Ian Curi: Sim. E ainda tem outra coisa: as avós também falavam que a leitura em luz muito baixa também parece estar envolvida na progressão da miopia. A avó, quando reclamava que o menino estava lendo com luz baixa ou pouca luz, tinha razão, como quase sempre as avós têm. Esta é outra recomendação: a leitura deve ser feita em ambientes claros e iluminados, não em luz baixa. Agência Brasil: Qual a orientação da Sociedade Brasileira de Oftalmologia quanto à frequência com que a criança deve ser avaliada por um especialista? Ian Curi: Considerando crianças saudáveis, sem queixas, para exame de rotina, a recomendação é, quando possível, que passem pelo primeiro exame entre 6 meses e