isolamento social e a disseminação da Covid-19 têm provocado ansiedade em muita gente. Antes da pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já apontava o Brasil como o país mais ansioso do mundo. Então, mais do que nunca, é preciso cuidar da saúde mental e da nossa rede de relações.
A psicóloga Michelli Gonçalves, que atende nas Clínicas Einstein e no espaço saúde da Natura, destaca que é importante entender a mudança de cenário para se adaptar ao momento atual. A adaptabilidade, segundo ela, é competência essencial para lidar com a ansiedade.
Quais as causas atuais da ansiedade?
Em tempos de coronavírus, Michelli consegue identificar uma longa lista de situações que podem desencadear a ansiedade. “A incerteza de quando e como isso passará, o medo de a gente ou alguém que amamos adoecer, a possibilidade de morte, a perda da subsistência, a exclusão social, a impotência sobre proteger pessoas importantes, a dificuldade de ajustar a rotina com os filhos em casa e a mudança na forma de trabalhar – como o home office – são alguns dos fatores que reverberam essa sensação”, diz a especialista.
Como saber se sou ansioso?
A ansiedade é definida como uma excessiva agitação do sistema nervoso central, é uma sensação desprazerosa e semelhante ao medo. Os seus efeitos se percebem logo e aparecem em situações reais ou imaginárias de ausência de controle.
“A ansiedade faz com que a gente se sinta pequeno diante das situações e perca o interesse pelas coisas que davam prazer. Ela também desencadeia dificuldade de concentração, de memorizar, de elaboração de pensamentos e de tomada de decisões. Insônia, pesadelos constantes, dúvida sobre a própria competência e apatia geral também estão na lista de consequências”, explica a especialista.
Além dos desgastes mentais, alguns sintomas físicos também podem dar as caras, como a aceleração no coração, sudorese, tremores, tensão muscular, dificuldade para respirar, dores de cabeça, cansaço ao acordar e até queda de cabelo.
Como controlar a ansiedade
Você tem sentido muitos dos sintomas listados anteriormente? Pois saiba que algumas mudanças de hábito simples podem ajudar você a driblá-los e a passar por essa fase de maneira mais leve.
1. CRIE UMA ROTINA
Estabelecer uma rotina é importante para driblar a ansiedade durante o período de isolamento social. Por isso, determine horários para acordar, trabalhar, fazer atividades físicas, se alimentar e descansar.
Muitas vezes na ânsia de ser produtivo e não se sentir ocioso, acumulamos muita coisa para fazer e isso gera confusão”, ressalta a psicóloga.
“Então, priorize aquilo que realmente vai fazer diferença no seu dia e se conecte emocionalmente com cada tarefa. Lembre-se também de fazer pequenas pausas de 5 a 10 minutos a cada duas horas de trabalho ou de qualquer atividade intensa do dia a dia. Esse é o momento de pensar em você.”
2. DIMINUA A AUTOCOBRANÇA
Use esse novo cenário para repensar algumas coisas em relação a sua rotina. Que tal aproveitar para diminuir a autocobrança? Ninguém consegue dar conta de tudo o tempo todo.
“É preciso abrir mão de algumas coisas nesse momento. Aceite que casa não vai estar completamente organizada sempre, nem o trabalho completamente entregue, nem você estará sempre bem. Tem dias que vamos produzir mais, outros menos. E está tudo bem”, afirma a especialista. “É importante também exercitar a positividade. Valorize as coisas boas do seu dia e aproveite para agradecer.”
3. CUIDE DE VOCÊ E DA SUA ALIMENTAÇÃO
O autocuidado é fundamental para lidar com as mudanças desse momento. “Procure cuidar do corpo, das unhas, dos cabelos, fazer a sua maquiagem – se você gosta –, fazer a barba, usar perfume como estava acostumado. Desta forma, você sinaliza para o cérebro que você está vivo, ativo, e, portanto, produtivo”, diz Michelli.
Esse comportamento leva em conta também planejamento nutricional. É preciso mais do que nunca prezar pelos alimentos saudáveis, ricos em frutas, verduras e fibras. O alimento é nosso combustível e deve ser de qualidade, pois a alimentação inadequada prejudica a saúde, a memória, e, muitas vezes, a capacidade de decisão.
4. FAÇA MEDITAÇÃO
A meditação pode ajudar a acalmar, sendo uma grande aliada no combate à ansiedade, ao stress e aos problemas para dormir.
Faça exercícios de respiração e relaxamento com frequência, isso contribui para um sono de qualidade”, aconselha a especialista.
O aplicativo Meditação Natura pode ajudar. Ele reúne quatro formas de prática simples de meditação gratuita para você fazer onde quiser. Ele está disponível para Android e iOS. É só escolher um local na sua casa onde você não seja interrompido e que facilite a concentração.
5. PRATIQUE EXERCÍCIOS FÍSICOS
Evite adiar as atividades físicas. Elas são responsáveis por diminuir a ansiedade e o stress, além de melhorar a qualidade do sono e a concentração. E o melhor, da para praticar exercício físico dentro de casa!
Adaptabilidade é competência essencial para esse cenário. Movimentar-se é muito importante nesse momento. Não é bom trocar o sofá pela cama durante o dia todo. Mas é importante se exercitar dentro das suas condições e capacidades físicas.”, explica Michelli.
6. CONSUMA INFORMAÇÕES DE FORMA EQUILIBRADA
Estar informado é importante, mas evite o excesso de informações. Determine um horário do dia para abrir os sites de notícias, as redes sociais e para assistir aos noticiários. “Ficar acompanhando a cada minuto as notícias serve apenas para aumentar os níveis de ansiedade e sentimento de desesperança. Procure as informações em lugares que sejam de confiança – por exemplo, órgãos competentes –, e evite fazer isso durante à noite para não prejudicar o sono”, explica Michelli.
7. VÁ A UM ROLÊ VIRTUAL COM AMIGOS E FAMILIARES
O período de isolamento social tem reconfigurado o nosso jeito de trabalhar e de se conectar com as pessoas. Desse modo, ligações, mensagens e videochamadas podem amenizar a distância e estreitar laços.
Aproveite o momento para promover encontros virtuais com seus familiares, amigos, colegas de trabalho ou pessoas da sua vizinhaça. Troque experiências, cante, dance com eles e não deixe de demonstrar afeto para sua rede de relações.
8. INCLUA AS CRIANÇAS
Assim como para nós, as crianças também estão passando por mudanças importantes. A rotina delas foi alterada e isso já é causa de stress e necessidade de adaptação. “É necessário criar uma rotina para a segurança emocional dos pequenos. Determine hora para dormir, acordar, comer, brincar, fazer atividades da escola e realizar atividades aquietantes – meditar, observar o céu”, afirma Michelli.
Nas horas vagas, aproveite para fazer uma receita juntos, plantar uma flor, brincar com um jogo de tabuleiro, desenhar, contar histórias, criar personagens e socializar virtualmente com a vovó e o vovô. Além de ajudar na saúde mental, esses momentos proporcionam muito aprendizado.
Quer saber mais? A UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) preparou um e-bookcom várias atividades divertidas que você pode fazer com a sua criança nessa quarentena. Divirtam-se e se cuidem!
E lembre-se: caso os sintomas se tornem recorrentes e/ou mais intensos, procure a ajuda de um profissional. Durante a pandemia, muitos psicólogos e terapeutas têm aproveitado para atender aos pacientes virtualmente.