Coluna – Brasil mantém ritmo a dois anos da Paralimpíada de Paris


Há um ano, a nata do esporte paralímpico mundial estava reunida em Tóquio (Japão). O desempenho histórico do Brasil, finalizando os Jogos no sétimo lugar do quadro de medalhas, igualando o recorde de pódios (72) e superando o de ouros (22), atendeu às expectativas anunciadas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) em 2017, quando a entidade divulgou o planejamento estratégico dos dois ciclos seguintes à Rio 2016.

Passado o megaevento na capital japonesa, o planejamento foi atualizado. As metas pensando nos Jogos de Paris (França), daqui a dois anos, são as mesmas de cinco anos atrás, em sua maioria. A intenção ainda é marcar presença em pelo menos 20 (das 22) modalidades e buscar entre 70 e 90 medalhas. O objetivo, porém, vai além de seguir no top-10, como se pretendia em 2017, mas se firmar entre os oito primeiros do quadro, o que vem sendo mantido desde a edição de Londres (Reino Unido), em 2012.

Os primeiros resultados do ciclo trazem otimismo. Ainda em 2021, no Mundial de Paracanoagem, em Copenhague (Dinamarca), poucos dias após o encerramento dos Jogos de Tóquio, o Brasil conquistou três medalhas e viu Fernando Rufino, o Cowboy de Aço, repetir o feito do Japão e levar o ouro nos 200 metros da classe VL2 (canoa para atletas que utilizam braços e tronco para a remada).

No Mundial de halterofilismo, em Tbilisi (Geórgia), também no ano passado, a campeã paralímpica Mariana d’Andrea se manteve no pódio da categoria até 73 quilos, agora como medalhista de prata. Antes do fim do ano, deu tempo de o parataekwondo brasileiro conquistar sete pódios no Mundial de Istambul (Turquia), com destaque ao ouro de Silvana Fernandes (bronze em Tóquio) na categoria até 57 quilos (vencedor em Tóquio, Nathan Torquato desistiu na semifinal da categoria até 63 quilos por lesão). Foi o melhor desempenho na história do evento, superando as duas medalhas (ouro e bronze) de 2019.

Em 2022, em nova edição do Mundial de paracanoagem, em Halifax (Canadá), os brasileiros foram ainda melhor, com quatro medalhas e a dobradinha nos 200 m da VL2, com Igor Tofalini em primeiro e Rufino, desta vez, com a prata. No Mundial de hipismo paralímpico, em Hering (Dinamarca), Rodolpho Riskalla foi bronze na disputa técnica individual (mesma prova em que conquistou a prata em Tóquio) e no estilo livre – ambos na classe Grau IV (cavaleiros com comprometimentos leves em um ou dois membros ou com deficiência visual moderada).

Na Copa do Mundo de paraciclismo, em Baie-Comeau (Canadá), foram quatro medalhas. Na prova de resistência, Lauro Chaman levou a prata na categoria MC5 (deficiência físicas de menor severidade) e Carlos Alberto Soares assegurou o bronze na MC1 (comprometimento motor mais elevado). Jady Malavazzi, por sua vez, conquistou o bronze nas disputas de estrada e no contrarrelógio da classe H3 (atletas que utilizam uma bicicleta adaptada e a impulsionam com os braços). Em Tóquio, o Brasil não foi ao pódio na modalidade.

No tênis em cadeira de rodas, o Brasil conquistou uma inédita medalha de bronze no Mundial por equipes, em Vilamoura (Portugal), na classe quad (atletas com comprometimento em três ou mais partes do corpo), com Leandro Pena, Augusto Fernandes e Ymanitu Silva. Este último também foi vice-campeão, nas duplas, no Torneio de Roland Garros, um dos quatro Grand Slams da temporada, em Paris, além de atingir a sétima posição do ranking da Federação Internacional de Tênis (ITF, sigla em inglês), recorde na carreira.

Modalidade que mais rendeu ouros ao país em Tóquio (oito), junto do atletismo, a natação também presenciou um começo de ciclo promissor. Foram 53 pódios obtidos pelos 29 atletas do Brasil que estiveram no Mundial de Funchal (Portugal), com 19 ouros. Foi o melhor desempenho na história do evento, mesmo sem o astro Daniel Dias, recém-aposentado.

“O resultado expressivo no Mundial de Natação, com certeza, é um dos grandes destaques do ciclo até aqui. No atletismo, alguns atletas que brilharam em outras edições dos Jogos, como Petrúcio Ferreira [velocidade], Beth Gomes [arremesso do peso], Raissa Machado [lançamento do dardo] e Alessandro Silva [lançamento do disco], bateram recordes mundiais. A expectativa é que nessas duas modalidades, que, historicamente, já trazem muitas medalhas ao Brasil, continuemos com conquistas”, analisou o diretor de Esportes de Alto Rendimento do CPB, Jonas Freire, à Agência Brasil.

“No judô, o Brasil conquistou todos os Grand Prix disputados neste ano. A seleção de futebol de cegos também ganhou todos os campeonatos em que esteve em 2022. No goalball, tanto o time feminino como o masculino ganharam o campeonato das Américas. É um começo e meio de ciclo com bons resultados e isso nos dá boas perspectivas para os Jogos de Paris”, completou o dirigente.

Outra meta adaptada no planejamento do Comitê foi referente à presença de jovens. No planejamento anunciado em 2017, a expectativa do CPB era de que, ao menos, 17% dos finalistas em Paris tivessem até 23 anos. Na atualização, o objetivo passou a ser de 50% dos convocados sub-23 marcarem presença em finais.

Em Tóquio, 39 atletas (cerca de 17% da equipe brasileira) tinham, no máximo, 23 anos na ocasião dos Jogos, sendo que 22 deles (21 em esportes não coletivos) disputaram finais, o que representa pouco mais de 56% do recorte. Na natação (onde 34% da seleção paralímpica foi sub-23), todos os competidores nessa faixa de idade estiveram em provas valendo medalha. Cenário que se repetiu no Mundial de Funchal.

Outras modalidades, como goalball, basquete em cadeira de rodas e futebol de cegos, também vêm promovendo caras novas. Nesta última, por exemplo, a seleção brasileira sub-23, que participa de Grand Prix em Schiltigheim (França), goleou os anfitriões, atuais campeões europeus e que estavam atuando com a equipe principal, por 4 a 1, na terça-feira (30).

“Nosso objetivo, com essa meta [50% dos sub-23 atingindo finais], é garantir a continuidade dos resultados de um ciclo para outro. Desse modo, ajustamos a meta para atender melhor nosso objetivo e para facilitar o processo de monitoramento”, explicou Freire.

Há outros Mundiais paralímpicos pela frente em 2022. O de remo acontece em setembro, em Racice (República Tcheca). No mês seguinte, será a vez do rugby em cadeira de rodas, em Velje (Dinamarca). Em novembro são cinco. Os de tiro esportivo e o de basquete em cadeira de rodas serão nos Emirados Árabes. O de judô em Baku (Azerbaijão). O de tênis de mesa está marcado para Granada (Espanha). Já o de vôlei sentado – que inicialmente seria em maio, em Hanghzou (China) – ocorrerá em Sarajevo (Bósnia-Herzegovina). Em dezembro, por fim, serão realizados os de goalball (Portugal) e o de bocha, no Rio de Janeiro.



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