Clima abafado e a falta de costume são os principais motivos para que muitos manauaras não usem a proteção facial
O uso de máscaras em locais públicos e privados passou a ser obrigatório em Manaus desde o dia 30 de julho deste ano, de acordo com o Lei Municipal nº 2.643. A população manauara tenta desde o início da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), se acostumar com o uso da proteção, porém diversos fatores dificultam o cumprimento da norma, de acordo com a população. Muitos ainda insistem em andar com o objeto apenas no queixo.
A equipe do EM TEMPO visitou algumas áreas da cidade e notou que, pelo menos nos espaços públicos, o uso da proteção facial deixa de ser uma preocupação para muitas pessoas. Rafaela Pereira, 33, e Genilda Pereira, 54, passeavam pela Avenida Autaz Mirim, Zona Leste de Manaus, com duas crianças, as quatro sem máscara.
“A gente entrou em uma loja e nem percebemos que estávamos sem máscara. Nós temos máscara, mas esqueci mesmo, é a falta de costume. Acho muito importante o uso, devemos ter consciência de usar, eu fico com medo, meu marido tem 70 anos e é do grupo de risco, tenho medo de passar para ele, mas chego em casa e vou logo lavando as mãos e tomando cuidado”, relatou Genilda. A filha, Rafaela, também concorda e diz que o uso deve perdurar além do período de pandemia.
“Eu acho que é importante sim criar esse hábito de usar mesmo depois, a gente nunca sabe se vai voltar ou não, não temos como saber. Tem gente que diz que o vírus vai ficar por muito tempo, que nem o vírus da gripe normal”, conta Rafaela.
Outra preocupação relevante é com as crianças. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) não há dados de pesquisas suficientes para provar que o uso de máscaras em crianças pode prevenir a contaminação do vírus ou que pode provocar algum tipo de perigo, mas que as crianças pequenas provavelmente têm menores chances de contrair o vírus e transmiti-lo, em comparação aos adultos.
Elena Araújo, 50, afirma que deixa de usar a máscara em locais arejados, mas mantém o uso durante o trabalho. Ao esperar o marido do lado de fora do Shopping Grande Circular, na Avenida Autaz Mirim, Zona Leste, a vendedora não se preocupou com o uso da máscara tanto em si, quanto no filho de apenas 4 anos. Ela afirma que a criança não usa máscara de forma alguma, mas que não costuma sair de casa.
“É desconfortável nesse clima abafado, principalmente porque não somos acostumados aqui. Meu filho não usa porque não sai, até deixei de levar ele para a escola porque lá é obrigatório, não consegue ficar de máscara. Eu também só uso porque no trabalho sou obrigada. Nos lugares mais abertos e ventilados eu acho que dá sim para andar sem usar a máscara, principalmente se tiver pouca gente em volta”, conta a mulher.
Jean Fernandes, 41, e sua esposa que preferiu não se identificar, também foram flagrados sem máscara. O homem explicou que quando precisam entrar em estabelecimentos como supermercado, shopping, Uber, colocam a proteção, mas caso não sejam obrigados, preferem não usar. “Eu, por exemplo, me sinto sufocado. A barba também incomoda e fica difícil, em dias mais quentes então é muito ruim. Mas claro, é importante que se use, eu coloco aqui no bolso e quando preciso, coloco. É responsabilidade”, relatou o homem.
Manaus foi uma das cidades mais impactadas pela Covid-19, doença causada pelo coronavírus. No pico da pandemia, em maio deste ano, a cidade chegou a registrar mais de 65 mortes diárias, sendo vista e falada mundialmente. Neste período, cemitérios chegavam a registrar uma média de 140 sepultamentos diários. A prevenção se torna importante principalmente por este cenário. Em julho, o Amazonas já registrava mais de 100 mil casos de Covid-19.
O médico infectologista Luiz Henrique Barbosa, explica que a preocupação com a prevenção deve continuar existindo mesmo se a cidade apresente números mais baixos de contaminação, pelo menos até a distribuição de uma vacina. Isso porque o vírus é novo e ainda não há pesquisas suficientes para que seja garantido que não há risco de reinfecção.
“Não acho que vá haver o controle da situação a curto prazo. É preciso sim que as pessoas tenham esse cuidado e se preocupem em se contaminar e contaminar o próximo. Eu acredito, assim como muitos pesquisadores, que a pandemia vá se estender de forma mais lenta, até que haja a possibilidade de imunização por meio de uma vacina. Esse controle da contaminação deve ocorrer em um período um pouco maior do que muitos esperam”, explica o médico.
Alguns países do leste asiático, como o Japão, já adotavam a prática do uso de máscaras antes mesmo do início da pandemia do coronavírus. Especialistas afirmam que o hábito surgiu ainda no século XX, durante a gripe espanhola, e se consolidou na epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), em 2003. Os japoneses seguiam as recomendações científicas e o uso se tornou parte da cultura da região. Há ainda quem use apenas quando se está doente, pois muitos consideram falta de educação tossir ou espirrar sem proteção.