Nos dois primeiros anos da pandemia, 40.830 crianças e adolescentes perderam suas mães por Covid-19 no Brasil. Os dados são do estudo inédito conduzido por pesquisadores da Fiocruz e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgado pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância).
O artigo com os resultados, foi publicado na última segunda-feira (19) no periódico ‘Archives of Public Health’, da editora acadêmica Springer Nature.
“É certo que a morte de um dos pais, em particular da mãe, está ligada a desfechos adversos ao longo da vida e tem graves consequências para o bem-estar da família, afetando profundamente a estrutura e a dinâmica familiar”, avalia Celia Landmann Szwarcwald, pesquisadora do Laboratório de Informação e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).
“As crianças órfãs são mais vulneráveis a problemas emocionais e comportamentais, o que exige programas de intervenção para atenuar as consequências psicológicas da orfandade”, afirma Szwarcwald.
Como o estudo foi realizado
O levantamento foi feito com base nos óbitos por Covid-19 registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) em 2020 e 2021 e nos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) entre 2003 e 2020.
“A pesquisa mostra que a Covid-19 foi responsável por um terço de todas as mortes relacionadas a complicações no parto e no nascimento entre mulheres jovens, o que representa um aumento de 37% nas taxas de mortalidade materna no Brasil, em relação a 2019, quando ela já era alta”, aponta Cristiano.
Ele também acrescenta que “a cada mil bebês nascidos vivos, uma mãe morreu no Brasil durante os dois primeiros anos da pandemia”, aponta o pesquisador.
O estudo foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação Bill e Melinda Gates e pela Fiocruz (Ideias Inovadoras).
Adultos
O estudo revela que, em 2020 e 2021, a Covid-19 foi responsável por um quinto de todas as mortes registradas no Brasil (19%). O pico da pandemia ocorreu em março de 2021, com quase 4 mil mortes por dia, número superior à média de mortes por dia por todas as causas em 2019.
Os autores do estudo concordam que a demora na adoção das medidas de saúde pública necessárias para o controle da Covid-19 no Brasil agravou a disseminação da doença, resultando em perdas de vidas humanas que poderiam ter sido evitadas.
“Como consequência da gestão inadequada da pandemia, além de criar uma legião de órfãos, o Brasil perdeu cerca de 19 anos de vida produtiva devido à morte de adultos jovens por Covid-19”, conclui Cristiano.