Com mais de 50 pesquisadores – sendo a maioria brasileiros –, a equipe Brazilian Team participa das semifinais da competição XPRIZE-Rainforest, em Singapura. A iniciativa mobiliza tecnologias inovadoras para a preservação de florestas tropicais.
Para o evento, nos dias 27 e 28 deste mês, o time conta com apoio da empresa de tecnologia climática brCarbon, que emprestou o sensor remoto LiDAR (do inglês Light Detection and Ranging), integrado a um drone que faz o mapeamento de florestas em três dimensões. O uso do dispositivo permite medir a estrutura da vegetação, como altura das árvores, densidade de vegetação, diversidade estrutural e estoques de carbono.
O Brazilian Team está entre as 15 equipes semifinalistas da competição internacional que premiará os primeiros colocados com valores que somam até US$ 10 milhões. A competição começou em 2019, com 800 equipes inscritas. Neste mês de maio, serão realizados os testes em campo.
Otimismo
Para o coordenador da equipe Vinicius Castro Souza, a expectativa em relação à participação nas semifinais é das melhores. “A gente está bem otimista. Acho que estamos bem à frente até, e temos boas chances de ficar nas primeiras colocações nesse prêmio. A final, a gente já deve garantir agora”, disse Souza, que também é professor no Departamento de Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).
À Agência Brasil, Vinícius destacou as habilidades da equipe: “A gente está com um time bastante completo em várias soluções, desde a parte de DNA até a parte dos drones, a parte dos sons dos animais. Estamos com várias soluções para saber que espécies tem na área.”
Quatorze pesquisadores do Brazilian Team viajam na próxima segunda-feira (22) para Singapura. Boa parte da equipe ficará trabalhando de maneira remota, fazendo a análise dos dados coletados. Dos 15 times que disputam as provas semifinais, dez serão selecionados para as finais, em 2024. Segundo Souza, o local de realização das finais será revelado ainda este ano e há a perspectiva de que seja escolhida a Amazônia ou o Congo: “se for a Amazônia, para nós, vai ser ótimo”.
Drone é utilizado para coletar ramos de árvores, por exemplo – Divulgação
Robôs
“A gente vai ter um período de testes dos nossos equipamentos e metodologias para, depois, realizar o teste-prova de fato, que são as coletas em 24 horas na floresta. É uma floresta de até 100 hectares em que nós vamos trabalhar”, informou o diretor da brCarbon, Danilo Almeida, que é co-coordenador de sensoriamento remoto da equipe.
O trabalho utilizará robôs terrestres que fazem coletas de solos e de serrapilheira (camada de folhas secas, galhos, restos de frutas, flores e animais mortos que há na superfície do solo).
“Esses robôs terrestres trazem essas amostras para nós, para a gente fazer os exames de DNA”. A partir desse exame do DNA do solo e do material morto acima da superfície do solo, os pesquisadores conseguem fazer projeções da biodiversidade existente na floresta.
A equipe de pesquisadores conta também com robôs aéreos que fazem a coleta do ramo de uma árvore, por exemplo, e levam para os pesquisadores, drones com sensores do tipo câmeras fotográficas, além do sensor LiDAR, que é um scanner 3D, que ajuda a estimar a estrutura da vegetação, a diversidade estrutural.
“Essas fotografias que o drone vai tirar com a câmera fotográfica, além do sensor LiDAR, vão ser utilizadas para algoritmos de reconhecimento de espécies, que são algoritmos de inteligência artificial (IA)”, explicou Almeida.
O grupo terá uma área florestal para coletar em 24 horas, mas terá de respeitar a regra básica da competição: “Nenhum ser humano pode entrar dentro dessa área”. Por isso, há necessidade de desenvolvimento e apoio de robôs e da tecnologia.
Frentes
O Brazilian Team é constituído por sub-grupos: sensoriamento remoto, robótica, sensores sonoros, sequenciamento genético, insight e aplicativo Pl@ntNet (que permite estimar qual a espécie de uma planta a partir da foto).
Os insights, que permitem dizer em que medida a diversidade mapeada agrega valor à floresta, serão transformados em bancos de dados: “Não é simplesmente estimar a biodiversidade, mas como valorar a floresta. Quais são os insights ou ideias que nós vamos trazer de valorização dessa floresta a partir dos dados que vamos obter desses sensores”, conta Almeida.
A maneira como o grupo vai abordar a biodiversidade do local também é importante na classificação. Vencerá a XPRIZE-Rainforest a equipe capaz de pesquisar a maior biodiversidade contida em até 100 hectares de floresta tropical em 24 horas e nas 48 horas seguintes elaborar o documento final, identificando os serviços ecossistêmicos das espécies identificadas.
Caso vença a competição, o Brazilian Team pretende, com o valor do prêmio, compor um fundo voltado a pesquisas e capacitação para conservar e restaurar a Amazônia e a Mata Atlântica.
Participam da equipe profissionais com conhecimento técnico-científico multidisciplinar, entre eles botânicos, zoólogos, ecólogos, advogados, economistas e engenheiros do Brasil e também da França, Colômbia, Espanha, Portugal, Estados Unidos, Holanda e Bélgica.