Coluna – Seleção vale mais que calendário do futebol brasileiro

Em agosto do ano passado a CBF divulgou o calendário para a já espremida temporada de 2021 do futebol brasileiro. Como anunciado, ela começou em 28 de fevereiro, três dias depois de o Flamengo conquistar o bicampeonato seguido, ainda por 2020. A questão é que, por aquela previsão, ela deveria terminar em 05 de dezembro. Esqueça: pelo menos até o dia 12 teremos bola rolando aqui no Brasil. Isso se um dos finalistas não tiver vencido a Copa Libertadores e se classificado para o Mundial de Clubes, que começa no Japão em 9 de dezembro. E, aí, a exemplo do que aconteceu esse ano, em que a Copa do Brasil 2020 já foi disputada em março de 2021, mais uma vez a temporada de um ano vai invadir o outro.

Você, a essa altura, pode estar pesquisando: quem da Copa do Brasil pode ser campeão da Libertadores? Quatro equipes estão nas duas competições: Atlético-MG, Flamengo, Fluminense e São Paulo. Ou seja, as chances são reais. É evidente que essa especulação pode não se confirmar, mas que tal se esse processo tivesse sido evitado?

Para início de conversa, discutir o calendário e o fato de não se prever, na hora de organizá-lo, a interrupção das competições para as Datas Fifa é assunto antigo e cansativo. Mas, que tal não convocar jogadores que atuam no Brasil, para não desfalcar as equipes envolvidas nas duas principais competições nacionais organizadas pela própria CBF? E quando eu digo duas é porque jogos do Brasileirão também serão adiados. Um deles do Flamengo, que nesse momento já está devendo dois e que, pelo visto, como aconteceu ano passado, vai jogar com intervalo de 48h. Algo, aliás, que só aconteceu com ele, é bom lembrar.

Os jogos de volta das quartas de final da Copa do Brasil estavam previstos para 01 e 02 de setembro, e já foram transferidos para os dias 15 e 16. Sem contar os jogadores estrangeiros, também convocados, estariam nesses jogos adiados Éverton Ribeiro e Gabigol, do Flamengo, Guilherme Arana, do Atlético-MG e Daniel Alves, do São Paulo. Eles não poderiam estar fora da relação do Tite? Considerando que o Brasil está dez pontos à frente do quinto colocado das Eliminatórias, mesmo perdendo os três jogos não sairemos da zona de classificação para a Copa. Temos folga na tabela e, certamente, jogadores para ocuparem essas vagas.

E mais: esse ano ainda teremos outras quatro partidas das eliminatórias, duas em outubro e duas em novembro, que vão se chocar com as rodadas 24, 25, 31 e 32 do Brasileirão. Será que, de novo, vão chamar jogadores que atuam no Brasil? Vão adiar também essas partidas? Ou a decisão será outra, diferente da de agora?

É evidente que eu defendo a paralisação do campeonato, nesses jogos Fifa. Mas sair empurrando as datas, como foi feito, sinaliza que a CBF entende como mais importante essa convocação que a organização de suas competições. Poderemos, de novo, invadir a temporada seguinte, desrespeitando, inclusive, o período de férias dos jogadores. E ai, nesse caso específico de agora, não achei oportuno. Mas, sem dúvida também, não veria problema algum em abrir mão desses jogadores na seleção.

*Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil

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