Moradores de comunidades ribeirinhas do Amazonas começaram a receber capacitações técnicas para atuar voluntariamente na proteção de praias e áreas de desova de quelônios no período de seca. A iniciativa percorrerá quatro unidades de conservação federais e visa garantir a reprodução das espécies, ameaçadas de extinção pelo consumo desenfreado de carne e ovos. A primeira formação foi realizada na Reserva Extrativista (Resex) Baixo Rio Branco-Jauaperi, na primeira semana de junho.
A ação é realizada pela Wildlife Conservation Society (WCS) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em parceria com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), no âmbito do projeto regional Conservando Juntos.
Neste primeiro momento, foi realizada a mobilização e formação dos comunitários. Após a formação, os monitores definirão as áreas de desova a serem protegidas, farão o monitoramento das praias, marcando e vigiando ninhos, construindo chocadeiras para transferência e contagem dos ovos, para depois acompanhar o nascimento, marcar os filhotes de quelônios, e soltar os animais na natureza.
“Não é possível pensar em conservação da natureza sem envolver as pessoas. Neste trabalho, o papel das comunidades é primordial. É uma ação de conservação, ciência e educação ambiental realizada de forma participativa pelas populações ribeirinhas. As comunidades protegem a praia e em troca também têm benefícios: um meio ambiente mais equilibrado, rios mais limpos e a garantia de que aquelas espécies continuarão vivas para que as futuras gerações conheçam”, destacou a especialista em quelônios da WCS Brasil, Camila Ferrara.
Na Resex Baixo Rio Branco-Jauaperi, os cursos foram realizados nas comunidades Itaquera e Xixuaú. Cerca de 40 pessoas, que vivem em quatro comunidades e duas localidades, participaram. Assim, a WCS inicia o primeiro ciclo de monitoramento e proteção dos quelônios e das praias de desova nesta área protegida.
A iniciativa levará ainda formação para três comunidades do Parque Nacional do Jaú, nove na Resex Rio Unini, ambas na região do Rio Negro, e quatro na Resex do Lago do Capanã Grande, no Rio Madeira. Em parceria com o ICMBio, a WCS promoverá ainda a formação de gestores de unidades de conservação federais, que poderão replicar os conhecimentos para mais comunidades.
Mesmo diante da seca histórica dos rios no Amazonas, em 2023, o trabalho realizado em parceria entre WCS e ICMBio formou 115 monitores e resultou na soltura de mais de oito mil filhotes de quelônios na natureza. Entre as espécies protegidas estão a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), iaçá (Podocnemis sextuberculata), irapuca (Podocnemis erythrocephala) e tracajá (Podocnemis unifilis).
Foto: Fernando Carlos/ICMBio