Em cartas, jogadoras do Santos acusam técnico Kleiton Lima de assédios moral e sexual

Clube confirma recebimento de denúncias e diz estar apurando caso; treinador, que já deixou o time, nega as acusações e afirma ter colocado cargo à disposição após reclamações

A saída do técnico Kleiton Lima, anunciada pelo Santos nesta quinta-feira, foi decidida após denúncias de assédios moral e sexual feitas pelas jogadoras das Sereias da Vila. As atletas entregaram à diretoria do Peixe várias cartas relatando situações vividas com o ex-treinador do time feminino do clube. O ge teve acesso a 19 delas.

Nas cartas, escritas à mão e de forma anônima, as jogadoras alegam, principalmente, situações de assédio moral, mas há também relatos de assédio sexual, como “toques indevidos”. As queixas, na maioria, são a respeito do comportamento de Kleiton Lima, com cobranças excessivas, constrangimentos e ameaças.

Em diversas cartas, as jogadoras reclamam da roupa utilizada pelo técnico. Algumas, segundo elas, “deixam transparecer o órgão genital”. Outras afirma que ele não “usa roupa íntima”. Os relatos foram entregues para Aline Xavier, supervisora das Sereias da Vila, que as encaminhou para a diretoria.

Julio Resende, analista de desempenho, é outro acusado de assédio moral por algumas das jogadoras, nos relatos que o ge teve acesso nesta quinta-feira.

Veja alguns trechos das cartas:

  • “Estou falando apenas do lado profissional, mas também estou cansada de seus comentários sobre os nossos corpos de uma maneira desrespeitosa, cansada de seus toques de maneira indevida”.
  • “Suas vestimentas não são adequadas ao ambiente de trabalho, pois deixa transparecer o seu órgão genital na calça/short, principalmente por estar em um departamento feminino e se torna um ambiente desconfortável”.
  • “O treinador diariamente falta com respeito em sua fala constrangedora e desrespeitosa, como “xerecada” e “tetada”. Muitas das vezes o técnico não usa vestes adequadas no ambiente de trabalho, transparecendo o seu órgão genital causando desconforto no ambiente de trabalho”.

  • “Algumas brincadeiras e comentários que não cabiam no momento insinuando que eu estava machucada de propósito, como seu eu tivesse simulado minha dor, porém, só eu sei o que passei e sei o quanto foi difícil a minha recuperação”
  • “E com o passar do tempo, essas situações além de persistirem e se agravarem, abriu portas para agressões verbais, humilhações em público e de forma particular, atitudes de extremo desrespeito para com as atletas (como por exemplo treinos sem o uso de roupa íntima por baixo da calça por parte do treinador, causando assim desconforto em nós meninas)”.
  • “Também passei a pensar em suicídio e entrei em profunda depressão”.
  • “Uma vez na feira eu estava esperando perto de uma barraca de pastel. Lá o treinador chegou e perguntou se eu estava comendo pastel, aí eu respondi ‘não, estou esperando as meninas’. Então ele deu a volta por mim, olhou para minha bunda e disse: ‘acho que não’, insinuando que minha bunda parecia grande, então isso significava que eu estava comendo pastel”.

Relatos das jogadoras do Santos contra o técnico Kleiton Lima – Carta 2 — Foto: Reprodução

Em nota oficial enviada ao ge, o Santos diz:

“Sobre a denúncia de assédio envolvendo o técnico Kleiton Lima, o Santos FC informa que está apurando o caso, conversou com o profissional, que negou todos os fatos, mas colocou o cargo à disposição, o que foi aceito pela Diretoria para melhor apuração do caso. O Santos FC seguirá buscando sempre o melhor ambiente para todos os seus funcionários.”

Relatos das jogadoras do Santos contra o técnico Kleiton Lima — Foto: Reprodução

Relatos das jogadoras do Santos contra o técnico Kleiton Lima — Foto: Reprodução

Em mensagem ao ge, Kleiton Lima negou as acusações:

“Antes de mais nada, eu não pedi demissão, coloquei o cargo à disposição para a diretoria do clube após tomar conhecimento de reclamações de parte do elenco em relação ao meu trabalho. O Santos resolveu desligar a comissão técnica inteira do futebol feminino . Tomei conhecimento também de supostas queixas de assédio, o que me causou estranheza e revolta. Uma acusação dessa é muito grave e tomarei minhas providências legais, quem denuncia tem que provar.

Tenho uma carreira profissional de quase 30 anos de forma ilibada e vitoriosa, nunca tive nenhuma queixa nesse sentido durante toda a minha trajetória. Não aceito que utilizem desse artifício para me tirarem do cargo e tentarem manchar a minha história e a do clube.”

Também deixaram o departamento de futebol feminino nesta quinta-feira a auxiliar técnica Fabi Guedes, a preparadora física Vanessa Monte Bello, o analista de desempenho Julio Resende, o preparador de goleiras Gabriel Ribeiro, a psicóloga Luiza Garutti, o massagista Tarso Ajifu e os fisioterapeutas Dhouglas Antonini e Lucas Wasem.

O Santos foi eliminado recentemente para o Corinthians na semifinal do Campeonato Brasileiro Feminino, após derrotas nas partidas de ida e volta.

Kleiton Lima estava no clube desde o fim de agosto do ano passado, em sua segunda passagem pela Vila Belmiro. A primeira havia sido no início dos anos 2000.

Naquela época, ele conquistou a Copa Mercosul (2006) e a Liga Nacional (2007), além dos bicampeonatos da Copa Libertadores da América (2009 e 2010), da Copa do Brasil (2008 e 2009) e do Campeonato Paulista (2007 e 2010).

Relatos das jogadoras do Santos contra o técnico Kleiton Lima – Carta 1 (parte 1) — Foto: Reprodução

Por: Globo Esporte 

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