O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou a interlocução com a parte do MDB que apoia sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto.
O petista participou de um jantar com senadores, na noite de segunda-feira (11), na residência do ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (CE), em Brasília.
No encontro, indicou que está disposto a fazer alianças e compor um eventual governo que vá além da esquerda. Lula ouviu dos presentes o conselho para que evite o discurso voltado a agradar apenas ao seu campo político e concentre a campanha em três pontos: “bolso, bucho e democracia” – uma referência aos temas inflação, renda e ataques ao regime democrático, considerados fragilidades do presidente Jair Bolsonaro (PL), seu principal adversário em outubro.
Lula, que se reuniu com emedebistas já convertidos, trabalha para tentar atrair siglas posicionadas fora da polarização, mas sem dispensar os sinais dirigidos ao seu grupo fiel.
Na manhã seguinte ao jantar, visitou o acampamento Terra Livre, organizado por grupos indígenas na capital federal. Em discurso, prometeu, caso eleito, criar um ministério para tratar das políticas indígenas. E disse que pretende fazer um “revogaço” de decretos assinados por Bolsonaro na área ambiental.
O petista mantém foco na tática de se apresentar como o principal rival do presidente, mas nada indica no atual cenário que algo próximo de uma “frente ampla” antibolsonarista sonhada pelo PT seja factível no primeiro turno. O próprio MDB e outros partidos que buscam uma chamada terceira via – PSDB, União Brasil e Cidadania – prometem divulgar, em maio, um nome único para a disputa ao Planalto.
Senadores do PT, do MDB, do PSD e da Rede participaram do jantar, idealizado por Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos coordenadores da campanha do ex-presidente.
Segundo participantes, Lula pediu que esses partidos – adversários em eleições anteriores – juntassem os “cacos” em prol de um projeto contra Bolsonaro. O petista acenou aos parlamentares falando que está disposto a rodar o País e pedir votos para deputados e senadores que estiverem com ele.
Até o momento, contudo, a pré-candidatura de Lula não conseguiu superar a órbita de aliados históricos, como o PSB – que serviu de abrigo para o ex-tucano e futuro candidato a vice, Geraldo Alckmin -, o PV e o PCdoB.
No caso do MDB, a divisão em torno da pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MS) reflete a existência de duas correntes antigas no partido. Uma delas, mais próxima do petismo e de Lula, é encabeçada pelo senador Renan Calheiros (AL).
Outra, liderada pelo ex-presidente Michel Temer, sustenta a candidatura da senadora. Enquanto Lula jantava com caciques da legenda, incluindo Renan, Simone Tebet se reunia com Temer e com o presidente da sigla, Baleia Rossi (SP), para tentar fortalecer sua pré-campanha e fazer um contraponto ao grupo antagônico.
Para o cientista político Christian Lynch, professor do Instituto de Estudos Políticos e Sociais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Lula tem feito acenos a antigos aliados, como MDB, PSD e Progressistas, mas os líderes das legendas calculam o preço do embarque e aproveitam o período da pré-campanha para barganhar mais espaço em um eventual governo.
“Há muito tempo para a eleição. É de interesse dos partidos barganhar o máximo possível, obter o máximo de concessões do ex-presidente Lula. No caso do MDB, temos a questão dos palanques regionais. O PT tem aliados importantes do partido na Bahia e em outros Estados da Região Nordeste, mas há um esforço por setores do MDB em viabilizar uma candidatura de centro em torno da senadora Simone Tebet”, avaliou o professor da Uerj.
Fonte: Portal Baré