Eles reagiram ao discurso feito pelo governador de MG, Romeu Zema, contra suposto favorecimento do Norte e Nordeste no Congresso
Governadores de estados do Nordeste usaram as redes sociais, neste domingo (6/8), para pedir a “união do Brasil” e o fim de “narrativas segregadoras”. As manifestações são uma reação à fala do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), sobre um suposto favorecimento de estados do Norte e do Nordeste em pautas econômicas que tramitam no Congresso Nacional, como a reforma tributária.
O governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), publicou uma nota em nome do Consórcio do Nordeste, como presidente do órgão. No texto, Azevêdo afirma que Zema demonstra uma “leitura preocupante do Brasil”.
“Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, (Zema) indica um movimento de tensionamento com o Norte e Nordeste, sabidamente regiões que vêm sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento”.
O representante do Consórcio do Nordeste defende ainda que a união regional dos estados “não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas nas oportunidades de desenvolvimento”.
A nota é assinada pelos governadores de todos os estados do Nordeste: Paulo Dantas (Alagoas), Jerônimo Rodrigues (Bahia), Elmano de Freitas (Ceará), Carlos Brandão (Maranhão), Rafael Fonteles (Piauí), Raquel Lyra (Pernambuco), Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte), e Fábio Mitidieri (Sergipe).
Os governadores da região também se manifestaram individualmente. Raquel Lyra (PSDB), de Pernambuco, afirmou que “o Nordeste é parte da solução do país e deve receber atenção nas discussões federativas por tanto tempo de descaso e indiferença”.
Jerônimo Rodrigues (PT), da Bahia, afirmou que “somos um só povo” e não devemos perder tempo com “narrativas segregadoras”. Fábio Mitidieri (PSD), de Sergipe, afirmou que “manifestações separatistas são um desserviço. O Nordeste tem contribuído para o fortalecimento da nação e da democracia.”.
O governador mineiro Romeu Zema deu a declaração em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, e fez referência à aprovação da reforma tributária, que prevê a criação de um fundo para estados menos desenvolvidos.
“Outras regiões do Brasil, com estados muito menores em termos de economia e população, se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso”, afirmou.
A fala também repercutiu entre chefes do Executivo em outras regiões. O governador Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul, saiu em defesa de Zema, em um vídeo postado em suas redes.
“A gente nunca achou que até hoje os estados do Norte e do Nordeste haviam se unido contra os demais estados do país. Pelo contrário, a união desses estados em torno da pauta que é de interesse comum deles serviu de inspiração para que a gente possa finalmente fazer o mesmo”, disse Leite.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), no entanto, afirmou que “foi feita uma comparação que não foi feliz”, mas que o colega de Minas Gerais deve, em breve, se manifestar para explicar o “mal entendido”.
“O Centro-Oeste, no que depender de Goiás, será sempre este elo forte para nunca deixar avançar nenhum sentimento separatista, o que é responsabilidade de todos nós, governadores e governadoras. Nossas diferenças não precisam ser sinônimo de divergência”, afirmou.
Ministra Marina Silva
Mais cedo, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste “não têm vida” sem as unidades federativas que ocupam a Amazônia.
Questionada sobre o assunto, Marina afirmou que não viu a declaração do governador, mas ressaltou a importância dos estados do Norte e do Nordeste na economia do Brasil e da América do Sul.
“Eu não vi a fala do governador, não sei o contexto, mas o que posso dizer é que as chuvas do Sul, Sudeste e Centro-Oeste são produzidas pela Amazônia, e os povos originários da Amazônia são responsáveis pela maior parte da preservação dessa floresta. Setenta e cinco por cento do PIB da América do Sul está relacionado às chuvas produzidas pela Amazônia”, disse a ministra.
Marina também pontuou: “Sem a Amazônia, não tem como ter agricultura, indústria, não tem como o Brasil sequer ter vida no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, porque a ciência diz que seria um deserto como o Atacama ou o Saara”.
De acordo com a ministra, a importância dos estados não se dá devido ao “peso populacional”, e sim pela justiça ambiental e da parcela do Produto Interno Bruto [PIB] gerada pela região.
Fonte: Metrópoles