MORRE O POETA EMERSON MAIA, EM MANAUS: ‘O ÍNDIO CHOROU. O BRANCO CHOROU

Morre o poeta Emerson Maia, depois de passar vários dias em estado grave e com quadro de septicemia O poeta Emerson Maia, 66 anos, faleceu esta sexta (14/08), na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV). Ele é autor de toadas antológicas, como “Lamento de raça” e “Sentei junto ao pé da roseira”, do Boi Bumbá Garantido. Ano passado, protestando por não ter toadas aceitas no playlist oficial do bumbá, mudou-se para o Caprichoso. Emerson contraiu tuberculose e o medicamento provocou hepatite. O rim parou e ele entrou em insuficiência respiratória. Foi intubado na quarta-feira (12/07), em estado gravíssimo, na UTI do HUGV. Ele contraiu, para complicar, uma infecção hospitalar e entrou em quadro de septicemia, infecção generalizada, resistente a antibióticos. A família havia iniciado uma vaquinha eletrônica, para que o poeta fizesse um transplante de fígado. Ele tinha cirrose em estado irreversível. CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE ‘A melhor toada de todos os tempos’ “Essa é a melhor toada de todos os tempos”. A frase é de David Assayag, que foi levantador do Garantido e hoje está no Caprichoso. Foi como ele encerrou um show de toadas antológicas, no Teatro Amazonas, cantando “Lamento de raça”. Para ouvir a toada clique neste link e leia esta matéria. Emerson, um músico excepcional, com ouvido privilegiado, capaz de afinar piano sem diapasão, faz na toada citada um habilidoso jogo. Torcedor apaixonado do Garantido, ele transita entre a rivalidade do Festival de Parintins, a defesa ambiental e a poesia. “Vamos brincar de boi/ Tá Garantido/ Matar a mata não/ Não é permitido”. O tópico frasal de “Lamento de raça”, que dá título a esta matéria, é matador: “O índio chorou/ O branco chorou”. Era um grito em defesa da Amazônia, em grave momento de queimadas na região. PMS.AM PANAVUEIRO O desafio ao coronavírus: Ponta Negra, Figueiredo, Manacapuru e Novo Airão lotados. E o panavueiro da eleição no CREA-AM Por Marcos Santos O poeta passeia pela infância, comum à maioria dos parintinenses, com o bordão “Ai,ai que dor/ ai, ai, que horror”. “O meu pé de sapopema/ minha infância virou lenha”. E depois desfila pelos rios e lagos da região: “Lá se vai a saracura correndo dessa quentura/ E não vai mais voltar/ Lá se vai onça pintada fugindo dessa queimada/ E não vai mais voltar/ Lá se vai a macacada junto com a passarada/ Para nunca mais, voltar/ Para nunca mais, nunca mais voltar”. Emerson Maia foi homenageado, no Teatro Amazonas, pela Orquestra de Violões do Amazonas. Suas toadas foram interpretadas por cantores e músicos populares e clássicos. Foi um momento de apogeu do trabalho dele. Estava muito emocionado. Saudoso do pai, Antônio Maia – que muitos confundem com a família do ex-governador do Amazonas Álvaro Maia, mas com o qual não tem parentesco –, Emerson fez “Sentei junto ao pé da roseira”. “Sentei junto ao pé da roseira/ lembrei minha infância, fogueira e balões/ Lembrei do meu pai, meu amigo, esperando ansioso o meu boi Garantido”. A família está preparando a transferência para Parintins, segundo o cunhado dele, o médico Euler Ribeiro. “Tempos que ficaram para trás”. Emerson “partiu pra ficar”. Está na história, entre os grandes da toada de boi bumbá, da música e da poesia em geral.

Texto copiado de: https://www.portalmarcossantos.com.br/2020/08/14/morre-o-poeta-emerson-maia-o-indio-chorou-o-branco-chorou/

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