Em meio ao crescimento urbano e industrial de Manaus, duas iniciativas — uma pública e outra privada — têm se destacado como símbolos de responsabilidade ambiental e compromisso com a qualidade de vida: a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) da Honda, no Distrito Industrial, e a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Raiz, na Zona Sul da capital.
Essas estruturas desempenham um papel essencial: tratar a água utilizada antes que ela retorne ao meio ambiente, garantindo que os efluentes estejam dentro dos padrões exigidos pela legislação ambiental.
A necessidade é urgente. Segundo o Ranking do Saneamento 2025, divulgado pelo Instituto Trata Brasil, Manaus figura entre as 20 cidades com os piores índices de saneamento básico do país. O reflexo está nos igarapés que cortam a cidade — entre janeiro e julho deste ano, mais de 2,4 mil toneladas de lixo foram retiradas dos cursos d’água pela prefeitura.
Garantir que a água devolvida à natureza esteja limpa e segura é um desafio que começa a ganhar novos aliados.
ETE Raiz: uma nova fase para o Igarapé do 40
Na Zona Sul, o bairro Raiz recebeu a primeira etapa da ETE Raiz, inaugurada pela Prefeitura de Manaus em parceria com a concessionária Águas de Manaus e o Governo do Estado. A estação tem capacidade para tratar mais de 230 milhões de litros de esgoto por mês, beneficiando 50 mil moradores e contribuindo diretamente para a recuperação do Igarapé do 40, um dos mais importantes da cidade.
Com 9,6 mil m² de área, a ETE Raiz é uma das maiores da região Norte. Além de gerar empregos locais, a obra deve estar totalmente concluída até 2027.
“Essa é uma obra que não se vê, mas que transforma vidas. Tem impacto direto na saúde, no desenvolvimento humano e na valorização dos bairros”, destacou o governador Wilson Lima durante a inauguração.
Nesta fase inicial, a estação atende os bairros Raiz, Petrópolis, Cachoeirinha e São Francisco, todos integrados ao programa Prosamim+, executado pela UGPE.
De acordo com o doutor em físico-química Sérgio Duvoisin, projetos como esse são vitais para preservar a biodiversidade amazônica e garantir o uso responsável da água.
“Se recebemos uma água de boa qualidade, devemos devolvê-la aos igarapés da mesma forma. É uma questão de consciência ambiental”, afirma.
ETE Honda: indústria e meio ambiente caminhando juntos
Na área industrial da capital, a Honda também dá exemplo de sustentabilidade com a maior Estação de Tratamento de Efluentes da empresa na América do Sul.
Com quase 2 mil m², a ETE da fábrica trata diariamente milhares de metros cúbicos de resíduos industriais e biológicos, devolvendo ao meio ambiente uma água com 98% de pureza — bem acima dos 70% exigidos pelo Conama.
Segundo Walter Almeida, supervisor de meio ambiente e controle de energia da Honda, a eficiência do sistema também permite reaproveitar parte da água em processos internos.
“Garantimos que o efluente volte à natureza em forma de água tratada e ainda reutilizamos parte dentro da própria fábrica”, explica.
A iniciativa faz parte de um conjunto de ações voltadas à redução dos impactos ambientais, que inclui o reaproveitamento de resíduos metálicos e o uso de matérias-primas mais sustentáveis.
“Seguimos rigorosamente as condicionantes das nossas licenças operacionais e prestamos contas ao Estado. A estação opera dentro da capacidade e cumpre todas as regulamentações”, completa Walter.
A conscientização também chega à comunidade. Maria Alencar, moradora próxima ao Distrito Industrial, conta que ficou surpresa ao saber que a água devolvida pela empresa passa por um processo completo de tratamento.
“A gente pensa que fábrica só polui. Saber que tratam a água e devolvem limpa muda a forma como vemos a indústria. Se todas fizessem isso, nossos igarapés estariam bem melhores”, diz.
Como funciona uma Estação de Tratamento de Efluentes
O tratamento de efluentes é composto por várias etapas que garantem a purificação da água antes de seu retorno à natureza:
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Gradeamento e desarenação: remoção de materiais grandes e partículas minerais, como plásticos e areia.
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Equalização: estabiliza a vazão e composição do esgoto, melhorando a eficiência das etapas seguintes.
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Coagulação e floculação: aplicação de produtos químicos para agrupar impurezas em flocos que podem ser facilmente separados.
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Decantação: separa os flocos sólidos do líquido por gravidade.
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Neutralização: corrige o pH, evitando impactos ao meio ambiente.
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Oxidação química: elimina substâncias tóxicas e compostos difíceis de degradar.
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Filtração: remove as últimas impurezas por meio de leitos filtrantes de areia ou carvão.
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Desinfecção: utiliza cloro, ozônio ou luz ultravioleta para eliminar vírus e bactérias.
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Reaproveitamento ou descarte: quando atinge os padrões exigidos, a água pode ser reutilizada ou devolvida de forma segura aos rios e igarapés.
Essas iniciativas mostram que é possível conciliar desenvolvimento econômico e preservação ambiental, transformando Manaus em um exemplo de sustentabilidade na Amazônia.










