Por que algumas pessoas ficam ‘tremendo’ a perna quando estão sentadas?

Assim como roer as unhas em momentos de tensão, balançar as pernas é um comportamento que muitas pessoas adotam como forma

de aliviar o estresse ou a ansiedade. Esses movimentos podem ser uma resposta automática do corpo diante de situações de nervosismo, preocupação ou inquietação.

“Mas esse movimento é controlável, já que a ansiedade leva a um aumento da atividade motora de maneira geral, não se restringindo apenas às pernas”, , comenta nado Melo Barbosa, neurologista da Saúde Digital do Grupo Fleury.

De acordo com a médica Andréa Bacelar, neurologista da ABS (Associação Brasileira do Sono), enquanto esse quadro é comum e passageiro, algumas vezes ele pode ser confundido com outro mais grave —a sindrome das pernas inquietas, ou SPI.

“Essa confusão é comum, mas na SPI, a sensação é diferente. Não se trata de movimentos de tremor ou agitação rápida das pernas, mas sim da urgência por movimentos que aliviem a sensação de inquietude nas pernas, que geralmente piora durante o repouso e melhora com a caminhada.”

A médica explica que, em alguns casos, os membros superiores também podem ser afetados, embora seja menos comum.

De acordo com Melo Barbosa, a sensação de urgência para se movimentar em pacientes com SPI geralmente aparece por conta de sintomas como dor, queimação e formigamento nas pernas.

O especialista aponta que na maioria dos casos, o quadro é considerado idiopático, o que significa que não há alterações detectáveis no sistema nervoso por meio de exames.

“Portanto, o diagnóstico é baseado em avaliação clínica, realizada por um neurologista, que inclui uma entrevista detalhada e um exame físico. Em casos mais raros, a síndrome pode estar associada a doenças neurológicas, o que exige a realização de exames de sangue e outros testes complementares”, diz o médico.

Quem sofre com a SPI costuma ter sua qualidade de vida bastante afetada, já que os sintomas geralmente aparecem justamente quando a pessoa está em momento de descanso.

“O paciente pode estar sentado ou deitado, inclusive e principalmente enquanto dorme, o que prejudica seu repouso e impede um sono adequado. O resultado é que também provoca cansaço constante e sonolência diurna. Essa síndrome pode levar ainda ao desenvolvimento de quadros depressivos e ansiosos”, indica Claudione Cavalcante de Lima, psicólogo do Hospital Regional do Sertão Central, em Quixeramobim (CE), e pós-graduado em neurociência, comportamento e psicopatologia.

Como controlar os sintomas

O tratamento varia de acordo com a causa subjacente. No caso de movimentos passageiros e agitação geral, o foco deve ser nos transtornos de ansiedade.

Já se os sintomas se dão pela síndrome das pernas inquietas, aponta o neurologista do Fleury, a maioria dos casos idiopáticos pode ser tratada com medicamentos que ajudam a controlar os sintomas, especialmente antes do horário em que esses sintomas são mais frequentes, geralmente à noite.

“Quando a síndrome das pernas inquietas está associada à deficiência de ferro ou vitamina B12, o tratamento envolve a reposição desses nutrientes. Em pessoas com Parkinson, o tratamento pode incluir medicamentos específicos para a doença, como a levodopa.”

No que diz respeito à prevenção, não existem medidas específicas para evitar a sindrome das pernas inquietas.

No entanto, manter um estilo de vida saudável, com atividade física regular, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, alimentação saudável e sono de qualidade, pode ajudar a prevenir doenças que podem levar a movimentos involuntários.

Em todos os casos, Lima defende que o tratamento psicológico desempenha um papel crucial. “Isso vale tanto para situações em que a ansiedade e o estresse são fatores subjacentes, quanto para casos com componentes mais neurológicos.”

O tratamento, explica ele, aborda tanto as causas e desencadeadores do quadro quanto suas consequências.

“A SPI afeta o bem-estar psicológico do indivíduo, independentemente da causa.

Além de prejudicar o sono, essa condição pode levar ao isolamento social, afetar relacionamentos e a qualidade de vida, e até desencadear transtornos depressivos e/ou ansiosos. É essencial enxergar o paciente como um todo, não apenas focando na doença ou nos sintomas de maneira isolada. Hoje em dia, o tratamento vai além do uso de medicamentos.”

Por: UOL 

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