Um estudo publicado na revista Neurology mostrou que pessoas que consomem maior quantidade de alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, batatas fritas industrializadas e biscoitos, podem ter maior risco de desenvolver demência em comparação com aquelas que consomem baixa quantidade.
Os alimentos ultraprocessados têm baixo valor nutricional, são ricos em açúcar, gordura e sal, e têm poucas fibras e proteínas. Além dos produtos citados, pertencem a esse grupo sorvete, salsicha, iogurte, ketchup, frango frito, feijão, guacamole e maionese industrializados, tomate enlatado, salgadinhos em geral, pães embalados e cereais aromatizados, por exemplo.
“Os alimentos ultraprocessados são convenientes e saborosos, mas diminuem a qualidade da dieta de uma pessoa”, disse o autor do estudo, Huiping Li, em comunicado.
E complementou: “Esses alimentos também podem conter aditivos alimentares ou moléculas de embalagens produzidas durante o aquecimento que demonstraram em outros estudos ter efeitos negativos nas habilidades de pensamento e memória. Nossa pesquisa não apenas descobriu que os alimentos ultraprocessados estão associados a um risco maior de demência, mas também que substituí-los por opções saudáveis pode diminuir o risco da síndrome”.
Os cientistas demonstraram que substituir 10% dos alimentos ultraprocessados por não processados ou minimamente processados, como frutas frescas, vegetais, legumes, leite e carne, diminui em 19% o risco de apresentar quadros de demência.
“É encorajador saber que pequenas e gerenciáveis mudanças na dieta podem fazer a diferença no risco de demência de uma pessoa”, informa Li.
Metodologia do estudo
Os pesquisadores escolheram 72.083 pessoas de um banco de dados de saúde do Reino Unido, conhecido como UK Biobank, com 55 anos ou mais e que não apresentavam sinais de demência. Os pacientes foram acompanhados por cerca de dez anos e, no fim do estudo, 518 deles foram diagnosticados com a síndrome.
Os voluntários preenchiam ao menos dois questionários sobre o que haviam comido e bebido no dia anterior, para que os cientistas pudessem mensurar a quantidade de alimentos ultraprocessados que tinham sido ingeridos. A conta era feita diariamente com base no peso, em gramas, desses produtos, comparado com a porcentagem de outros alimentos.
Após a análise primária, os participantes foram separados em grupos iguais, organizados de acordo com o menor percentual de consumo de ultraprocessados ao maior. As equipes com menor percentual consumiram cerca de 225 gramas desses alimentos por dia, já aquelas com níveis mais altos ingeriram cerca de 814 gramas.
Os produtos que mais contribuíram para a alta ingestão de ultraprocessados foram bebidas, produtos açucarados e lácteos.
Resultados
No grupo que menos consumiu ultraprocessados, 105 das 18.021 pessoas desenvolveram demência. Já entre aquelas que mantiveram a dieta com 814 gramas, 150 das 18.021 pessoas tiveram a síndrome, um aumento de cerca de 43%.
Após um ajuste por idade, sexo, histórico familiar de demência, doenças cardíacas e outras influências que podem afetar o risco de desenvolver demência, o estudo descobriu que, a cada aumento de 10% na ingestão diária de ultraprocessados, o risco de desenvolver a síndrome sobe 25%.
“Embora a pesquisa nutricional tenha começado a se concentrar no processamento de alimentos, o desafio é categorizar esses alimentos como não processados, minimamente processados, processados e ultraprocessados. Por exemplo, alimentos como sopa seriam classificados de forma diferente se enlatados ou caseiros”, disse a autora de um editorial para o estudo, Maura E. Walker, em comunicado.
E acrescentou: “Além disso, o nível de processamento nem sempre está alinhado com a qualidade da dieta. Hambúrgueres à base de plantas que se qualificam como de alta qualidade também podem ser ultraprocessados. À medida que pretendemos entender melhor as complexidades da ingestão alimentar, também devemos considerar que podem ser necessárias mais avaliações dietéticas de alta qualidade”.
O estudo não prova de forma integral que alimentos ultraprocessados causam demência, mas mostra uma associação. Os testes tiveram a limitação de determinar os casos da síndrome por meio de registros hospitalares e de óbitos, podendo, possivelmente, ter negligenciado os casos mais leves, que são notificados nos cuidados primários.