Manaus registra a pior seca da história com nível do Rio Negro em 13,59 metros

Ao g1, o trabalhador contou que a estiagem fez com a que a cooperativa passasse a levar menos passageiros por viagem. Infelizmente, o valor do transporte também precisou ser revisto para amortizar os prejuízos enfrentados pelos trabalhadores:

“A gente estava levando 15 passageiros, agora a gente está levando 10 e, nesta semana, vamos baixar para oito. Isso impacta muito o nosso trabalho, como também no valor final, porque nossos barcos só conseguem chegar até certo ponto. De lá, as embarcações menores assumem o transporte, e isso sai caro, né?! Infelizmente o preço sobe”.

— Manoel Alves, barqueiro.

E quem está acostumado com o movimento de subida e descida das águas é categórico em dizer que a situação tende a piorar ainda mais: “Isso aqui ainda vai baixar mais. O cenário tende a ficar melhor somente no final de novembro e início de dezembro”, finalizou.

No Lago do Puraquequara, rio virou terra. — Foto: Matheus Castro/g1

No Lago do Puraquequara, rio virou terra. — Foto: Matheus Castro/g1

Desde então, a administração municipal disse que vem executando diversas ações para que as zonas rural e ribeirinha da cidade não fiquem isoladas e desabastecidas. Entre as medidas anunciadas estava a abertura de 30 poços artesianos e a distribuição de cestas básicas.

No Centro de Manaus, rio dá lugar a um "mar de lixo". — Foto: Matheus Castro/g1

No Centro de Manaus, rio dá lugar a um “mar de lixo”. — Foto: Matheus Castro/g1

Outra medida tomada foi o fechamento da Praia da Ponta Negra, no início do mês. Segundo a prefeitura, a interdição considera as normas de uso da praia perene, definidas em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pela município junto ao Ministério Público do Amazonas (MP-AM), com órgãos municipais e estaduais, incluindo Corpo de Bombeiros do Amazonas (CBAM) e Polícia Militar.

Porto de Manaus também é afetado pela seca. — Foto: Matheus Castro/g1

Porto de Manaus também é afetado pela seca. — Foto: Matheus Castro/g1

Imagem Eliena Monteiro/g1 AMImagem Rede Amazônica

Rio Negro no ápice da cheia e da seca. — Foto 1: Eliena Monteiro/g1 AM — Foto 2: Rede Amazônica

“O término das aulas nas escolas ribeirinhas, que seria no próximo dia 17, foi antecipado para o dia 4 de outubro. Devido à estiagem que se aproxima de uma marca histórica neste ano, professores e alunos encontram dificuldade na locomoção até as unidades escolares”, disse a Secretaria Municipal de Educação da capital (Semed).

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As causas da seca severa

Foto: Gato Júnior/Rede Amazônica

“O evento do Atlântico Tropical Norte está se somando ao El Niño. Dois eventos ao mesmo tempo são preocupantes. Tivemos isso entre 2009 e 2010, que foi a maior seca registrada na bacia do rio Negro nos últimos 120 anos”

— Renato Senna, meteorologista responsável pelo monitoramento da bacia amazônica no Inpa.

  • De um lado, há o El Niño, que aumenta a temperatura das águas do Oceano Pacífico Equatorial.
  • Esse fenômeno altera os padrões de ventos, umidade, temperatura e chuvas, em particular em regiões tropicais. No Brasil, se traduz em menos chuvas e aumento das temperaturas em parte das regiões Norte e Nordeste.

Aquecimento do Atlântico Tropical Norte:

  • De outro lado do continente, há o aquecimento do Atlântico Tropical Norte, que fica logo acima da linha do Equador e também inibe a formação de nuvens, reduzindo o volume de chuvas na Amazônia.

 Combinação desses dois fatores:

  • Com a água dos oceanos mais quente, as correntes ascendentes carregam ar aquecido para a atmosfera. Esse ar segue até a Amazônia por meio de duas correntes descendentes, onde vai diminuir a chuva.
  • No caso do El Niño, o processo ocorre de leste para oeste – a partir do Pacífico. No caso do Atlântico, do norte para o sul.

“Esse ar mais quente atua inibindo a formação de nuvens e, por consequência, das chuvas”, afirmou Senna, do Inpa.

Seca 2023: Lago do Aleixo secou em Manaus — Foto: Gato Júnior/Rede Amazônica

Seca 2023: Lago do Aleixo secou em Manaus — Foto: Gato Júnior/Rede Amazônica

Rios Amazonas e Solimões em “repiquete”

Enquanto em Manaus, o Rio Negro seca, em Tabatinga, o Rio Solimões inicia o fenômeno do “repiquete”, que é a subida e a descida das águas ocorrendo ao mesmo tempo. Na segunda (9), o rio estava em -71 centímetros. Na quarta (11), -61 centímetros e já na sexta-feira (13), ele voltou a descer e estava medindo -67 centímetros. Os dados são do Proa Manaus.

A situação é a mesma em Iquitos, no Peru, onde o Rio Amazonas media 76,58m na quinta-feira (5). As águas subiram para 76,84 metros no domingo (8) e desceram para 76,61m na sexta-feira (13).

Tudo isso impacta diretamente no nível da água em Manaus, que agora luta para sair da crise climática, que transformou a famosa “Paris dos Trópicos” em uma terra arrasada pela seca, pelas queimadas e pela fumaça.

Capital do Amazonas está em estado de emergência por conta da descida do Rio Negro.

Por: G1 

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