PF quer rastrear dinheiro do tráfico para chegar a ‘elite’ beneficiada pelo crime

Segundo o superintendente Alexandre Saraiva, por trás da violência das ruas, os verdadeiros chefes nunca sujam as mãos nos ilícitos. “Tem muita gente suspeita”

Joana QueirozManaus (AM)

O superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, disse em entrevista ao A CRÍTICA que o órgão pretende rastrear o dinheiro do tráfico de drogas para chegar aos verdadeiros beneficiários do crime.

O delegado disse que vê a atual situação com preocupação os acontecimentos recentes no Amazonas, como o massacre do dia 1º de janeiro de 2017, quando 56 presos foram mortos dentro do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) em uma  briga de facções criminosas que dominam o tráfico de droga no Estado.

“Eu vejo que é um crime que está ocupando muito espaço e que precisa ser combatido com mais energia, mais inteligência. O nosso foco não deve ser apenas carregamentos e prisões. Deve ser também o motor financeiro do tráfico de drogas. São grupos de criminosos de alta periculosidade e a gente não pode se descuidar dessa parte”, disse.

Na visão do superintendente, além de apreender a droga, a polícia precisa apreender bens, chegar às contas bancárias e, assim, aos verdadeiros beneficiários do tráfico de drogas que, na opinião dele, são pessoas que muitas vezes que nunca colocaram as mãos nos produtos de consumo ilícito. “Por trás de toda essa violência e dessa coisa dinâmica que se vê na base da pirâmide do tráfico, a elite do tráfico de droga. Para onde vai o dinheiro do tráfico? É muito dinheiro e ele vai para algum lugar. É muito dinheiro que tem que ser descoberto”, ressaltou.

O rumo desses valores será alvo de investigação, revelou. “Será que está diluído como dizem ou será que está concentrado nas mãos de alguns? Isso tem que ser explorado. A minha opinião é que tem muita gente com suspeita de envolvimento com o tráfico de drogas. Precisamos chegar nessas contas bancárias e descobrir para onde vai esse dinheiro”, argumentou.

Para Alexandre Saraiva, há a necessidade de ser feita uma operação específica sobre o tráfico, “onde o carregamento é apenas a materialidade do crime”, para justificar a apreensão dos bens dos valores conseguidos. “Atualmente o que se conhece no Amazonas são as facções criminosas como Família do Norte (FDN) e Primeiro comando da Capital (PCC). A polícia quer saber mais”, disse .

Ele defende campanhas educativas, principalmente nas escolas, para diminuir o consumo dos produtos ilícitos. “Precisamos deixar para as crianças outras referências como juízes, promotores e policiais. Essa deve ser a referência para as crianças e isso vem se perdendo. Nas redes sociais é comum encontrarmos crianças encantadas com traficantes e bandidos”.

Campanhas educativas

Alexandre Saraiva disse que no Brasil há uma grande contradição: “Temos uma legislação extremamente severa para o traficante e uma leniente com usuário”. Para ele, o tráfico cresce porque há procura e tem quem abasteça. “Por conta desta procura o consumo aumentou e a nossa sociedade parece que tem aceitado isso”, avalia.

O policial defende o empenho do Estado e da sociedade para combater o consumo de drogas. “Não vemos grandes campanhas contra o uso de droga e é preciso. A questão do tráfico de droga não é só de polícia, há 30 anos as pessoas fumavam cigarros e era comum. Hoje ainda fumam, mas o consumo caiu muito”, disse.

A sugestão dele é que sejam realizadas campanhas de educação bem feitas e direcionadas.  “Se o tabagismo reduziu bastante esse mesmo esforço deve ser feito em relação às drogas”, sustenta. De acordo com o delegado, não adianta só a polícia atuar, é preciso um esforço de toda sociedade contra o tráfico.

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