Manaus – A saúde mental fragilizada está diretamente ligada aos casos de suicídio registrados nos últimos meses na ponte Phelippe Daou, que liga Manaus/Iranduba/Manacapuru/Novo Airão. Especialistas de psicologia afirmam que o assunto é pouco abordado pela sociedade pelo impacto causado as pessoas envolvidas neste tipo de tema, considerado um tabu.
O subcomandante da 8ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom), capitão Francisco Carpegiane Veras de Andrade, afirma, que por semana, seis pessoas tentam tirar a própria vida na famosa “ponte Sob o rio Negro”.
Sinalização
A psicóloga Naradja Varela afirma que ela e outros profissionais estão organizando uma atividade para colocação de placas, como as da ponte Newton Navarro em Natal (RN), onde as pessoas poderão ter acesso aos números de órgãos da Secretaria de Segurança Pública do Amazona (SSP-AM), saúde e prevenção do suicídio.
“Estamos aguardando uma reunião com o órgão que administra a ponte. O que precisa ser feito na Ponte Phelippe Daou como medida de prevenção em curto prazo é o monitoramento dela por câmeras, nas áreas onde há um número considerável de tentativas ou suicídios consumados e uma equipe de polícias com algum treinamento para o acolhimento e intervenção. Sabemos que as equipes que ficam na cabeceira da ponte já vêm realizando esse trabalho, mas o efetivo não é suficiente e por se tratar de um assunto ainda tabu, o próprio poder público ainda não sabe como lidar com esse tipo de demanda”, explica a psicóloga.
Ione Moreno
Depressão, ansiedade…
Para o psicólogo Fernando Júnior, do Instituto Mental Soma e autor do projeto “Desenvolvendo Atitudes Positivas para o Cotidiano”, a maioria dos casos de suicídio costumam estar associados a problemas de saúde mental (diagnosticados ou não), como depressão, ansiedade e bipolaridade, o que torna importante a prevenção.
“Por trás do comportamento suicida há uma combinação de fatores biológicos, emocionais, socioculturais, filosóficos e até religiosos que, embaralhados, culminam numa manifestação exacerbada contra si mesmo. Para decifrá-los, os estudiosos recorrem à ‘autópsia psicológica’, um procedimento que tem por finalidade reconstruir a biografia da pessoa falecida, por meio, de entrevistas e, assim, delinear as características psicossociais que a levaram à morte violenta”.“
Fernando Júnior, Psicólogo
De acordo com o especialista, podem existir causas imediatas como perda do emprego, fracasso amoroso, morte de um ente querido ou falência financeira. São fatores que agem como empurrão para o suicídio. “A análise das características psicossociais do indivíduo, revela os motivos que, ao longo da vida, o auxiliaram a estruturar o comportamento suicida. Pode mostrar as razões para morrer que estavam enraizadas no estilo de vida e na personalidade. Na Psicologia Positiva, desenvolvemos um tratamento, para ajudar as pessoas que passam por esse tipo de situação, que envolve ações, que fortalecem a inteligência emocional do paciente”, disse o psicólogo Fernando Júnior.
Diagnóstico
Fernando Júnior explica que é feito um diagnóstico da situação, depois inicia o acompanhamento psicoterapêutico, que a família do paciente também participa. “É realizado aplicação de testes que medem as virtudes. O paciente é estimulado a fazer a prática de uma atividade desportiva para ajudá-lo na depressão, com a orientação de um profissional da área da Educação Física, e também durante o tratamento é desenvolvido técnicas específicas, que irão ajudar a pessoa a colocar no cotidiano as ações positivas”, comenta o psicólogo.
Caso de adolescente
Ione Moreno
O agente de portaria Vagner Rodrigues, que trabalha na portaria da ponte Phelippe Daou afirma que quase todo dia ocorrem tentativas de suicídio no local. “Quarta-feira (29), no meu último plantão, por volta das 18h15 fomos acionados por duas senhoras que falaram que existia uma moça, de 16 anos, querendo se jogar. Ela não pulou, pois um rapaz a puxou. A menina já estava na grade para pular da ponte”, disse Rodrigues, que ressaltou ao conversar com a jovem a mesma confessou que tinha ido ao local para se matar. Segundo ele, a adolescente é moradora do bairro Redenção, na Zona Centro-Oeste de Manaus. Ela não falou o motivo para os trabalhadores do local.
Capitão Carpegiane Andrade
Ione Moreno
Tem dias que nós atendemos três pessoas, existem dias que não existe atendimento, mas em média temos o registro de cinco a seis casos de tentativa de suicídio na Ponte Phelippe Daou“
Capitão Carpegiane Andrade, Subcomandante da 8ª Cicom