Ross Brawn e Rob Smedley, ex-engenheiro de Felipe Massa, escalrecem metodologia e questões controversas do ranking que comparou velocidade bruta dos pilotos de 1983 até 2020
O diretor da Fórmula 1, Ross Brawn, e o consultor técnico da categoria, Rob Smedley, vieram à público esclarecer as polêmicas em torno do estudo desenvolvido pela Amazon Web Services (AWS), que classificou Ayrton Senna como o piloto mais rápido da Fórmula 1 em classificações.
A análise gerou controvérsias entre o público por ter colocado pilotos menos cotados ou mais jovens, como Jarno Trulli, Heikki Kovalainen, Charles Leclerc e Lando Norris à frente de campeões como Sebastian Vettel, Alain Prost e Nelson Piquet.
O ranking observou todos os pilotos que correram na F1 entre 1983 e os dias atuais através de uma tecnologia de machine learning (ML), utilizando também um algoritmo que normalizou o desempenho do carros e das equipes de modo a possibilitar uma comparação bruta nas marcas dos pilotos de gerações diferentes. O tricampeão brasileiro Ayrton Senna foi escolhido como o mais rápido, seguido por Michael Schumacher em segundo lugar e Lewis Hamilton em terceiro.
- Observamos dois colegas de equipe, no mesmo dia, na mesma situação e com as mesmas oportunidades, e definimos um incremento de tempo entre esses dois companheiros para construir isso ao longo do tempo e ver como a média se define. Você precisa que um deles migre para outra equipe. O piloto A é mais rápido que o piloto B, o piloto B vai para outra equipe e é mais rápido que o piloto C. Então, você pode dizer que A é mais rápido que C porque A bateu B em sua própria equipe, e o B bateu o C em outra equipe – explicou Brawn.
Hoje consultor técnico da Fórmula 1, Rob Smedley, ex-engenheiro de Felipe Massa na Ferrari e Williams, explicou que embora reconheça que os resultados envolvendo pilotos menos experientes sejam menos confiáveis, não seria possível modificá-los de forma direta devido a impossibilidade de se chegar a um consenso. - Há algumas maneiras com as quais podemos adaptar o modelo, mas não é possível ir muito longe. Se os resultados determinam que Lando Norris está no top 20 e Juan Pablo Montoya não, então esse é um exercício muito objetivo para tentar responder uma questão subjetiva e seria errado se um de nós tentasse mudar isso, porque se a inclinação pessoal de alguém é considerar que a comparação com Lando e Montoya é errada, outra pessoa pode se sentir de forma diferente em relação a outros pilotos. É difícil para nós tentar fazer isso concordar com a opinião de todos – esclareceu Smedley.
Embora compare o desempenho em classificatórios, o estudo não levou em conta as mudanças nas regras em relação ao combustível e os motores nas sessões por considerar que as diferenças eram ínfimas.
O mesmo foi aplicado em relação ao uso dos pneus, tendo em vista que todos os pilotos utilizavam os pneus mais rápidos ou mais macios. De igual modo, os diferentes motores para classificatórios e corrida foram considerados como os atuais modos da unidade de potência, proibidos a partir do GP da Bélgica na temporada corrente.
Em relação aos pilotos menos cotados, como o italiano Jarno Trulli e o finlandês Heikki Kovalainen, que ocuparam o top 10 do ranking dos mais velozes, Ross Brawn explicou que pilotos sem títulos ou de menor apelo obtiveram uma classificação melhor devido ao desempenho superior nas sessões, embora não possuam os requisitos que o dirigente considera necessários para conquistar um título. - Eu estava falando com Steve Nielsen, que trabalhou com Trulli na Benetton/Renault. Ele disse que Trulli era incrivelmente rápido, mas ele não conseguia manter isso por mais de cinco voltas, razão pela qual ele nunca se tornou campeão. Não estou criticando Jarno. O que estou dizendo é que o fato de que alguns desses caras não se tornaram campeões porque o conjunto de habilidades não era tão forte. É o mesmo com Kovalainen. Se você olhar para seus colegas de equipe, ele teve um recorde nas classificações muito forte – esclareceu.
O britânico revelou, ainda, que o método também é utilizado na sondagem de potenciais candidatos para as vagas nas equipes. Anteriormente, o ex-gestor da Mercedes já havia dito que Nico Hulkenberg foi cotado para o assento ocupado hoje por Lewis Hamilton, em 2012 – e a equipe alemã também utilizou o sistema para avaliar se a eventual contratação do alemão seria uma boa escolha: - Quando eu estava na Mercedes, o pessoal da estratégia fez várias análises com os pilotos. James Vowles fez a análise da carreira de Nico e como ele era comparável com seus colegas de equipe, sua consistência nos tempos de volta na corrida e até mesmo tentando observar se ele consumia mais os pneus ou se pegava leve com o equipamento.
Rob Smedley também adiantou que a Fórmula 1 tem a intenção de realizar um estudo semelhante considerando os pilotos das três primeiras décadas da categoria. Embora tenham considerado fazê-lo já na primeira análise, a possibilidade foi deixada de lado pela dificuldade em reunir dados de uma era onde a tecnologia era arcaica em comparação com o automobilismo atual.
E se o resultado do estudo levantou debates entre o público, não foi diferente com os pilotos e ex-pilotos da categoria, segundo o próprio Smedley: - Não vou te dar nomes, mas eu diria que dez pilotos do atual grid e provavelmente dez que não estão correndo responderam ao estudo. Eu sou popular em alguns lugares, mas eu diria que agora sou predominantemente não-popular com muitas das pessoas no grid…